08/06/2012

OPTIMUS PRIMAVERA SOUND 2012- O PRIMEIRO DIA

O Porto já encontrou o seu festival de música ao ar livre.

O Optimus Primavera Sound não é o primeiro festival ao ar livre de música do Porto de âmbito pop-rock. Mas alguém se lembra de algum outro que se tenha realizado na cidade, que tivesse sobressaído pela sua identidade, por apresentar ideias de programação sólidas para lá das opções estéticas de cada um, por ser credível pela sua consistência e perseverança e por ter um espectro internacional?

 Claro que já houve muitos festivais no Porto e, no entanto, a sensação que se tem é que o Primavera Sound é o PRIMEIRO. O MELHOR.

Falando com as pessoas - sim, são suspeitas, porque são aquelas que estavam dentro do recinto - percebe-se que existe orgulho em receber um festival assim.

Não surpreende por isso que, num festival conhecido pela música, tenha sido o espaço a principal atracção da primeira noite, não só para os milhares de estrangeiros presentes- muitas mulheres, que dão um colorido diferente ao ambiente.

Depois de Barcelona, o Primavera Sound instalou-se na cidade do Porto carregando um atraente cartaz responsável por uma autêntica invasão de festivaleiros vindos de outro destino.
 Não será exagero dizer que no primeiro dia, mais de metade do público do Parque da Cidade não falava português com claro destaque para as facções espanhola e britânica.
Apesar da constante ameaça de chuva, chegaram a cair alguns pingos, o tempo aguentou-se firme e frio como é característico no norte.

Além da legião de estrangeiros deliciados com o espaço verdejante, vimos também muitas caras conhecidas como Adolfo Luxúria Canibal, Miguel Ângelo e a dupla Dead Combo todos a circular no meio de tantas figuras com quem costumamos cruzar em concertos na capital. Por estes dias, o Porto é a capital indie com todos os clichés.

Quando entramos no recinto, os primeiros metros são percorridos em alcatrão mas logo encontramos a zona de restauração onde o destaque vai para um stand de carnes argentinas; depois as casas de banho, a banca oficial de venda de roupa do festival, e só então pisamos a relva forte que nos acolhe por toda a área onde há palcos.

Neste primeiro dia só abriram dois, praticamente lado a lado e a funcionar em modo alternado de forma a que não se perca o ritmo entre concertos. A contrastar com a paisagem verde do parque temos do lado direito dos palcos o bravo mar de Matosinhos que é sempre um bom escape para olhar.

 A primeira noite com um excelente ambiente, cerca de 20 mil pessoas deambulando tranquilamente pelas diferentes zonas, posicionamento magnífico dos dois palcos em funcionamento - sexta e sábado serão quatro - e uma zona Vip funcional, sem requintes desnecessários. Não conseguem ver o palco Primavera- vêem pelo ecrã.
E até alguns espaços especiais mais escondidos, como aquele que está perto do palco ATP, uma espécie de zona de piquenique onde é servido vinho a copo. Os estrangeiros não o largam. Deve ser boa a pinga.

A zona de comes e bebes é reduzida para o número de pessoas presentes. Ontem viram-se filas. Mas é um festival atento ao seu tempo e respeita o espectador. E o espectador percebe isso.

E a música na primeira noite?

O colectivo portuense Stopestra! abriu o programa oficial, às 17 horas de quinta-feira. Cerca de 100 elementos da banda couberam à justa no palco mas extravasaram energia. Trouxeram, uma combinação deliciosa de soul, funk, gospel e muito rock à mistura.

A animação prosseguiu com os interessantes espanhóis Bigot. Oriundos de Espanha, brindaram a já numerosa plateia com um rock sólido, ao revisitar diferentes correntes e influências.

Os Suede foram empáticos, os Mercury Rev os melhores e os The Rapture competentes. E houve até para mim um sabor a desilusão, com o habitualmente excelente, Bradford Cox, que se apresentou com a identidade Atlas Sound, num concerto solitário. O americano lá foi dizendo que o Porto era a sua cidade favorita - mas nunca conseguiu a simbiose com a assistência. Testou a paciência do público, num concerto baseado em canções impregnadas de murmúrios e lamentos.

 O francês Yann Tiersen e respectiva banda, tiveram com uma performance mais empenhada.

Culpa ou não do frio que se apoderou do recinto ao final do dia (a célebre aragem nortenha não perdoa... com o rótulo de "next big thing" e um punhado de fãs fiéis, os americanos The Drums foram, como habitualmente, funcionais. A sua música composta e descontraída de diversas referencias dos anos 60 à actualidade. Em palco são assim também, com o irrequieto estilo do vocalista Jonathan Pierse, sensualmente para satisfação do publico feminino.

Quem ainda mantém a carga erótica quase intacta é o cantor Brett Anderson, que nos anos 90 levava à histeria qualquer palco onde os seus Suede pusessem os pés. Hoje  mantém a elegância - sem que ele e o grupo tenham perdido a impetuosidade romântica. Mesmo para quem nunca lhes reconheceu relevância, não foi difícil constatar que continuam uma banda que é capaz de se colocar em causa, apresentando canções como "So young", "Still life", "We are the pigs", "Everything will flow" ou "The wild ones".  Brett desceu ao público e o rock de alguns temas exaltou a assistência.

Dos Mercury Rev, autores de alguns dos melhores álbuns de psicadelismo pop da década passada, mostraram grande empenho, com um espectáculo cénico e musical barroco, conseguindo contagiar o publico que cantavam em coro alguns dos temas. O vocalista entrou em palco com uma garrafa - de vinho do porto?? cheia saindo com ela vazia- deu a ultima golada antes de sair de palco- parecia que estava sempre a fazer o quatro.

Para final de noite - começaram às 2h da madrugada - estavam guardados os americanos The Rapture que, para muitos, eram a banda mais aguardada. Foram medianos.
A musica de início dos anos 2000, assente na energia do rock e na fisicalidade da música de dança ( não podia faltar "House of jealous lovers")mas essa continua a ser a sua identidade. Os agudos do vocalista e guitarrista Luke Jenner fizeram-se ouvir, tal como as linhas de baixo que parecem suportar tudo o resto, mas faltou na maior parte do tempo ao espectáculo um outro alento, um suplemento de alma, que era precisamente aquilo que os companheiros de editora, os já extintos LCD Soundsystem, tinham de sobra.

Hoje, já com os quatro palcos a funcionar em simultâneo, haverá muito mais por onde escolher (Rufus Wainwright, Wilco, Flaming Lips, Shellac,The Walkmen, Beach House ou M83), o mesmo acontecendo amanhã com Kings Of Convenience, Spiritualized, Lee Ranaldo ou The XX.

 Dos brindes que oferecem- capas de chuva, pulseiras- tipo portas chaves,  um saco que aberto fica assim-na foto- dá muito jeito para "alapar" o cú na relva.

Para já, depois do primeiro dia, a notícia é que o Porto tem um grande festival de música a decorrer no seu centro. Uma grande novidade.

Podem copiar este link (ou ver no JN, os concertos primeiro dia)  http://www.jn.pt/multimedia/video.aspx?content_id=2597335


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