25/07/2009

Richard Curtis - O Barco do (Amor) Rock

Richard Curtis tem sido o sinónimo da comédia romântica,este grande ícone da actual comédia britânica é neo-zelandês e só aos 11 anos, após uma infância globetrotter, se estabeleceu em Londres. Apesar de já ter escrito para cinema uma comédia com Jeff Goldblum, The Tall Guy, em 1989, foi com a explosão em 1994 de Quatro Casamentos e Um Funeral, que rasgou novos horizontes ao género e estabeleceu as coordenadas para a nova comédia romântica britânica, viria a aperfeiçoaar logo a seguir com Notting Hill (1999). Depois, em 2001 com O Diário de Bridget Jones e em 2003 com O Amor Acontece. " Barco do Rock" celebra as rádios piratas que ofereceram rock'n'roll a uma nova geração. É um filme sobre os anos 1960 e a sua revolução de costumes: sexo, drogas e rock'n'roll. Realizado por Richard Curtis, tem a inocência das primeiras paixões. As imagens de miúdas aos berros puxando os cabelos, chorando de forma incontrolável e correndo,são arquivos visuais dos anos 1960 e da histeria que causava a pop. Os Beatles dentro da limousine e mãos pregadas nas janelas, caras ansiosas coladas ao vidro, uma berraria insuportável. Dado que ninguém tinha muitos discos, dado que as rádios não passavam aquela música (até ao final da década de 1960, a BBC dedicava quarenta e cinco minutos por semana a rock'n'roll), o momento do concerto ou a perseguição dos músicos funcionavam como libertação de toda a adrenalina acumulada - um ritual orgástico impossível de controlar. "O Barco do Rock", de Richard Curtis, realizador e argumentista de "Blackadder", junta um elenco onde se destacam Philip Seymour Hoffman, Bill Nighy, Kenneth Branagh e Nick Frost. "O Barco do Rock", eram as rádios piratas, como a Caroline ou a Radio London que, aproveitando um vazio legal, se fundeavam em águas internacionas, a alguns quilómetros da costa britânica, difundindo para a nação os Kinks, os The Who, as Supremes e o Otis Redding que a parte da nação com menos de 30 anos não ouvia até então - e da luta do Governo, tal como aconteceu na realidade, para as encerrar. É, portanto, um filme sobre os anos 1960 e a sua revolução de costumes: sexo, drogas e rock'n'roll, filmados por um homem que associamos a comédias românticas, a filmes de bons sentimentos onde, no fim, o amor prevalece. Digamos que é "sexo, drogas e rock'n'roll", sem excessos e rebaldaria, com a inocência da primeira paixão. O folme é "sobre oito megalómanos a viver num barco.Imaginem pegar nos oito disc-jockeys mais famosos do mundo e obrigá-los a partilhar o mesmo espaço" diz Curtis.. Philip Seymour Hoffman como "The Count", o DJ americano, a estrela acima de todas as outras, corrosivo como Lester Bangs. Nick Frost, do delirante terror brit de "Sean Of The Dead", como Dave, sedutor nada discreto. Um misterioso "Thick" Kevin (Tom Brooke) de longas barbas e ar misterioso, só ouve blues e rock progressivo ou "Simple" Simon Swafford (Chris O'Dowd), alma inocente e generosa que põe no ar os Seekers sem se aperceber da "foleirada" que isso representa. E, depois, o "jovem" Carl (Tom Sturridge), miúdo que aterra no barco como punição por ter sido suspenso na escola e que se tornará o centro do filme (a experiência, bem ao estilo de Richard Curtis, será o seu ritual de passagem à idade adulta). Pelo meio, há uma cozinheira lésbica, as raparigas que visitam os piratas no barco - a parte do sexo e das drogas - e há, inevitavelmente, Gavin. Interpretado por Rhys Ifans, é o dandy, o rocker cool, aquele que o actor nos define de uma forma peculiar: "os outros DJs difundem para a nação, o Gavin fica a apreciar o tom grave da sua voz e sussura ao ouvido das adolescentes". Ifans é quase indistinguível da personagem que interpreta. Rhys, o Spike de "Notting Hill", sotaque galês cerrado, é o rock'n'roller deste elenco. Literalmente - é amigo pessoal de Noel Gallagher e vocalista dos galeses The Peth. Presenteia-nos com analogias reveladoras: "Os Beatles são música para te apaixonares, os Stones são música para foder, The Who são música para lutar e os Led Zeppelin seriam a música para uma invasão de Marte". Todas as personagens que convivem no barco, alimentadas a música e isoladas do mundo real em terra, representam a "swinging London", tudo aquilo que estava a mudar na Inglaterra da década de 1960 (a acção decorre em 1966). Um momento definidor, acentuam-nos aqueles que viveram a época. Richard Curtis há-de recordar "um choque de culturas tão ofensivo que o governo de Margaret Thatcher foi, de facto, uma tentativa de voltar a 1957, antes de todas aquelas pessoas horríveis começarem a tocar o 'Hey Jude'". "O Barco do Rock" conta, de forma quase cartoonesca, qual sequência de sketches sem início e fim definidos (Curtis aponta como referências "A República dos Cucos", de John Landis, e "MASH", de Robert Altman), como dois mundos se confrontam. O novo, transmitindo do barco para a juventude da nação - toda a juventude: operários a ouvir os The Who, raparigas brancas e raparigas negras a ouvir as Supremes, miúdos do colégio a dançar ao som dos Stones e crianças em pijama, rádio a pilhas escondido debaixo da almofada, a sintonizar a frequência proibida, exactamente como Richard Curtis e Kenneth Brannagh nos contam ter feito há 40 anos). Paralelamente a isso, o velho mundo. Cinzento e destituído de humor, paranóico e receoso de que a civilização, tal como a conheciam, desaparecesse sob o ruído de uma guitarra eléctrica. É representado por Brannagh, que interpreta Sir Alastair Dormandy, o ministro determinado a encerrar a Radio Rock e recuperar os pilares de uma "outrora grande nação".

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