O pintor, arquitecto, escultor, poeta, astrónomo e arqueólogo Fernando Lanhas foi hoje a enterrar no cemitério de Sendim, em Matosinhos. Morreu no sábado à noite, no Porto, aos 88 anos.
Não obstante todos os atributos que sempre lhe surjiam colados ao nome, Fernando Resende da Silva Magalhães Lanhas era um homem inclassificável.
Poeta,arquitecto, arqueólogo, desenhador, astrónomo, pintor, Lanhas é um pouco de tudo isso. E é também um sonhador cujos sonhos são cuidadosamente anotados: os mais conhecidos são os de levitação
Morre aos 88 anos e desaparece do ponto de vista físico, mas permanecerá sempre como uma figura única da cultura portuguesa contemporânea.
Nascido em 16 de Setembro de 1923 na freguesia da Vitória, no Porto, inscreveu-se no Curso Especial de Arquitetura da Escola de Belas Artes do Porto, no ano leCtivo de 1941-1942. Teve então a companhia de Júlio Pomas e Nadir Afonso. Era o início de um percurso que o transformaria numa voz tão radical como contemporânea.
Há vários anos com grandes dificuldades auditivas, Fernando Lanhas foi criando a sua própria ausência do mundo comunicacional, mas teve uma fundamental retrospectiva da sua obra no Museu de Serralves, em 2001.
No ano seguinte, e no âmbito do conjunto de trabalhos feitos para a série "O Que a Vida me Ensinou", Fernando Lanhas deixou nas páginas do Expresso um testemunho de vida que agora aqui se recupera.
Hoje quando me encontrava a trabalhar, e bastante longe do cemitério de Sendim, em Matosinhos-a nossa morada final para os residentes cá, ouvi um som de um sino ao longe, não tem acontecido muitas vezes, disse a um colega de trabalho, ouves?,deve ser mais uma viúva que deixou partir o seu namorado, e agora vai arranjar um novo!
Ele como sempre muito macabro... disse, não, é carne fresca mas é um homem!
Esse grande HOMEM, sem o saber era o artista FERNANDO LANHAS.
Mais de manhã próximo do meu local de trabalho, vou sempre sozinho, mas ao chegar, encontro um colega, que ia a pé- vai sempre de transporte.... e chamei-o.
Andamos 50 metros, e diz-me ele, entretanto passa uma miúda por nós, cumprimenta-nos, e ouve-se uma pega a cantar- eu acho que nunca ouvi assim pelo menos desta maneira.
Responde ele, ui!, azar, vai acontecer algo de mal, para um de nós, ou para a miúda que passou.
Quando se ouve uma pega a cantar, é o anuncio da morte.
Fernando Lanhas esteve na génese do abstraccionismo na Arte portuguesa desde os anos 40 como modernista e dinamizador de exposições marcantes para a nossa História das artes plásticas, de que são bons exemplos as do grupo “Os Independentes”, realizadas na cidade do Porto nessa mesma década.Outro exemplo é o Museu Monográfico de Conímbriga e o Centro de Arte e Cultura de S. Pedro de Bairro.
Os "Independentes" foi o primeiro movimento organizado da Arte Moderna em Portugal, do qual também faziam parte também Nadir Afonso, introdutor do geometrismo em Portugal, e mais tarde Júlio Pomar - as quais iriam marcar toda a arte portuguesa deste século. É por essa altura que Lanhas se interessa por Alvarez e, um pouco mais tarde, recupera Amadeo de Souza Cardoso, que estava completamente esquecido.
Nascido no Porto a 16 de Setembro de 1923, Fernando Lanhas, que estudou arquitectura na Faculdade de Belas-Artes na Universidade do Porto, começou a pintar em 1944, tendo recebido o “Honoris Causa” pela Universidade do Porto em 2005
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