Ainda faltam muitas....... mas esta do jornal Publico eu venho seguindo á uns anitos......mas ás vezes custa-me engolir algumas escolhas.Critérios. A musica está assim tão diferente??? Para melhor???.
As escolhas de Gonçalo Frota, João Bonifácio, Luís Maio, Mário Lopes, Nuno Pacheco, Pedro Rios e Vítor Belanciano
1. My Beautiful Dark Twisted Fantasy, de Kanye West
Universal
Uma verdadeira produção de Hollywood. Um casino de Las Vegas no meio do deserto da indústria discográfica. Uma espécie de "Do Fundo Do Coração" - o admirável filme de Coppola que causou a falência da sua produtora Zoetrope - que poderia levar Kanye ao fracasso. Mas que, afinal, o conduziu ao Olimpo. V. B.
2. Halcyon Digest, de Deerhunter
4AD; distri. Popstock
No meio do relativo marasmo em que o dito indie rock se meteu por conta própria, um disco como este surge como um pequeno milagre. Os Deerhunter desaceleraram e entregaram-se a uma suave modorra, uma extensão dos sonhos lisérgicos de Bradford Cox. Há aqui canções que parecem existir debaixo de água ("Helicopter"), monumentos que merecem entrar no cânone indie ("Desire lines"), inacreditáveis homenagens à história da música popular (ouçam "Revival" e imaginem Phil Spector a orquestrar barulho eléctrico) e mais, muito mais. P.R.
3. Before Today, de Ariel Pink
4AD; distri. Popstock
2010 foi, em boa medida, dele. O primeiro disco de estúdio de Ariel Pink é também o símbolo maior de uma geração que reencontrou o prazer nas memórias pop de uma infância fugidia, no apelo físico das cassetes e das VHS como fuga à omnipresença do digital. Foi-se o lo-fi dos registos anteriores, ficou mais exposto o artifício pop de Ariel, rapaz que sorve mil influências, algumas delas malditas (Hall & Oates, 10cc, música de elevador), para fazer espantosas canções. P.R.
4. I'm New Here, de Gil Scott-Heron
XL Recordings; distri. Popstock
Não estava esquecido, mas o seu regresso ao centro dos acontecimentos da cultura popular constituiu uma surpresa. A ressurreição de Gil Scott-Heron deve-se, em parte, a Richard Russell. Foi ele que percebeu que um retorno só faria sentido se mudasse (não se acomodando na prateleira da "consciência negra"). E é isso que se faz ouvir, uma arquitectura sónica que dá amplitude para aquela voz se afirmar, assente numa massa electrónica compacta, em sons vigorosos e em ambientes nocturnos. V.B.
5. Contra, de Vampire Weekend
XL Recordings; distri. Popstock
"Vampire Weekend" era um plano de intenções. Era uma obra inaugurada antes de estarem concluídos dos todos os acabamentos - a ponte que ligava Manhattan ao continente melódico africano e a outra que começava em Nova Iorque e acabava numa Salzburgo de outros tempos já estavam no sítio. Mas faltavam ainda as canções que dignificassem tal empreitada. E essas apareceram em "Contra", em dose cavalar, cada uma melhor do que a anterior. G.F.
6. Treats, de Sleigh Bells
Mom & Pop; distri. Sony Music
As melhores ideias são muitas vezes as mais simples e os Sleigh Bells de Alexis Krauss e Derek Miller são uma grande ideia. Uma guitarra ruidosa, com batida bombástica a distorcer o som que sai das colunas e sintetizadores a criarem um ambiente denso e eléctrico. Uma vocalista que tanto é MC desalinhada quanto sedutora com inocência de girl group. O duo nova-iorquino explodiu com estrondo em 2010. São uma nova jukebox, criada para ser ouvida, sem interferências, sobre a imensidão de ruído e de distracções que nos rodeia. M.L.
7. Do Amor e dos Dias, de Camané
Capitol; distri. EMI
Depois de "Sempre de Mim", Camané gravou outra obra-prima, um disco conceptual que parte da ideia do amor e dos múltiplos sentimentos que este desencadeia (paixão, ódio, ciúme, dúvida, vingança) para compor uma admirável teia de fragmentos poéticos e sonoros. A introspecção cedeu o lugar à representação, à arte maior do intérprete, a de ser verdadeiro fingindo. Para dar ao fado uma vida mais eterna. N.P.
8. Pilot Talk, de Curren$y
DD1732
Um rapper que brada sobre a erva que fuma, Ferraris e deboche não é propriamente novidade. Mas a pinta com que Curren$y debita cada sílaba e o extraordinário bom gosto dos produtores Ski Beatz fazem de "Pilot Talk" um disco único, em que trilhas cinemáticas sombrias convivem com beats inovadores, o funk lambe o jazz e linhas de piano fazem-se acompanhar de metais rumo ao épico. De longe o disco mais inventivo deste ano. J.B.
9. Magic Chairs, de Efterklang
4AD; distri. Popstock
Como bons representantes musicais do povo nórdico, estes dinamarqueses trazem consigo aquela tendência entre o feérico e o sonhador que se reconhece de imediato em gente como os Sigur Rós. Com a diferença de que aqui o som é depois passado pela central de tratamento que processa a sua transformação numa estética de origem inglesa, até raiar os Talk Talk, os Elbow e derivados. Música com pompa, ambiciosa, em crescimento. G.F.
10. Ali and Toumani, de Ali Farka Touré & Toumani Diabaté
Nonesusch; distri. Warner
O resultado do último encontro do guitarrista Ali Farka Touré, que faleceu em 2006, com o gigante da kora Toumani Diabaté foi editado apenas este ano, quatro anos depois de ser gravado. Música de excepção, feita do sublime diálogo de cordas entre os dois mestres, que aqui ligam diferentes tradições musicais do Norte e do Sul do Mali. Música que corre sem esforço, que aquieta. P.R.
11. A Sufi and a Killer, de Gonjasufi
Ninja Tune; distri. Symbiose
Cabe cá tudo. Cantilenas índias. Disparos de cowboys. Rasgões de rock psicadélico. Balanços de funk cósmico. Visões dos quatro cantos do mundo. Electrónica mastigada. Um hip-hop dormente. Um dub pedrado. Uma voz nasalada. E um professor de ioga transfigurado em cantor, que manobra um sem número de alusões destiladas por uma qualquer máquina do tempo. O futuro não passa por aqui. Está aqui. E o passado. E o presente. Tudo. V.B.
12. Good Things, de Aloe Blacc
Stones Throw; distri. Flur
Raras vezes um título foi tão certeiro: Aloe Blacc deixou o rap para se dedicar à soul mais clássica, aquela em que "soul" não é um género mas uma forma de vida. Pianos clássicos, guitarras com swing, metais em harmonia, cordas sumptuosas e melodias divinas num disco em que cada sílaba respira consciência política (desde Lou Bond que a soul não "pensava" tanto a sua cor). E pelo meio ainda anda lá "a" canção do ano: "I need a dollar". J.B.
13. Mare, de Julian Lynch
Olde English Spelling Bee; distri. Flur
O Julian Lynch anterior impedia as suas canções de respirarem, afogadas que estavam em produção pouco cuidada. O Julian Lynch de "Mare" incide luz sobre a sua criatividade - luz baixa e tremeluzente, mas luz que ilumina verdadeiramente. Dono de uma surpreendente voz musical, conjuga drones de raga oriental e guitarras sacadas ao psicadelismo de 1970. Cruza uma voz espectral com percussões para bailado antigo, embala-nos com metais nocturnos e embrulha tudo em texturas enquadradas na Brooklyn de onde saíram os Animal Collective. Uma discreta revelação. M.L.
14. ArchAndroid, de Janelle Monáe
Bad Boy; distri. Warner
É um álbum épico, mais de 70 minutos, com 18 temas, o que não é propriamente grande cartão de visita. Mas Janelle Monáe passa o teste com distinção, num disco ecléctico, de R&B futurista, funk nostálgico, pop barroca, jazz orquestral, rap psicadélico, cabaré om cinema negro em fundo ou folk pastoral. É um disco diverso, mas com uma sequência lógica e uma estrutura dramática bem definida. Janelle Monáe chegou, viu, venceu e vai ficar por muitos anos. V.B.
15. This is Happening, de LCD Soundsystem
DFA; distri. EMI Music Portugal
Ao terceiro álbum, James Murphy, continua a divertir-se. Não procura estímulos muito diferentes daqueles que já o haviam inspirado no passado - pop electrónica, rock alemão dos anos 70, funk ou disco - mas procurando dentro de si próprio um novo alento, como sempre, como se fosse o último. Mais uma vez, há uma gestão imparável do ritmo, do compasso nervoso, dos sintetizadores galopantes e de uma voz que vive da intensidade performativa. Tudo como se fosse a primeira vez. Outra vez. V.B.
16. The Lady Killer, de Cee Lo Green
Elektra; distri. Farol
Cee Lo Green é um sedutor clássico. Em "The Lady Killer", há espaço para sintetizadores entre Michael Jackson e Van Halen, mas a verdadeira face do álbum, com os metais e as orquestrações açucaradas, aproxima-o de históricos como Marvin Gaye, Bobby Womack ou Al Green. Com um "twist", porque há sempre algo a subverter o classicismo da obra - é esse o segredo do álbum. Basta-nos, de resto, pensar em "Fuck you", provavelmente a melhor canção de sempre sobre um coração ressabiado. M.L.
17. Lisbon, de The Walkmen
Bella Union; distri. Popstock
Numa hierarquia de bandas de guitarra românticas (no sentido Byronesco) cuja música representasse uma espécie de mal-estar, os Walkmen estariam no topo, talvez apenas um degrau abaixo dos National em complexidade musical, talvez um degrau acima em músculo e suor. Nos últimos três discos os rapazes afinaram um som vintage, como se o Dylan eléctrico só escrevesse canções de dor de corno. "Lisbon", o mais recente, é o mais directo, o mais sujo - e o mais belo. J.B.
18. Small Craft on a Milk Sea, de Brian Eno
Warp Records; distri. Symbiose
Brian Eno, um dos músicos mais influentes das últimas quatro décadas, lançou em colaboração com Jon Hopkins e Leo Abrahams um álbum que resume e "reactualiza" o seu corpo de obra, da delicada construção ambiental com o piano como guia melódico à arquitectura electrónica mais convulsiva, com guitarras atravessando um espaço sonoro denso e aventureiro. Não podia ter resultado melhor o primeiro encontro entre o génio Eno e a histórica editora Warp. M.L.
19. King of the Beach, de Wavves
Bella Union; distri. Nuevos Medios (capa na foto)
Nathan Williams, o mentor dos Wavves, era um dos nomes destacados do rock roufenho, directo, que tomou de assalto o universo indie. Com "King Of The Beach", ultrapassou o nicho. O "underground" assomou gloriosamente à superfície e Williams deu o seu grito pelo presente. "King Of The Beach" é sensação de "no future" recuperada por outra geração, noutro contexto. Sem política, sem sistema. Nathan aborrece-se de morte. Nathan junta harmonias vocais adolescentes à riffalhada trepidante e permite-se sonhar: "to take on the world would be something". M.L.
20. Cosmogramma, de Flying Lotus
Warp; distri. Symbiose
No terceiro álbum do projecto americano de Steve Ellison (Flying Lotus), há um fluxo contínuo de informação. Sons ambientais, ruídos obscuros, linhas de baixo jazzisticas, orquestrações, vozes, desvios súbitos e toques que parecem extraviados de jogos vídeo, numa colisão de partículas infinita, recompondo cenários conhecidos ou provocando embates inéditos. No centro, a imaginação transbordante de Flying Lotus. V.B.