19/06/2010

MARTIN AMIS

"O dinheiro não dá felicidade". Este ditado popular dirá algo a quem o possui, mas será quase uma ofensa para aqueles que sentem o tilintar do vil metal apenas no bolso dos outros.

Dinheiro é uma narrativa em primeira pessoa, contada a partir da perspectiva de John Self, um director à beira de fazer o seu primeiro filme importante depois de criar um nome para si mesmo, dirigindo comerciais. Ele é um hedonista, parece viver com prostitutas e pornografia, e está sempre bêbado ou de ressaca. Vive em Londres, mas faz viagens frequentes para fora New York, onde começou a colaborar com Goodney Fielding, um produtor de cinema jovem, que insiste que John deveria gastar mais dinheiro.

John Self, o anti-herói de Money, é o perfeito exemplo de que o dinheiro não é garante da felicidade ansiada, podendo mesmo perverter as condições naturais para alcançar esse estado de pelo menos semi-felicidade. Uma infância complicada e um pai catastrófico já não seriam bons augúrios, mas o turbilhão em que a sua existência quotidiana cai é indissociável do ritmo alucinante a que os desejos insaciáveis de Self se apoderam dele próprio.

Martin Amis constrói uma fábula dos tempos modernos, recheada de pecados, luxúrias e alucinações bem actuais. Desde os excessos alcoólicos que turvam as acções de Self mas que podem muito bem ser conciliados com o seu ritmo diário de trabalho (olhe-se para os cocainómanos que hoje fazem disso o seu motor laboral), à dependência do prazer puramente físico em detrimento de um amor mais profundo, Amis retrata um mundo que apesar de mordaz e brilhantemente enfeitado, pode muito bem existir na cidade em que vivemos.

Que íman será esse que nos atrai para determinados abismos?

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails