"O Necronomicon realmente existe?"
Nascido na última década do século XIX em Providence, a vida de Lovecraft foi marcada pela morte prematura dos pais, por sucessivas depressões nervosas e pela sua dedicação à literatura clássica, química, astronomia e o gosto pelo fantástico e gótico. Autodidacta por natureza, por volta de 1919, já Lovecraft escrevera os seus primeiros contos, ainda muito próximos das tendências da literatura simbolista.
Durante a vida, a obra de Lovecraft teve pouco ou nenhum reconhecimento, foi divulgada postumamente pelo seu amigo August Derleth.
Curiosamente, nunca se quis juntar aos grandes autores da Literatura Americana, optando antes pelo estatuto marginal de um autor de pulp fiction.
Apesar do seu gosto pelas velhas instituições, o autor revela-se, no entanto, profundamente ateu e um grande admirador de todas as descobertas científicas.
Morreu na cidade em que nasceu, em 1937, na miséria e no anonimato. Posteriormente, a sua obra exerceu uma notável influência nos escritores da literatura fantástica e de ficção científica.
Howard Phillip Lovecraft, autor do início do século 20 que produziu algumas das
obras mais estranhas da literatura americana. Ele próprio, aliás, era figura
exótica, um solitário da “velha nobreza” da área das Treze Colônias apaixonado
por magia, terror e ficção científica.
Conta-se que, mesmo sendo pouco afeito a sair de casa, manteve contato com
milhares de pessoas por meio de cartas que o tornaram um dos maiores clientes
dos correios dos Estados Unidos.
Há quem afirme, inclusive, que, numa de suas
poucas viagens ao exterior, ele teria se encontrado com Fernando Pessoa, em Cascais na Boca do Inferno, para uma
jornada misteriosa pelos círculos esotéricos europeus.Há rumores que Lovecraft conheceu Alesteir Crowley pois o mencionava em algumas cartas. A sua maior influência foi o mestre do terror do século XIX, Edgar Allen Poe, por quem Lovecraft nutria profunda admiração.
Um tema recorrente do universo lovecraftiano é o que se refere aos livros
secretos, obras que, por sua capacidade de perturbação mental ou de acesso a
potências espirituais, seriam vedadas aos olhos comuns. Em muitas de suas
histórias, Lovecraft se refere ao Necronomicon, volume que teria sido escrito no
século 6 por um certo Abdul Alhazred, personagem identificado (apenas e tão
somente) como “o Árabe Louco”.
Pois o tal alfarrábio – até onde se sabe, uma invenção – foi descrito de modo
tão convincente que passou a ser considerado verdadeiro. Pessoas não só o
procuraram como, com o tempo, passaram a brindar secretamente bibliotecas com
fichas catalográficas e cópias especialmente produzidas para alimentar o mito.
O fascínio pelo Necronomicon e por obras semelhantes (como as referidas por
Jorge Luis Borges e Umberto Eco) nasce da esperança de contato com o
maravilhoso.
O Necronomicon não existe, nunca existiu e se existe algo hoje em dia com esse
título é porque muita gente quer ganhar um trocado em cima das histórias de
H.P. Lovecraft.
Lovecraft disse textualmente que o livro
não passava de uma peça de ficção, algo que ele inventou para suas estórias. Mas
mesmo assim, tem gente que não se convence. Quer acreditar que o Necronomicon
existe.
No início dos anos 70, no auge da moda ocultista, dois monges ortodoxos teriam
procurado o editor Harry Slater para oferecer a ele um
manuscrito que seria a única cópia existente de um terrível livro de magia até
então desconhecido. O nome do livro era Necronomicon.
Os monges afirmavam
ter conseguido o manuscrito após um roubo perpetrado à biblioteca de um Bispo
Ortodoxo chamado Simon. Um roubo a uma valiosa coleção de
livros de fato ocorreu em 1972, mas embora muitos livros de valor tenham sido
levados, o Necronomicon não era um deles. Slater afirmou ter comprado o
manuscrito dos monges, mas jamais permitiu que o documento fosse examinado
dizendo que seria algo extremamente perigoso. Essa preocupação, no entanto, não
impediu que ele mandasse o texto para impressão e o publicasse como sendo um
verdadeiro tratado de magia.
Herman Slater foi uma figura proeminente entre os adeptos do neo-paganismo e
wiccan nos anos 70. Ele era dono de uma livraria popular em Nova York, a
Warlock Shop, que vendia todo tipo de bugiganga, quinquilharia
e publicava literatura barata sobre o mundo oculto.
Em 1975, a editora
lançou a primeira edição de "Necronomicon: o Texto de Simon"
(ou "The Simon Necronomicon" como ele ficou mais
conhecido). O material era supostamente parte de um manuscrito muito antigo
escrito em inglês arcaico.
Segundo boatos, o livro teve uma tiragem de
666 cópias, vendidas a 70 dólares o exemplar. Os livros se esgotaram e no ano
seguinte uma segunda edição com 3.333 volumes foi para o mercado. Eventualmente,
os direitos foram comprados pela Avon Press, que imprimiu o livro em
formato pocket book e o comercializou em massa ao custo de 5 dólares.
Desde seu lançamento, o Simon Necronomicon jamais esteve fora de impressão e
continua sendo vendido até hoje (vá lá conferir no Amazon, é
verdade!)
Slater sempre alegou que a misteriosa história do Necronomicon
atraía o público. Ele alertava a todos que o conteúdo do livro não era para
qualquer um, a não ser os iniciados nos mistérios arcanos. É claro, isso fazia
parte do marketing para promover seu produto.
Lovecraft não se cansava em dizer que o Necronomicon não existia. Em 1933 ele escreveu para seu colega Robert Bloch:
"Por falar nisso, não existe tal coisa como o Necronomicon ou o
árabe louco Abdul Alhazred. O livro é algo que saiu da minha imaginação e
que parecia, modéstia à parte, bom demais para não ser usado repetidas
vezes".
Em português há o "Necronomicon - as Peregrinações de Alhazhed", de Donald Tyson.
"Necronomicon", de Robert Price, da editora Chaosium, edição de 1996.
Lá há algumas tentativas de criar trechos do Necronomicon: versão de
John Dee, Manuscrito de Sussex e também um suposto estudo académico de
partes do livro, além de uma biografia de Abdul Alhazhed.
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