09/08/2009

Autores mais influentes do séc. XX

ITALO CALVINO (1923-1985)
Narrador de fina estirpe, Italo Calvino nunca se fixou num género ou num estilo de escrita. Profundo conhecedor dos clássicos (um termo sobre o qual teorizou), foi cruzando ao longo da sua obra uma abordagem realista (mais presente nos seus primeiros livros) com aproximações ao fantástico (trilogia Os Nossos Antepassados), às estratégias pós-modernistas (Cosmicómicas; Se Numa Noite de Inverno umViajante) ou aos constrangimentos lúdicos do grupo OuLiPo. As suas Seis Propostas para o PróximoMilénio, obra póstuma, oferecema quem as lê um belíssimo testamento artístico e enumeram as virtudes que a Literatura deve preservar: leveza, rapidez, exactidão, visibilidade,multiplicidade e consistência. O que nos ensinou: a paixão pela linguagem e pelos artifícios literários.
FRANZ KAFKA (1883-1924)
Kafkiano.De todos os adjectivos associados a nomes de escritores,é este o mais nítido (mesmo quem não leuKafka sabe o que quer dizer) e o mais universal. As histórias kafkianas estão em todo o lado:em Praga, emLisboa, em Bogotá ou no Bangladesh. Isto é, onde quer que existam homens, leis,níveis hierárquicos, lógicas perversas, burocracias. “A Alemanha declarou guerra à Rússia. À tarde , piscina”,escreveu noseu Diário, em1914.Diz a lenda que não conseguiu acabar de ler o romance O Processo aos seus amigos porque tinha ataques de riso. Foi talvez este distanciamento em relação às coisas que lhe permitiu escreve algumas das obras mais perturbantes da literatura ocidental: contos, parábolas, fragmentos, romances, uma novela (Metamorfose), textos que nos rebentam nas mãos com uma angustiante estranheza. A sua influência é tão grande que até funciona retrospectivamente, como assinalou Borges no célebre ensaio Kafka e os seus precursores.O que nos ensinou: o absurdo da tragédia humana, tão absurdo que lhe dava (a ele, Kafka) vontade de rir.
FERNANDO PESSOA (1888-1935)
Eu sou um outro”,escreveu Rimbaud. “Contenho multidões”, exclamava Whitman. FernandoPessoa fundiu as duas ideias: foi outros,muitos outros,uma multidão de outros.O poeta secreto, empregado de escritório com uma arca de textos quase infinita em casa,modernista da geração de Orpheu, não se limitou a inventar os heterónimos; antes criou para si mesmo uma literatura inteira.Talvez por isso,houve poucos escritores portugueses que se tenhamabrigado à sua sombra, que é dizer também a sombra deÁlvaro de Campos, Alberto Caeiro ou Ricardo Reis. Pormuito que paire sobre nós,dominadora,aobr ade Pessoa é tão excepcional, tão fulgurantemente única, que não deixou discípulos ou epígonos. No estrangeiro, tornou-se entretanto o epítome das letras lusas e da nossa problemática identidade, bem como do nosso imobilismo reflexivo e melancólico, tão bem fixado na essa obra-prima absoluta que é o inacabado(e inacabável) LivrodoDesassossego, deBernardoSoares. O que nos ensinou: o milagre da heteronímia (através da qual antecipou as fragmentações e desdobramentos da pós-modernidade.
SALMAN RUSHDIE (1947-)
A influência do autor de Versículos Satânicos é fácil de medir. Basta ver o estado apopléctico em que deixou os fundamentalistas islâmicos ao publicar o seu romance “blasfemo”, em1988.A fatwa (condenação à morte) lançada contra ele pelo Ayatollah Khomeini, então líder supremo do Irão, forçou-o a uma espécie de clandestinidade durante dez anos, sem que Rushdie tenha em qualquer momento cedido ao terror psicológico. Consciente do poder da literatura, e dos potenciais perigos que acarreta, nunca deixou de escrever. O romance Os Filhos da Meia-Noite (1981), sobre a independência da Índia, foi considerado o Booker dos Bookers, em1993. O que nos ensinou: a não tolerar a intolerância religiosa.
ENID BLYTON (1897-1968)
Foi uma espécie de J. K. Rowling da primeirametade do século XX,mas muito mais prolixa e menos talentosa. Em40 anos publicou mais de 800 títulos, divididos em16 séries que acompanhavam as várias idades do seu público infanto-juvenil: desde Noddy, o taxista do País dos Brinquedos (para os mais pequenos, hoje viciados na versão televisiva), até às aventuras dos Cinco e dos Sete (clássicos da leitura na pré-adolescência). Edições recentes têm suavizado o racismo e sexismo dos textos originais de Blyton, uma autora que continua, apesar do estilo conservador e antiquado, a vender a rodos (cerca de 10milhões de exemplares por ano). O que nos ensinou: o segredo infalível para chegar ao coração das crianças e adolescentes. WILLIAM FAULKNER (1897-1962 ) Um dos gigantes da literatura norte-americana, autor de romances poderosos (O Som e a Fúria; Luz em Agosto; Absalão, Absalão!), Nobel da Literatura em1949 e vencedor de dois Pulitzer e dois National BookAwards. Embora fiel às tradições literárias sulistas (nasceu no estado do Mississipi), Faulkner soube cruzá-las com as mais variadas técnicas modernas, entre as quais o stream of consciousness. No romance Palmeiras Selvagens, uma das personagens diz «Entre a dor e o nada, escolho a dor», talvez amais glosada das suas frases, nomeadamente por Jean- LucGodard no filme O Acossado, como fugitivo Belmondo a optar, em vez da dor, pelo nada. Em Portugal, o mais assumido discípulo é António Lobo Antunes, que não esconde a influência que o mestre exerceu no seu estilo de escrita. José Luís Peixoto foi ainda mais longe e tem o nome do Condado dos livros de Faulkner - Yoknapatawpha, tatuado num dos braços. O que nos ensinou: a importancia da polifonia na construção romanesca

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