06/09/2008

TODAS AS ALMAS - JAVIER MARIAS

A magnífica escrita de Javier Marias envolve o leitor numa narrativa intensa sobre temas que dizem respeito a todos nós: factos e intenções, o agir sem saber, a vontade que quase nunca se consuma, a negação das pessoas de que um dia gostamos, o esquecimento que faz tudo viajar até esfumar-se lentamente, a indecisão, a despedida e, por fim, o engano, que talvez seja ´nossa condição natural e, assim sendo, não deveria nos doer tanto.Sob a aparência de um relato autobiográfico "Todas as Almas " recria a singular experiência do seu narrador, professor universitário espanhol que passa uma temporada a leccionar num dos colégios da Universidade de Oxford. Nesta cidade fora do tempo e fora do mundo, onde os encontros e desencontros, o amor e a amizade, adquirem conotações mágicas e inquietantes, perfilam uma série de personagens cativantes. Os olhos que se cruzam na Universidade não são os mesmos olhos que se cruzam fora dos muros dela e o que pode assemelhar-se a incoerência é, na verdade, o culto da mais pura humanidade – o espírito iminentemente contraditório da nossa espécie. O acaso não existe, qualquer pose ou comentário é fruto de uma pré–determinação primária.E depois há… o lixo. Um passo na obra indicativo da subtileza de um narrador que se socorre do implausível para “provar” que todas as almas são analisáveis e que não há grandes mistérios que possam encobrir: «Quando uma pessoa está só, quando uma pessoa vive só e ainda por cima no estrangeiro, presta uma enorme atenção ao caixote do lixo, porque pode acabar por ser a única coisa com a qual mantém uma relação constante, ou, o que é ainda mais, uma relação de continuidade.

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