24/09/2011

Vanishing Point - Saturday Night

Esta semana fui assistir há peça da companhia de teatro Escocesa Vanishing Point. Concebido pelo fundador e encenador Matthew Lenton, Saturday Night retoma e prolonga os pressupostos do seu mais recente trabalho - o aclamado e multi-premiado Interiors -, tomando também por pontos de partida as fotografias de Gregory Crewdson e In Sook Kim, e a obra magnética de Lewis Carroll - Alice no País das Maravilhas.

"Sábado à noite: sais… ficas em casa?

Partindo da observação das fotografias encenadas de Gregory Crewdson ou de In Sook Kim, este grupo de inquilinos vieram para nos desinquietar os sentidos e o sentido da aparente normalidade. Para mim o teatro é a palavra, mas nesta peça tivemos a oportunidade de ver o teatro mudo do encenador, que nos coloca perante o inadvertido jogo de quem vê de fora a aparente realidade da casa para onde se espreita ou contempla a vida dos outros, reconhecendo que o inferno é cada um de nós.

“Saturday Night” é uma misteriosa trama de histórias e uma incursão na experiência do voyeurismo.

Quando olhamos para uma fotografia, fazemos uma leitura profunda de uma única imagem, imaginando a história que ela conta.

Através das indiscretas janelas de uma casa, vemos várias divisões e várias pessoas. Vemos o que fazem, mas não ouvimos uma única palavra, um único ruído. Só a fabulosa banda sonora - Arcade Fire, TV on the Radio, Anthony and the Johnsons, Franz Ferdinand, Radiohead "No Surprises", .... a sinistra música - Twin Peaks Twin, e 2001 Space Odyssey!.


Dentro de uma casa, há duas pessoas. Esta casa está montada num palco e nós, dos nossos postos de espectadores, vemos como a estranheza toma progressivamente conta daquilo que parecia familiar e feliz.

Olhamos através das janelas de uma casa com jardim: quartos, pessoas… O que se passa, o que vemos sem dever, é um mistério que podemos reconstruir. Quem é aquele jovem casal que recentemente se mudou? O que é que ele está a fazer na casa de banho? De quem é aquela estranha presença, lá em cima?.
A cena de parto na casa de banho envolvendo um exterminador que então levou o bébé para longe, parece não ter repercussão?.

Saturday Night fala-nos dos ambientes que construímos para nós próprios e aos quais chamamos casa, dos sonhos que empreendemos, dos segredos que guardamos entre nós. Vês, mas não ouves. As pistas desdobram-se à nossa frente.

Saturday Night é a mais nova – e também mais sombria e mais surreal – de Interiors, o multi-premiado espectáculo que trouxe para a linha da frente da cena europeia uma companhia que vem afirmando uma refrescante linguagem, evocativa e hipnótica.

Uma antiga lição que retirei, no momento que precisarmos de alguém, ou de ajuda, viram-nos as costas.

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