01/06/2013

OPTIMUS PRIMAVERA SOUND, PORTO 2013



A primeira jornada da segunda edição do festival levou ao Parque da Cidade, no Porto, uma multidão que viu concertos de Nick Cave, James Blake, Deerhunter, Dead Can Dance, Wild Nothing.

18h00 - A abertura cabe aos espanhóis Guadalupe Plata , trio de blues rock atrevido e fogoso que instrumentalmente não compromete, mas que tem a pouca fortuna de contar com uma voz um tanto ou quanto esganiçada (eufemismo!) para a missão. Outros voos promete este primeiro dia do Optimus Primavera Sound, em que já vimos um par de patos a atravessar o relvado como se nada se passasse. Boa sorte no caminho para casa (o lago aqui mesmo ao lado) é o que lhe desejamos. Outros "apontamentos de reportagem" (como se usava dizer) em breve.

20h30 - O pôr-do-sol do primeiro dia no Optimus Primavera Sound tem banda-sonora dos norte-americanos Wild Nothing , quinteto onde os sintetizadores jogam um papel importante na construção de canções confortavelmente encaixadas entre a dream pop e a power pop.

Ter-se-ão as Breeders divertido mais que o público que assistiu à celebração do lançamento de “The Last Splash”, que já foi além da maioridade e completou vinte anos?

Kim Deal, Kelley Deal, Josephine Wiggs e Jim MacPherson – para tocar o disco de uma ponta à outra. Não faltaram “Cannonball”, “Invisible Man”, “Divine Hammer” ou “Saints”, revelando todo o ADN das Breeders: uma linha de baixo empolgante, guitarras em êxtase, uma bateria que vive de acelerações rápidas e ávidas tentativas de recuperar o fôlego. Sente-se aqui o peso dos anos, mas uma certa nostalgia de quando em vez nunca fez mal a ninguém.

Cave canta-nos "We No Who U R". O novo álbum, "Push the Sky Away" ocupa metade da setlist que percorre ainda clássicos como "From Her to Eternity", "The Good Son", "Henry's Dream" e um personal favorite, a história do desesperado "Stagger Lee" - a extensão do tema ao vivo leva a ainda mais assassinatos que só terminam no mexican standoff com o próprio Grande Bode. Uma actuação que nunca atinge a fúria com que nos agride em Grinderman, mas com muito mais subtilezas dinâmicas. A entrega de cada um dos músicos em palco é algo que não surpreende.

 Numa curta viagem que durou pouco mais de uma hora, escutaram-se alguns dos temas do novo disco - “Push The Sky Away” - mas sobretudo  “The Mercy Seat” recorda-nos a sábia máxima do “olho por olho, dente por dente”; em «Whiping Song» as lágrimas são enxutas pelo calor e o abraço de um violino; «From Her To Eternity» lembra os tempos em que as palavras de Cave eram escritas com sangue e movidas pela raiva; «Red Right Hand» é um tango onde o vermelho foi trocado pelo negro, servindo para Cave atirar uma boca ao uso de telemóveis durante os concertos; «Stager Lee», apenas um dos momentos épicos, é uma intensa canção de engate que deu para o torto.

Nick Cave passou a maior parte do concerto em suspensão sobre as grades, amparado pelop fãs da frente- ainda deu um tropeçam, quase caía, apertando todas as mãos que se lhe  esticavam, pregando que o fim está próximo, talvez. Com muita sensualidade, uma grande dose de ira e uma voz que vai da doçura à raiva, Nick Cave presenteou-nos com um concerto que dificilmente terá concorrente nesta edição do Primavera.

Forças que fazem a "morte dançar". Já restam poucas metáforas para a voz de Lisa Gerrard. Para a sua imponência doce e maternal - sob esse som sentimo-nos filiados, "Children of the Sun", passe o paradoxo de este ser um dos temas cantados por Brendan Perry. "Anastasis" irá ocupar a maioria da setlist, mas é inevitável ouvir o encanto de "Song to the Siren" ou o exotismo de "Nierika". Talvez cientes de ocupação de um palco/ambiente pouco apropriado às subtilezas da expressividade da sua música, os Dead Can Dance soaram com maior vigor e exuberância nas percussões, o mesmo sucedendo com o trabalho de Brendan Perry na bouzuki. A única coisa que se poderia apontar à actuação foi a ausência do fascinante "Rakim.

 Ainda houve tempo para navegar com os Deerhunter, entre o espírito pop de “Halcyon Digest”  o mais travesso – e recente - “Monomania”, e para um bonito momento de sedução protagonizado pelo menino James Blake, um crooner da electrónica, um mago dos efeitos e distorções vocais que, cada vez mais, sai da sombra para revelar uma voz inconfundível.

Assim se viveu o primeiro dia de Primavera Sound.

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