16/06/2012

PRIMAVERA SOUND 2012 PORTO


 A imensa procura pelos brindes
Excelente ambiente, magnífico espaço e um público internacional garantem um balanço muito positivo para o 1.º Optimus Primavera Sound no Porto. Nem a chuva de sábado conseguiu estragar a festa.

Nem a chuva de sábado abalou a ideia de que a 1ª edição do Optimus Primavera Sound, no Porto, valeu a pena. Pelo ambiente, magnífico, com a maior audiência estrangeira num festival português (50% da totalidade dos espectadores diários eram provenientes de 40 países) a dar um colorido descontraído ao recinto. Pelo lugar, o Parque da Cidade, aprovado por todos, público e bandas. 

Pela aposta num conceito onde, mais do que a saturação (de meios, de marcas, de estímulos), importa a relação transparente com o público. Pelo número de espectadores (cerca de 25 mil por dia), que superou as expectativas iniciais. E, claro, pela música.

Se na primeira noite registaram grandes concertos, sexta e sábado ouve-os em abundância. Pela diversidade e número de propostas, este é o tipo de festival onde cada um terá a sua própria narrativa do sucedido. Dificilmente se encontrará um número alargado de pessoas que chegue a algum consenso sobre os melhores momentos. Sinal de cartaz equilibrado.

Com quatro palcos a funcionar, ou se optava por ver apenas o que já se conhecia, ou deambulava-se pelo espaço, vendo alguns concertos na íntegra, mas na maior parte das vezes parcialmente. Escolhemos a segunda hipótese. Na sexta, confessamos, o único que vimos do início ao fim foi o dos Beach House. Pensávamos ficar só até meio, para vermos ainda os The Walkmen, mas não conseguimos, pois foi brilhante o concerto do duo americano, agora coadjuvado por um baterista. 

O responsável é Bloom, o novo álbum, onde aperfeiçoam a sua linguagem, colocando-a ao serviço de canções de intensidade emocional. Ao vivo, impõem agora um tipo de ambiente mais saturado, com voz, teclados, guitarra e elementos rítmicos mais puxados para cima. Mesmo quando as canções pediam algum recato, a assistência mostrava saber as letras de cor. Foi emocionante, com Victoria Legrand esticando ao limite os vocais, enquanto a guitarra ecoava uma e outra vez pela tenda.

Vários festivais num só
Este foi um festival com vários festivais. Quem gosta de sentido de espectáculo, com ironia e barroquismo, não se deve ter sentido desiludido com o canadiano Rufus Wainwright e os americanos Flaming Lips. 

O primeiro veio apresentar o novo álbum, Out Of The Game, mas foi quando puxou dos galões do passado que entusiasmou. Teatral, como sempre, dedicou Greek song à Grécia, sentou-se ao piano, atacou uma versão de Hallelujah e até foi buscar uma canção do pai, o cantor folk Loudon Wainwright. Apesar de já não ter a mesma vitalidade, ainda é capaz de conquistar uma plateia que parecia não ser sua.

 No primeiro dia não faltou o sol

Público é o que não falta ao excêntrico Wayne Coyne e aos seus Flaming Lips, que apresentaram um espectáculo aparatoso, com bolas de espelho, jovens eufóricas de ambos os lados do palco, confetti e o habitual número do cantor a circular pela cabeça dos espectadores dentro de uma bolha. A música tanto vai do rock psicadélico com requintes opulentos ao lirismo mais sôfrego, resultando numa prestação desequilibrada, mas que satisfez os admiradores mais empenhados.

Quase nos antípodas estão os que se revêem numa certa pureza rock, temperada por irónica rebeldia, como a dos americanos Black Lips e Thee Oh Sees, que tocaram para um público entusiasmado com o seu rock nervoso.

Para visões mais clássicas do rock alternativo, eis os históricos Yo La Tengo, que têm tanto de experimentação como de inteligibilidade, e os Wilco, com um espectáculo exigente, entre o apelo mais popular e a divagação à beira do improviso, com a música de raiz country ou folk a encontrar-se com rock.

Uma das supresas veio dos The Chairlift, em parte pela presença contagiante da cantora Caroline Polachek. Com uma sonoridade pop que não tem receio de procurar ângulos inusitados, como se comprova pelo óptimo álbum Something, os nova-iorquinos são ao vivo ainda mais vibrantes do que em disco. A sua música tem tanto de acessibilidade como de estranheza, num fluxo contínuo de energia.

Dançar de madrugada
E o ambiente no recinto? Magnífico. Às vezes toda a gente se senta na relva, como aconteceu no concerto dos Tennis, outras vezes, madrugada fora, dança-se ao som dos franceses M83, que vão da massa ruidosa do rock ao frenesim electrónico.

No sábado, a chuva apareceu com intensidade e os Death Cab For Cutie não actuaram. Atitude diferente tiveram os noruegueses Kings Of Convenience. A chuva já tinha acalmado, mas o som de um outro palco teimava em intrometer-se na sua música.

 Em vez de virarem costas às contrariedades, assumiram-nas. E o público rendeu-se. Inicialmente, com a multidão quase silenciosa a ouvir a sua filigrana folk. 
Depois vieram mais três músicos a interagir com a assistência, e esta a cantar as letras de cor. Foi bonito.

Já no palco ATP, os Dirty Three propunham uma catarse para violino, bateria e baixo, com Warren Ellis na habitual performance de fisicalidade caótica. No mesmo palco, surgiram os Forest Swords e os Demdike Stare, com a electrónica futurista do Reino Unido. E soube bem. Em particular os primeiros, com um baixista e um programador de sons em sintonia numa música sombria pós-burial.

Indefiníveis são os The Weeknd do canadiano Abel Tesfaye. A música parece enquadrável algures entre o R&B, o hip-hop e a electrónica. No entanto, não o é. Em disco, parecem um grupo de laboratório; em palco, apresentam um dinamismo surpreendente, com a voz em falsete de Abel sempre entrecortada por guitarras ruidosas e um balanço poderoso. Nem nós, que gostamos muito, esperávamos tanto.

A maior desilusão terão sido os Saint Etienne, os Spiritualized, embora tenham a enorme atenuante de terem actuado quando a chuva era intensa deram um bom concerto.

Sem grandes artefactos cénicos e com uma presença contida mas autêntica, os The xx voltaram a conquistar. E não optaram pelo mais fácil. Apresentaram algumas das canções do álbum Coexist, a lançar em Setembro, e passaram em revista o seu único álbum, com todas as canções a serem reconhecidas ao primeiro acorde.

 É esse efeito de reconhecimento - no som minimal mas penetrante e na postura introvertida mas verdadeira - que cria pontes com o público, dando origem a um clima especial nos concertos.

No dia seguinte, Domingo, na Casa da Música e no Hard Club, já em fim de festa, ainda houve concertos.

 E para o ano, garantiu a organização, haverá mais. Ainda bem, porque foi um excelente festival. Valeu mesmo a pena. 

Não custa acreditar que, no próximo ano, o desafio seja crescer de forma sustentada, sem desvirtuar o equilíbrio que se sentiu nesta 1.ª edição.

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