10/12/2010

MARIO VARGAS LlOSA

Nunca mais teremos que responder à maldita pergunta porque é que não deram o Nobel da Literatura a Vargas Llosa.

A literatura como "reduto contra o preconceito, o racismo e o nacionalismo intolerante, já que em toda a grande literatura, os homens e mulheres de todo o mundo são iguais. É mais difícil acabar com um povo que lê muito", enfatizou Wästberg.

O peruano, de 74 anos, autor de livros como Conversa na Catedral, A Tia Júlia e o Escrevedor, A Festa do Chibo e, mais recentemente, O Sonho do Celta, foi distinguido "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos", justifica a Academia em comunicado divulgado poucos minutos após o anúncio do Nobel.

As Publicações Dom Quixote, editora da maior parte da obra do escritor em Portugal, congratularam-se pela distinção em comunicado. "Depois de vários anos em que o seu nome foi sucessivamente apontado como vencedor do Nobel", lê-se, "a Academia Sueca decidiu, finalmente, premiar a obra de Vargas Llosa, conhecida e admirada em todo o mundo."

Francisco José Viegas, director editorial da Quetzal, que publicará em 2011 o mais recente romance do escritor, considerou a escolha "absolutamente inesperada", isto, "tendo em conta a tradição dos últimos anos, pelo menos, ou das últimas décadas, do Nobel". Em declarações à Lusa desde Frankfurt, onde acompanha a feira do livro da cidade alemã, Francisco José Viegas definiu Mario Vargas Llosa como um autor que "estuda o poder, estuda as formas de poder, as formas de exercício do poder e também estuda um pouco aquilo que é a memória revolucionária da América Latina”.

A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Mario Vargas Llosa é “um grande incentivo” a todos os que se preocupam com os países onde não há democracia ou a liberdade está ameaçada”, disse o filho do escritor, Alvaro Vargas Llosa.
No ano passado a distinção foi atribuída a Herta Müller. Em anos anteriores receberam também o Nobel da Literatura nomes como Jean-Marie Gustave Le Clézio (2008), Doris Lessing (2007), Orhan Pamuk (2006) ou Harold Pinter (2005). José Saramago, falecido em Junho deste ano, recebeu o Nobel em 1998, sendo o primeiro português a ser distinguido nesta categoria pela Academia Sueca.

"Aprendi a ler aos cinco anos, na classe do irmão Justiniano, no Colégio La Salle, em Cochabamba (Bolívia). Foi a coisa mais importante que me aconteceu na minha vida", disse, na terça-feira, a começar o tradicional discurso de aceitação que antecede as cerimónias oficiais, na sala da Academia Sueca. No discurso intitulado "Elogio da Leitura e da Ficção", Vargas Llosa lembrou a infância, durante a qual viajou com o capitão Nemo as 20 mil léguas submarinas, lutou ao lado de D'Artagnan, Athos, Porthos e Aramis e deixou-se arrastar pelas entranhas de Paris, transformado em Jean Valjean. Emocionado, o escritor prestou homenagem aos seus mestres, entre os quais citou Flaubert, Faulkner, Cervantes, Dickens, Tolstoi e Thomas Mann.

Mas também teve algumas palavras duras e atacou ferozmente - "como sempre fiz" - as "ditaduras de qualquer índole", "a de Pinochet, a de Fidel Castro, a dos talibãs no Afeganistão, a dos imãs no Irão". E deixou um elogio a todos os resistentes, como o chinês Liu Xiaobo, laureado com o Prémio Nobel da Paz e atacado no seu país: "Aqueles corajosos, lutando pela sua liberdade, também lutam pela nossa."

Mario Vargas Llosa recebe o 103.º Prémio Nobel da Literatura, atribuído pela primeira vez em 1901. É o 11.º autor de língua espanhola a receber a distinção, depois de laureados como Camilo Jose Cela (1989), Gabriel Garcia Marquez (1982), Pablo Neruda (1971) ou Gabriela Mistral (1945). O autor de língua espanhola que mais recentemente venceu o Nobel literário foi o mexicano Octavio Paz, em 1990.

Este é o quarto Nobel atribuído este ano, depois do de Medicina (Robert G. Edwards), Física (Andre Geim e Konstantin Novoselov) e Química (Richard Heck, Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki).

O prémio literário tem um valor monetário de cerca de um milhão de euros.

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