ITALO CALVINO
(1923-1985)
Narrador de fina estirpe, Italo Calvino nunca se fixou num género ou num estilo
de escrita. Profundo conhecedor dos clássicos (um termo sobre o qual teorizou),
foi cruzando ao longo da sua obra uma abordagem realista (mais presente nos seus primeiros livros) com aproximações ao fantástico (trilogia Os Nossos
Antepassados), às estratégias pós-modernistas (Cosmicómicas; Se Numa Noite de Inverno umViajante) ou aos constrangimentos lúdicos do grupo OuLiPo.
As suas Seis Propostas para o PróximoMilénio, obra póstuma, oferecema quem as lê um belíssimo testamento artístico e enumeram as virtudes que a Literatura
deve preservar: leveza, rapidez, exactidão,
visibilidade,multiplicidade e consistência. O que nos ensinou: a paixão pela linguagem e pelos
artifícios literários.
FRANZ KAFKA
(1883-1924)
Kafkiano.De todos os adjectivos associados a nomes de escritores,é este o mais nítido (mesmo quem não leuKafka sabe o que quer dizer) e o mais universal.
As histórias kafkianas estão em todo o lado:em Praga, emLisboa, em Bogotá ou no Bangladesh. Isto é, onde quer que existam homens, leis,níveis hierárquicos,
lógicas perversas, burocracias. “A Alemanha declarou guerra à Rússia. À tarde , piscina”,escreveu noseu Diário, em1914.Diz a lenda que não conseguiu
acabar de ler o romance O Processo aos seus amigos porque tinha ataques de riso.
Foi talvez este distanciamento em relação às coisas que lhe permitiu
escreve algumas das obras mais perturbantes da literatura ocidental: contos, parábolas, fragmentos, romances, uma novela (Metamorfose), textos que
nos rebentam nas mãos com uma angustiante estranheza. A sua influência é tão grande que até funciona retrospectivamente, como assinalou Borges no célebre ensaio Kafka e os seus precursores.O que nos ensinou: o absurdo da tragédia humana, tão absurdo que lhe dava (a ele, Kafka) vontade de rir.
FERNANDO
PESSOA
(1888-1935)
Eu sou um outro”,escreveu Rimbaud. “Contenho multidões”, exclamava Whitman. FernandoPessoa fundiu as duas ideias: foi outros,muitos outros,uma multidão
de outros.O poeta secreto, empregado de escritório com uma arca de textos quase infinita em casa,modernista da geração de Orpheu, não se limitou a inventar
os heterónimos; antes criou para si mesmo uma literatura
inteira.Talvez por isso,houve poucos escritores portugueses que se tenhamabrigado à sua sombra, que é dizer também a sombra deÁlvaro de Campos, Alberto Caeiro ou Ricardo Reis. Pormuito que paire sobre nós,dominadora,aobr ade Pessoa é tão excepcional,
tão fulgurantemente única, que não deixou discípulos ou epígonos. No estrangeiro, tornou-se entretanto o epítome das letras lusas e da nossa problemática
identidade, bem como do nosso imobilismo reflexivo e melancólico,
tão bem fixado na essa obra-prima absoluta que é o inacabado(e inacabável) LivrodoDesassossego, deBernardoSoares.
O que nos ensinou: o milagre da heteronímia (através
da qual antecipou as fragmentações e desdobramentos da pós-modernidade.
SALMAN RUSHDIE
(1947-)
A influência do autor de Versículos Satânicos é fácil de medir. Basta ver o estado apopléctico em que deixou os fundamentalistas islâmicos ao publicar o seu romance “blasfemo”, em1988.A fatwa (condenação à morte) lançada contra ele pelo Ayatollah Khomeini, então líder supremo do Irão, forçou-o a uma espécie de clandestinidade durante dez anos, sem que Rushdie tenha em qualquer momento cedido ao terror psicológico. Consciente do poder da literatura, e dos potenciais perigos que acarreta, nunca deixou de escrever. O romance Os Filhos da Meia-Noite (1981), sobre a independência da Índia, foi considerado o Booker dos Bookers, em1993.
O que nos ensinou: a não tolerar a intolerância religiosa.
ENID BLYTON
(1897-1968)
Foi uma espécie de J. K. Rowling da primeirametade
do século XX,mas muito mais prolixa e menos talentosa. Em40
anos publicou mais de 800 títulos, divididos
em16 séries que acompanhavam as várias idades
do seu público infanto-juvenil: desde Noddy, o taxista
do País dos Brinquedos (para os mais pequenos,
hoje viciados na versão televisiva), até às aventuras
dos Cinco e dos Sete (clássicos da leitura na pré-adolescência).
Edições recentes têm suavizado o racismo
e sexismo dos textos originais de Blyton, uma autora
que continua, apesar do estilo conservador
e antiquado, a vender a rodos (cerca de
10milhões de exemplares por ano).
O que nos ensinou: o segredo infalível para
chegar ao coração das crianças e adolescentes.
WILLIAM FAULKNER
(1897-1962 )
Um dos gigantes da literatura norte-americana, autor de romances poderosos (O Som e a Fúria;
Luz em Agosto; Absalão, Absalão!), Nobel da Literatura em1949 e vencedor de dois Pulitzer e
dois National BookAwards. Embora fiel às tradições
literárias sulistas (nasceu no estado do Mississipi), Faulkner soube cruzá-las com as mais variadas técnicas modernas, entre as quais o stream of consciousness. No romance Palmeiras
Selvagens, uma das personagens diz «Entre a dor e o nada, escolho a dor», talvez amais glosada
das suas frases, nomeadamente por Jean- LucGodard no filme O Acossado, como fugitivo
Belmondo a optar, em vez da dor, pelo nada. Em Portugal, o mais assumido discípulo é António
Lobo Antunes, que não esconde a influência que o mestre exerceu no seu estilo de escrita. José
Luís Peixoto foi ainda mais longe e tem o nome do Condado dos livros de Faulkner - Yoknapatawpha, tatuado num dos braços. O que nos ensinou: a importancia da polifonia na construção romanesca
Sem comentários:
Enviar um comentário