03/07/2011

G. G. ALLIN - O ULTIMO VERDADEIRO PUNK

Falar durante um show poucos artistas o fazem. Os Ramones não falavam nada. Já Lux Interior e Jello Biafra tinham a manha.

Leonard Cohen é um dos maiores faladores, consegue transformar um teatro de cinco mil lugares numa sala de estar.

Boy George parou um show para reclamar de um fã: “Ei, você aí... não sabes que deves calar a boca quando estiveres a ouvir uma balada romântica? Baladas exigem silêncio!”

Na revista “Uncut”, Allan Jones escreveu sobre Roy Harper. Parece que ele gostava tanto de falar nos shows que às vezes parava a música no meio para contar uma história. Quando terminava a história, recomeçava a canção, como se o som estivesse no “pause”.

Um dos artistas que mais falava num palco era G.G. Allin, debaixo de toda aquela escatologia.

Num show em Seattle, passou o tempo todo fazendo piadas grosseiras com Eddie Vedder e o grunge em geral. Em determinado momento, Allin ficou nú e começou a fazer uma serenata para o próprio pênis: “Ôooohhh... I’m still alive!”

Logo depois, apareceu com um poster de Vedder tirado de uma revista, abriu um buraco na foto (na boca, precisamente), e pendurou a página no pénis. Passou um algum tempo cantando com Eddie Vedder pendurado na pila.

G.G. Allin nasceu no dia 29 de Agosto de 1956, em Lancaster, New Hampshire, EUA, com o nome de Jesus Christ Allin, nome dado pelos seus religiosos pais. A famosa alcunha de “G.G. Allin” veio do seu irmão, mais tarde, companheiro na banda, Merle Allin, que, por não conseguir pronunciar o seu nome correctamente, chamava-o de “Jee-Jee Allin” (G.G. Allin).

GG descobriu a música, ouvindo rock, comprando alguns discos e depois aprendendo a tocar bateria (que seria seu primeiro instrumento). Algum tempo depois GG já tocando razoavelmente bateria fez parte de algumas bandas, algumas com junto com seu irmão Merle; nos anos 70 GG descobriu o punk rock e passou a tocar na banda Malpractice que não durou mais que um ano; nessa época GG ainda era bem sociável com qualquer pessoa, e aparentemente tinha deixado seu lado “freak” de lado por alguns anos; e nessa mesma época casa com Tracy Deneault, tendo até uma filha (baptizada como- Nicoann Deneault), pouco tempo depois GG e Tracy divorciaram-se e GG foi morar num trailler em New-Hampshire, onde escreveu boa parte das letras do seu primeiro disco (intitulado como “Eat My Fuc”, ou simplesmente “EMF”) lançado em 1983.

GG apesar de ser conhecido apenas pelo seu nome, tocou em muitas bandas e lançou cds com diversas delas, uma das primeiras bandas a dar apoio a GG foram os Scumfucs (com o seu irmão Merle como baixista) e depois os The Jabbers (que mais tarde ficaria GG Allin & The Jabbers), nessa época as apresentações de GG não eram tão loucas, mas as letras das músicas já eram recheadas de palavrões e muitas outras coisas (a maioria dos dicos de GG Allin vinham com “Not For Sale To Persons Under 18”).

Foi com os The Jabbers (que incluía ex membros da lendária banda MC5) que gravou muitas das suas músicas (segundo seu irmão Merle, até hoje não foram lançadas nem metade das músicas), e actuou na banda por um bom tempo como baterista e vocalista. Depois passou a ser apenas vocalista, mas cada vez mais incontrolável no palco e também cada vez mais viciado em drogas (nessa época bebia quase de hora a hora).

Merle Allin, pai de GG, tornara-se um alcoólatra e tinha alguns problemas mentais (apesar do pai de ter esses problemas, GG nunca usou o seu pai como desculpa para as suas atitudes no palco); O Sr. Merle constantemente ameaçava matar toda a sua família, tendo até mesmo cavado as covas de cada membro da família na cave da casa.

Mas foi na época da escola que GG começou a ficar ainda mais “freak” (sendo considerado na época um delinquente juvenil, chegando a estudar por um ano numa classe para crianças “especiais”). GG fazia de tudo para chocar quem estava por perto, até chegou a ir vestido de mulher para a escola (o que lhe rendeu um espancamento dos seus colegas de escola, apelidando-o de homossexual), quando perguntado sobre como fora a sua infância GG simplesmente dizia: “Caótica”.

Os The Jabbers acabaram e os seus integrantes seguiram caminhos diferentes na música, mas GG Allin continuou, e continuava cada vez mais louco e viciado em drogas. Depois GG actuou em diversas outras bandas, algumas sem gravar nenhum material em estúdio e outras gravando apenas um álbum; nessa época já era considerado um terrorista da música (foi proibido de tocar em alguns Estados)tocando em diversos Estados Americanos, principalmente com a banda The Texas Nazis (esta banda não tem nenhuma ligação com nazismo ou fascismo, este nome era um provocação aos preconceitos dos texanos que não gostavam de homossexuais e odiavam GG Allin, chegaram até a espanca-lo em num show com os Texas Nazis);

GG Allin foi preso diversas vezes (na maioria das vezes por “Mal Comportamento”, “Atentado Violento ao Pudor” “Posse de drogas” e “Posse ilegal de Armas”), mas pelo que parecia isso apenas servia como “pilha” para ele continuar os seus “atentados terroristas”. No final dos anos 80 GG lança “Freaks, Faggots, Drunks and Junkies”, um dos melhores cds da sua carreira, e também um dos mais “violentos” e brutais- esse cd é considerado por GG como o disco mais profissional da sua carreira e também como sua “auto-biografia”; depois de mais lançamentos (quase todos os cds de GG Allin era gravados de forma totalmente independente, sem ter sequer um produtor por perto para “supervisionar” a gravação) e poucos shows GG fez o que todos já esperavam: entregou-se totalmente ao álcool e há heroína; fazendo cada vez mais maluquices nos seus shows (foi nessa época que se tornou um “hábito” defecar no palco, comer os seus próprios dejectos e mutilar-se no palco).

Os seus shows foram ficando cada vez mais escassos, ninguém queria um tipo que comia bosta e enfiava o microfone no rabo tocando nos seus bares; mesmo assim, ainda haviam quem procurava GG para shows, nessa época quase nunca passavam da 3ª música, com policias invadindo os bares e levando GG para a cadeia; outras vezes GG mutilava-se tanto no palco a ponto de desmaiar e não conseguir mais cantar; GG só parava sua “saga” quando ia parar no hospital ou era preso (chegou a ficar 1 ano preso).

Depois de ser solto GG publicava um “zine” que escreveu durante o tempo na cadeia, chamado de “GG Allin Manifesto”, em que falava mal das grandes editoras e dizia que era o “profeta” da revolução musical; nessa época começou a tentar voltar a fazer shows e lançar alguns singles e fitas de shows.

GG agora tinha uma missão: cometer suicídio em pleno palco, disse-o diversas entrevistas para a Maximum RocknRoll (revista americana especializada em rock e no underground americano, uma das poucas que davam atenção a GG).

Em 1991 GG formou uma das suas melhores (se não a melhor) banda, os “Murder Junkies” (com o seu irmão Merle no baixo).Com os Murder Junkies GG juntou a gang perfeita (a maioria dos vídeos de GG encontrados pela internet são com os Murder Junkies) que o acompanhou até a morte; a banda fazia de tudo no palco, era a loucura musical, nem mesmo Dee Dee Ramone aguentou as doidisses de GG com os Murder Junkies, tocando em apenas num show (como guitarrista) e saindo da banda no outro dia.

Em 1992 GG foi novamente preso, sendo proibido de tocar em diversas cidades, nessa época foi feito o documentário “Hated: GG Allin And The Murder Junkies” que mostrava os shows caóticos de GG e os bastidores. GG voltou a afirmar que cometeria suicídio no palco, depois de solto, formou “GG Allin and the Criminal Quartet”, com que gravou o disco mais bizarro da sua carreira, “Carnival of Excess” (lançado oficialmente apenas depois da sua morte), um disco de música country, dedicada a Hank Williams.

No dia 28 de Junho de 1993 aconteceu o que muitos já esperavam e muitos queriam: GG “Kevin” Allin morre de overdose de heroína no apartamento de um amigo, em Manhattan; tinha 36 anos.

O ultimo show (feito no mesmo dia da sua morte) é mostrado na versão em DVD do documentário “Hated”, e foi exibido no dia do velório de GG, que foi um verdadeiro circo, com GG semi-nu no caixão, com uma garrafa de whisky na mão, a palavra “Fuck Me” escrita na outra mão, e diversos (quase todos)os seus discos junto com ele no caixão (foi enterrado com os discos), com os fãs tirando fotos com o “ídolo” morto e outros a dar beijos em GG e “brincavam” com o seu pénis...GG Allin foi o último profeta do rock, não tinha limitações, fez de tudo na vida e na sua carreira, cantou sobre sua vida e sobre seu ponto de vista das coisas; compreendido por poucos e incompreendido por muitos...Hoje Merle Allin (irmão de GG), continua com os Murder Junkies, fazendo shows pelos EUA e lançando o material inédito de GG aos poucos, não deixando morrer o legado de "Jesus Christ Allin".


“Considero-me um Deus do Rock, por isso meus fluidos e excrementos também são sagrados. Como minhas fezes pois não quero deixar fluidos divinos perdidos por aí em qualquer lugar.” (GG Allin)

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