09/06/2009

PAUL THEK

Foi tão grande nas décadas de 60 e 70 que quando morreu, em 1988, ninguém sabia o que fazer com o seu fantasma. Agora é um gigante que volta a acontecer-nos. O Museu Reina Sofia apresenta-o em 350 obras. Há quem o veja como um artista de artistas, um desses seres subterrâneos que nunca conseguiram ou nunca procuraram um lugar ao sol, uma dessas figuras não necessariamente malditas, apenas caídas por entre as malhas da História, inadequadamente reconhecidas pela crítica e o grande público apesar de idolatradas pelos seus pares. Acontece ser mais truculento do que isso o caso de Paul Thek, fabuloso artista-revolução que temos a felicidade de estar agora a voltar a acontecer-nos. É que Paul Thek chegou a ser grande - foi grande na Nova Iorque arrojada e experimental dos anos 1960 e 1970, o mesmo que dizer que foi grande, ponto. Nascido em Brooklyn durante a Grande Depressão numa família católica e com um percurso errante por uma série de escolas de arte - a Art Students League, o Pratt Institute, a Cooper Union... -, tinha 31 anos quando, em Novembro de 1964, foi convidado para uma primeira exposição individual na Stable Gallery, a mesma que apenas seis meses antes apresentara ao mundo as "Brillo Boxes" de Andy Warhol. Tinha 35 na primeira das suas duas passagens pela mítica Documenta de Kassel. Pelo caminho houve Roma, Paris, Veneza, Londres, Amesterdão, Colónia, Estocolmo... Em finais dos anos 1960 e até meados dos anos 1970 Paul Thek estava em todo o lado, incluindo em todas as revistas de arte. O mesmo Paul Thek a quem Susan Sontag, a caminho de se tornar numa das mais influentes intelectuais norte-americanas do século XX, dedicaria o seu primeiro livro de ensaios e uma das suas obras maiores: "Contra a Interpretação" (1966). Deste marco para uma contemporaneidade interessada na metafísica, no poder mágico e encantatório da obra de arte, ficaria uma frase-manifesto, conhecida até hoje de cor por pessoas de todo o mundo: "Em vez de uma hermenêutica precisamos de uma erótica da arte." Estas foram as palavras da ruptura com o cânone do pensamento crítico do pós-guerra que Sontag via como uma espécie de empirismo bacoco e hiper-racionalista, um fixador de sentidos protocolares irremediavelmente agarrado à dissecação do conteúdo e da forma e, por isso, submerso num mundo espectral de significados secundários, eternamente alheio à luminosidade da coisa em si. "O que é importante hoje", escreve Sontag, "é recuperar os nossos sentidos. Temos de aprender a ver mais, a ouvir mais, a sentir mais." Entramos no Museu Reina Sofia, na sequência de salas onde até 20 de Abril se apresenta o enorme corpo composto por cerca de 350 das obras de Paul Thek, e percebemos exactamente o que isto quis dizer, à época, para Sontag. Entra-nos pelos poros.

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