19/10/2012

MANUEL ANTONIO PINA


Vive quase uma existência de gato, ou não fosse um apaixonado desta espécie - partilha com eles a casa há anos. Têm sido vários, alguns com direito a nomes pomposos, como Maria Adelaide ou Hugo Afonso Coelho Vaz, ou mais coloquiais como Luís ou Zé.

Manuel António Pina, poeta e jornalista - não necessariamente por esta ordem - é também admirador das culturas orientais. E até aí os gatos encaixam nos conceitos de vida: «São seres zen».
O título do seu primeiro livro de poesia, “Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma é Apenas um Pouco Tarde”, que foi publicado em 1974 tem sido lembrado nas redes sociais e em cartazes espalhados pelo Porto. É uma iniciativa POP para se criar uma versão nacional e actual do cartaz “keep calm and carry on” que, dizem na página que mantém no Facebook, contou com “o apoio e incentivo directo” de Manuel António Pina.

O cartaz original foi criado para ser afixado em Londres, caso houvesse invasão alemã durante a II Guerra Mundial. O cartaz português retoma o título de Pina e é uma homenagem ao poeta “pelas palavras que há muito tempo escreve”: “Não é o fim nem o princípio do mundo, calma é a apenas um pouco tarde” procura “de certa forma, sensibilizar, motivar e mobilizar as pessoas tal como o da situação original”, explicam no Facebook.

"Nestes tempos de tanta tristeza e aflições, o Manuel António Pina morreu. Vou sentir falta da sua honradez, da sua lucidez, da sua inteligência, do seu fino humor, do olhar presente com que sempre nos ouviu. Comprava o JN só para o ler", diz a pintora Graça Morais. "Hoje as crianças, os homens e as mulheres deste país podem chorar um grande poeta e um homem de bem. Eu perdi um grande amigo". 

 Manteve, no entanto, um hábito de jogo. Em determinados dias da semana, à noite - e até de madrugada - reúne-se com amigos para uma sessão de snooker num clube próximo da sua casa, na zona da Boavista. Um deles é Álvaro Magalhães, outro escritor, autor de Uma História Natural do Futebol. Em comum, tem com ele um 'sportinguismo' empedernido. «O futebol não tem interesse só pelo jogo. Quando o Sporting perde não tem interesse nenhum», diz, para assumir a loucura clubística.

Budismo e costelas partidas.A atracção pela cultura oriental levou-o a outras andanças. Dedicou-se, durante quase uma década, ao viet-vo-dao, uma arte marcial vietnamita, numa academia portuense. Mas tudo acabou num dia mais intenso. «Num combate dá-se e leva-se muitos socos e pontapés. E eu levei muito e não me apercebi».

 Vivia no Porto e foi jornalista do "Jornal de Notícias" durante três décadas, sendo repórter, redator, editor e chefe de Redação, mantendo até há poucos meses, na última página do JN, a crónica, "Por Outras Palavras",e foi ainda cronista da "Notícias Magazine".

A sua poesia tinha sentido de humor – o que é raro na poesia portuguesa - e mantinha vivo o diálogo com Fernando Pessoa. Na literatura infantil, Pina mostrava também essa tradição do “non sense”, da brincadeira sem deixar de lado a complexidade.

Era um cinéfilo e sabia cenas de alguns filmes de cor. Numa pequena biografia publicada há alguns anos na imprensa francesa dizia-se que gostava de “cultivar a imagem de poeta de ‘série B’ – para usar uma metáfora cinematográfica – neutralizando assim a tentação de fazer ‘a grande poesia’ fruto de auto-ironia e de uma dimensão manifestamente lúdica dos seus textos”.
 

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