11/02/2012

KOEN AUGUSTIJNEN - BALLETS C de la B


Nos últimos anos, a cabeça de Koen Augustijnen (Mechelen, 1967) passou demasiado tempo do lado de lá, a construir mentalmente o não-lugar onde a vida continua depois da morte. Com a mestria da companhia les ballets C de la B, fundada em 1984 (em Ghent-Bélgica) por Alain Platel, “Au-Delà, é a peça do bailarino e coreógrafo dos Ballets C de la B, como ele imagina esse não-lugar, e também uma maneira de se colocar perante o seu próprio fim.

Não é demasiado novo para isso: "Um bailarino de 44 anos é um bailarino velho. Esta peça também foi uma maneira de descobrir o que é que ainda posso fazer com este corpo que está a envelhecer. Tirando um dos bailarinos [o coreano Gil Ho-Yang], todos temos mais de 40 anos."

Também é por isso que o corpo (o mesmo corpo que séculos e séculos de liturgia e de iconografia cristã reduziram a pó) é a peça central deste lugar post mortem. Nesse lugar novo, assistimos às diligências de um corpo que tenta perceber se ainda tem carne, se ainda tem ossos, se ainda cá está. Como se, no limite, a nova peça dos Ballets C de la B quisesse responder: como é que se dança, quando já não há corpo?

"Recentemente perdi a minha avó e o meu pai [o pianista de jazz Walter Augustijnen], e comecei a ver mais o fim das coisas, a imaginar como seria. Às vezes (eu sei que é estranho) sinto a presença das pessoas que perdi. Isso deu-me a ideia de situar esta peça no lado de lá."

Temas como a perda, a morte e a aceitação do fim dominaram todo o processo de improvisação com os bailarinos, e antes disso as leituras prévias do coreógrafo: "Quando li o Livro Tibetano dos Mortos,fiquei muito impressionado com a ideia de haver uma sala de espera, um espaço "entre" em que podes olhar para o teu passado, mas ainda não sabes qual é o teu futuro. Como se por momentos não tivesses chão debaixo dos pés."

Leu muito sobre experiências de quase morte relatadas por pessoas que "voltaram". Nesses relatos, diz, são muito frequentes as referências ao túnel, ou ao filme da vida em flashback, mas também há experiências de felicidade extrema, como se ali, tão perto da morte, tivesse começado uma nova vida. "Muitas pessoas dizem que gostavam de viver essa experiência outra vez. Para mim, é muito difícil aceitar que não continuamos. Esta peça é a minha luta com a ideia de fim. Não é uma luta perdida", sublinha o coreógrafo.

A banda sonora inclui, além de uma peça do próprio Walter Augustijnen (o pai de Koen), obras do seu pianista de jazz favorito, Keith Jarrett. "Cresci a ouvir esta música, que para mim tem uma qualidade transcendental: tanto é muito pequena e doce, como se torna absurdamente poderosa.

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