11/07/2009

JAN MORRIS

Jan Morris é uma das grandes referências na literatura de viagens. Viveu metade da sua vida como homem, a outra metade como mulher. Foi como James que escreveu "Veneza", obra agora editada em Portugal. Para James Morris Veneza foi sempre uma cidade feminina. Era assim - "talvez como uma espécie de ossificação do princípio da feminilidade" - que a via quando ali viveu com a mulher, Elizabeth, e os filhos. A cidade era "o equivalente em pedra, na sua graça, serenidade e cintilação" de tudo aquilo que James sonhava ser. Em 1960 James Morris escreveu "Veneza", um livro, que a Tinta da China acaba de editar em Portugal, sobre aquela que é, com Oxford e Trieste, uma das cidades que lhe "pertencem". Uma década depois James fez, em Marrocos, uma operação de mudança de sexo. Hoje chama-se Jan, é uma respeitável octogenária e vive na aldeia de Llanystumdwy, País de Gales. No ano passado, depois da mudança da lei na Grã-Bretanha, voltou a casar-se, em união civil, com Elizabeth. Nas perguntas relacionadas com a possibilidade de ter um olhar mais masculino ou mais feminino sobre uma cidade (às quais não responde), Jan diz: "Poderá gostar de saber o seguinte: Elizabeth e eu divorciámo-nos em 1972, apenas por razões legais, mas desde então vivemos sempre juntas, e quando a lei mudou, há um ou dois anos, restabelecemos a nossa relação numa união civil formal. Vivemos juntas há 60 anos e temos nove netos. O amor é tudo - e a generosidade!". "nada me aborrece mais do que falar sobre a mudança de sexo, razão pela qual há cerca de 40 anos que recuso consistentemente fazê-lo". Numa entrevista à revista do "El País" confessara já que o assunto da mudança de sexo era para ela "algo já remoto, pré-diluviano", e explicava que tudo o que tinha a dizer já tinha dito há 30 anos. O livro "Conundrum" - publicado em 1974, mas sem edição em português -, é o relato autobiográfico do "enigma" (é esse o sentido de "conundrum") que foi a sua vida. E aí, na forma de "comunicar o incomunicável", Morris "é consistentemente brilhante", escreveu o "Observer". O Times considerou "Conundrum" um dos "100 livros chave do nosso tempo". Sobre "Veneza", assume-o como um livro de um tempo, de uma outra vida. "Claro que me reconheço nele, mas sou eu 50 anos mais nova. Se escrevesse o livro hoje seria o mesmo mas, infelizmente, não tão bom".

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