12/05/2012

PHILIP ROTH

Mais do que um violento ataque à família judaica, "O Complexo de Portnoy" é um violento ataque à instituição familiar Nos idos de 1969, "O Complexo de Portnoy" não foi apenas um caso literário que valeu ao autor - ao quarto livro - a sua confirmação como grande esperança das letras americanas. Também aconteceu tornar-se caso de escândalo. A linguagem gráfica e o hiper-sexualismo de Alexander Portnoy, narrador e protagonista, foram só meia razão da querela. O violento ataque que Roth supostamente fazia à cultura judaica foi a outra metade, e talvez a mais feroz, tendo em conta que o próprio autor é judeu e, tal como o seu protagonista, um filho da classe média trabalhadora e cumpridora de Newark.
Mas o tempo funcionou a favor deste monólogo em que Alexander Portnoy se dirige ao seu psiquiatra, o doutor Spielvogel, explicando o porquê de precisar de ajuda numa narrativa linear - parte-se da infância e chega-

A narrativa é fácil de ler, o texto segue uma linguagem bem natural, escrito na forma de fluxo de consciência. Tratam-se das lembranças e histórias de Alex, contadas ao seu médico psicanalista, Dr. Spielvogel. Da forma que é escrito, temos a sensação de tomar o lugar do médico. É Como se nós mesmos pudéssemos analisar Alex e o seu Complexo de Portnoy, descritos no livro como sendo “abundantes atos de exibicionismo, voyeurismo, fetichismo, auto-erotismo e coito oral; em conseqüência da ‘moralidade’ do paciente, entretanto, nem a fantasia nem o ato resultam em genuína satisfação sexual, mas antes em avassaladores sentimentos de culpa e temor de punição”.

O essencial da obra de Philip Roth dividia-se em duas metades: a primeira, antes de 2000, sobre a América - Pastoral Americana, Casei com um comunista e A Mancha Humana -; e a segunda, depois de 2000, sobre a velhice - Animal moribundo, Fantasma sai de cena e Indignação. O resto (com uma excepção) não conta, porque é menor. Uma nova edição da D. Quixote de O complexo de Portnoy, exposta nas livrarias como novidade, mostra que nos escapara um livro que não fazíamos a mais pequena ideia que existia, embora exista desde 1969.

Alex conta, já logo de início, como era a sua relação com os pais quando criança e nos mostra como é a estrutura de uma família judaica nos Estados Unidos e que, afinal, os costumes e regras conseguem atravessar os anos. Ele demonstra grande admiração pela mãe, que sabe lidar com todas as tarefas de casa e cuidar dos filhos. Enquanto isso, seu pai é um vendedor de seguros que tem problemas de prisão de ventre. Aliás, a descrição que o autor faz desse personagem tem um forte tom de humor.
Ao longo do livro, Alex passa por diversos pontos de sua vida, nem sempre de forma linear. É interessante ver, por exemplo, que ora ele ama e mostra profunda admiração pela mãe e num momento seguinte está furioso com ela. Além disso, existe também a frustração em relacionamentos amorosos, que carregam obrigações da família, uma vez que a mulher deve ser judia. As obrigações parecem estar em volta do personagem o tempo inteiro.
E é essa obrigação, vinda dos costumes, moral e religião, que fazem Alex se controlar e agir de uma forma que ele mesmo não concorda. Por não concordar, acaba não conseguindo segui-las, o que gera o sentimento de culpa descrito como Complexo de Portnoy, que acontece no que se refere à sexualidade, como diz uma passagem do livro “a vida é feita de limitações e restrições e nada mais, centenas de milhares de regrinhas estabelecidas ninguém sabe por quem, regras a quem a gente obedece sem discutir, por mais idiotas que possam parecer”. Dito isso, agora vou focar mais ainda no principal assunto do livro:

Está ai um dos capítulos mais engraçados do livro. Alex chega à adolescência e conta, com bastante franqueza (e sem poupar detalhes nenhum ao leitor), como foi essa fase de sua vida. Como o próprio título sugere, o personagem não conseguia se controlar e acabava por se masturbar o tempo inteiro. A descrição é tão franca que acho que é impossível não gerar nenhuma reação ao leitor. No meu caso, confesso que desviei o olhar do livro algumas vezes para checar, ao redor da sala, se ninguém mais estava por lá vendo tudo, porque a impressão eu tinha era que eu não estava lendo e sim ouvindo Alex falar em alto e bom som que, por exemplo, cortou uma maçã ao meio e acabou achando ela ideal para masturbação.

O assunto não pára somente neste capítulo, que é apenas uma introdução ao principal problema de Alex, que vai seguir pelo resto do livro.
Acredito que a maior reprovação do personagem às regras e costumes que tem que seguir acabam por ser mostradas quando ele se masturba. A família dele o reprova sobre isso e ele não para, pois não concorda, pois é contra ele mesmo. E é claro que isso acaba sendo bastante engraçado, apesar de trágico, porque a masturbação chega a causar doenças em Alex, tamanha a quantidade de vezes que ele faz.
Neste ponto, não tem como não lembrar de outro Judeu que, assim como Philip Roth, trabalha com o tema da masturbação de forma cômica. Falando de Woody Allen, que tem divertidíssimos diálogos a respeito. Por exemplo, em “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, temos a frase “Não fale mal de masturbação. É sexo com alguém que eu amo”.

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails