13/03/2009

CLINT EASTWOOD

"Aos 78 anos já não quero ser 'Dirty Harry'"
Ainda está fresca a chegada às salas portuguesas de "A troca", o filme anterior de Clint Eastwood, e aí está o seu trabalho mais recente, "Gran Torino", obra que chega esta quarta-feira aos cinemas de todo o país. Do anjo vingador do "western spaghett" passando pelo policia solitário com a sua magnum, Dirty Harry, até á aclamação como o ultimo dos clássicos, vai uma historia de quatro décadas. É o 66º filme de Eastwood enquanto actor e o 29º como realizador. Alguma da solidão que se sente nele, concorda Clint, já a conhecemos de outros filmes seus. De "Dirty Harry", de "Million Dollar Baby", de "O Sargento de Ferro"... Mas "Gran Torino" é o filme de uma solidão terminal, de algo que acaba. De todos os jovens actores que surgiram nos anos 60, ele era o que menos prometia grande carreira.
O biógrafo Richard Schickel, que foi crítico da "Life", depois da "Time", e escreveu livros sobre D. W. Griffith, James Cagney, Marlon Brando ou Cary Grant - o seu "habitat" é a memória do cinema clássico. O biografado é Clint Eastwood. Conheceram-se em meados da década de 70 e 20 anos depois, em plena consagração de Eastwood com "Imperdoável" (1992), Schickel atirou-se à tarefa de escrever uma biografia. A essas 500 páginas, "Clint Eastwood" (1996, Knopf), regressamos na altura em que a Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, programa uma retrospectiva da obra do actor/realizador ( até 12 de Março). Quando, depois de se arrastar sem esperança na TV americana do início dos anos 1950, aceitou o desafio de vir à Europa filmar a "Trilogia dos Dólares" com que Sergio Leone fazia a sua versão do "western" americano - o "western spaghetti" -, apareceu no horizonte o mito puro: um "homem sem nome", anjo vingador, a um tempo irónico e justiceiro. Hoje, 40 anos depois, Eastwood é aclamado como ícone. Clint dele começa por ser uma figura à deriva: filho da Depressão, quando chegou a Hollywood os seus heróis, James Cagney, William Wellman ou Hawks, estavam a acabar. O seu corpo nada tinha a ver com a neurose e a sede dos Brando, James Dean e Montgomery Clift que galvanizavam esses tempos. Nem com a limpeza bem comportada de Rock Hudson. Dessa inadequação, em pleno conformismo dos anos 50, iria Clint armazenar a raiva que explodiria no deserto de Almeria, em Espanha, onde Leone sonhava violentamente com o "western".
O próprio Clint Eastwood já veio a público dizer que "Gran Torino" poderá ter sido o seu último trabalho como actor.

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