21/05/2012

ENCONTRADAS DUAS PAGINAS DO PRINCIPEZINHO

 Chamava-se Antoine Jean Batiste Marie Roger de Saint-Exupery, "Saint-Ex" para os Franceses e, simplesmente, "Tonio" para os amigos. Foi autor de um dos livros mais traduzidos em todo o mundo (logo depois da "Bíblia" e de "O Capital"),

Publicado em 1943, O Principezinho é um clássico da literatura universal. Para surpresa dos leitores, duas novas páginas da obra foram descobertas na França. Parte de um conjunto de manuscritos do autor Antoine de Saint-Exupéry, os textos inéditos estavam em posse de um colecionador, e foram entregues a uma casa de leilões francesa que, a princípio, não sabia o que continham: “A caligrafia dele [Exupéry] é terrível, mas conseguimos decifrá-la e então descobrimos que essas duas páginas eram material inédito de O Principezinho, disse Benoît Puttermans, do departamento de livros da casa de leilões Artcurial, ao jornal britânico The Guardian. O material deve ser leiloado no dia 16 de maio.

Uma das páginas fornece uma nova versão para a passagem em que o Pequeno Príncipe chega ao planeta Terra, no capítulo 19. A segunda página, no entanto, apresenta uma personagem inteiramente nova – um homem apaixonado por palavras-cruzadas. Descrito como “o embaixador do espírito humano”, ele é a primeira pessoa que o príncipe conhece ao chegar à Terra, e não pode conversar por estar muito ocupado com o seu passatempo. Falta a ele uma última palavra, de seis letras, que começa com a letra “g”. A página acaba sem que a palavra seja revelada. Mas se supõe que seja “guerre”, guerra em francês.

“Os manuscritos de Saint-Exupéry são raros, mas os manuscritos de O Principezinho, o livro francês mais vendido em todo o mundo desde 1943, são ainda mais”, informa a Artcurial no seu site. Estima-se que as páginas atinjam um valor em torno do 50 mil euros. Ao longo de 63 anos, o livro vendeu mais de 140 milhões de cópias em todo o mundo, e foi traduzido para 260 idiomas.

De acordo com a fundação Saint-Exupéry, trata-se da obra mais traduzida depois da Bíblia.

Praticamente desconhecido antes do livro, Exupéry morreu um ano depois de sua publicação, em um acidente de avião enquanto servia a força aérea francesa durante a Segunda Guerra Mundial em 1944.

 É nos voos que a sua imaginação floresce. Em Correio do Sul (1929), "Voo Nocturno" (1931) e "Terra dos Homens", publicado em 1939, a sua observação aérea do mundo leva-o a referir que "por baixo da camada de nuvens, está a eternidade". A sua visão do mundo e da existência era a visão da condição humana.
Embora toda a sua obra seja o reflexo de acontecimentos vividos, em "O Principezinho" assiste-se a um conjunto de situações que os estudiosos da sua obra ainda procuram definir o sentido e o significado.

Para além da escrita, Saint-Ex revela-se aqui como pintor aguarelista e o conjunto de desenhos é como que uma história dentro de outra. Aqui, o aviador/narrador nunca surge nos desenhos. (Descobertas recentes nos Estados Unidos, revelam que Saint-Exupéry eliminou algumas das aguarelas em que o narrador era visível). A inspiração para todo o cenário do livro terá nascido de um acontecimento marcante da sua carreira de aviador: em 29 de Dezembro de 1935 o seu avião cai a 200 km do Cairo, em pleno deserto; durante 5 dias vagueou até ser encontrado, não por um pequeno príncipe vindo do asteróide B612, mas por uma tribo nómada.

A figura do Pequeno Príncipe já vivia na imaginação de Saint-Ex, muito antes da escrita do seu livro. Rabiscos em guardanapos de restaurantes, no topo e entrelinhas das suas cartas mostram já esta figura de menino louro, com cachecol de aviador (que ele próprio também usava).
Saint-Exupery viveu a guerra como piloto. A sua mais importante missão, o voo sobre Arras, acabou sendo relatada em Piloto de Guerra.

Em 1940 decide ir para os Estados Unidos, tendo no percurso passado por Lisboa onde fica um mês. Hoje, o seu registo no Hotel Palácio do Estoril é conservado naquela cidade, no Espaço Memória dos Exílios.

Em Carta a um Refém (1943), Saint-Ex dedica a Lisboa as sua primeiras palavras. Esta carta é um tributo ao seu amigo Léon Werth a quem, aliás, vem a dedicar também o seu Principezinho: "Para Léon Werth, ... à criança que essa pessoa grande já foi".Os seus editores apercebem-se da sua melancolia e desafiam-no a escrever "um livro para crianças". Nasce O Principezinho (1943), o menos infantil de todos os livros infantis. Um livro para crianças, dedicado a Léon Werth, uma pessoa grande que já foi criança e que hoje passa fome e frio em França, refere a sua dedicatória.

O tema da amizade, das coisas simples, dos ensinamentos inesperados. O Principezinho, encontrado no deserto, o piloto perdido e a raposa que completa este triângulo, com a sua sabedoria. O Principezinho faz perguntas e desinteressa-se das respostas. "Ele pergunta e a pergunta é mais importante que a resposta. Ele caminha mas a marcha é mais importante que o objectivo. Ele deseja; o desejo é mais rico que o objecto desejado. Valores? Todos ressaltam a importância do relacionamento humano, a riqueza íntima das pessoas, o abranger do mundo sob a luz única de um olhar, e o respeito devido a essa luz, a essa riqueza, e à generosidade dos laços" (Michel Quesnel).

 Ver com o coração porque o essencial é invisível aos olhos. Ver uma ovelha dentro de uma caixa. Ver o elefante dentro da jibóia. O narrador, o piloto perdido no deserto, escreve para não esquecer o seu amigo o Principezinho que partiu. Porque é triste esquecer um amigo e, depois, porque podemos ficar como as "pessoas grandes"... que só se interessam por números.

O livro é uma viagem pelos planetas conhecidos do Principezinho. Em 31 de Julho de 1944, o general Gavoille confia-lhe uma missão. É o seu último voo. Desaparece sem deixar vestígios.

Na noite anterior à partida escreve duas cartas.
Numa delas diz: "Se for abatido, não lamentarei" e, noutra, "sinto que tenho vocação para ser jardineiro".


Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails