25/12/2010

JAVIER MARÍAS

Javier Marías, o mais inclassificável autor espanhol contemporâneo. Nasceu em Madrid, em 1951. Formado em letras e especializado em filologia, trabalhou como argumentista e tradutor até publicar seu primeiro livro, Os Domínios do Lobo, em 1971. Desde então já escreveu mais trinta, entre romances, ensaios e colectâneas de artigos e contos.

Os seus livros vendem, ganham traduções e afirma-se como um fino analista psicológico, sem cor local e sem caracterizações preconceituosas. Javier gosta de citar Shakespeare com ainda mais frequência do que cita Cervantes (o título do romance é uma citação de “Henrique 4º”, de Shakespeare).

No início de sua carreira, Marías traduziu para o espanhol um romance inglês do século 18, “A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy”, de Laurence Sterne, e aprendeu com Sterne, como já admitiu a um entrevistador, a escrever muitas páginas sobre um momento breve.

Em 1988 lançou o romance "Todas las almas". Apesar de ser uma obra de ficção, narra a história de um professor espanhol que dá aulas em Oxford, o que resultou no equívoco de se confundir o personagem do livro com o próprio autor.

Em 2002 iniciou a publicação de “Seu Rosto Amanhã” um livro híbrido, espanhol e inglês, literário e filosófico, apropriado para a nossa era de hibridez cultural, em que tantos escritores sentem-se atraídos a explorar o terreno fronteiriço entre ficção e história. Devido à sua extensão, superior a 1.500 páginas, Marías decidiu publicá-lo em três partes.

Existem maneiras diferentes de descrever o que Javier Marías realizou neste romance impressionante, com certeza sua obra-prima, além de ser um dos trabalhos de ficção mais importantes escritas na década passada. Um crítico literário poderia dizer que “Seu Rosto Amanhã” enriqueceu o repertório de técnicas narrativas e prever que não demorará muito a ser imitado por outros romancistas.

Com grande engenhosidade, a narrativa segue no limite entre humor e reflexão. Toda a trama de Seu rosto amanhã se baseia na desconfiança. O passado dos que foram traídos e delatados precisa ser reescrito. A irónica advertência inicial do romance de que "ninguém deveria contar nada nunca" não é (e nem poderia ser) seguida pelo narrador.

Se contar é o ofício dos delatores, também é a razão de ser da literatura. "O relato nos afecta mais do que os factos, mesmo o relato do que nunca ocorreu.", escreve Javier Marías.

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