- Gosto de fazer palestras para grandes públicos. Eu sou um homem poderoso. Se fosse um compositor, eu seria Beethoven. Se fosse um líder religioso, seria Deus – afirmou.
Pode-se dizer, então, que se fosse um romancista noir, Deus gostaria de escrever obras como “Los Angeles: Cidade proibida” e “Dália negra”, dois dos seus livros mais famosos, ambos adaptados para o cinema. O primeiro, dirigido por Curtis Hanson, foi indicado ao Oscar. Já o segundo, de Brian De Palma, foi um fracasso de crítica, algo que não incomoda Ellroy.
- O dinheiro é o presente que ninguém recusa. É contra a minha mora criticar um filme baseado na minha obra. O dinheiro do cinema financiou os meus numerosos divórcio e sou muito grato por isso – disse.
O romance “Dália negra”, publicado em 1987, foi o primeiro grande sucesso. Baseado num crime famoso dos anos 1940 ocorrido em Los Angeles, onde Ellroy nasceu, o livro foi a forma que encontrou de exorcizar o trauma do assassinato da sua mãe, quando era criança. Ellroy contou que a ligação entre os dois casos se formou em sua mente oito meses depois da morte de sua mãe, quando o pai lhe deu de presente um livro que contava a história da Dália Negra.
- Uma bomba de tempo explodiu na minha mente e na minha alma, e essas duas mulheres se fundiram para mim. Usei a personagem para expressar todo o pesar que não pude extravasar na época da morte da minha mãe.
Mas, para ele, nem sempre a inspiração vem de tragédias desse tipo. Ele recordou que, em “Sangue errante”, o protagonista encontra a redenção no amor de uma mulher.
- Todo drama é a história de um homem procurando uma mulher. O resto é masturbação – disse Ellroy,
Devoto de Beethoven, o escritor abre espaço em sua discoteca de musica clássica (o único estilo que respeita) para Heitor Villa-Lobos. Além do compositor, outro brasileiro elogiado por Ellroy durante foi o pugilista Eder Jofre, que ele classificou como ö mais lutador que já vi”.
- Estou no Brasil, sou convidado de vocês, então tenho que dizer coisas profundas sobre o pais. Nos Estados Unidos, só lembram do Brasil como um pais de mulheres bonitas, grupos de extermínio, samba e aquela estátua do Cristo. Mas agora que estou aqui vejo que é muito mais do que isso.
Depois de quase uma hora e meia de conversa animada, o mediador se preparava para encerrar a mesa quando Ellroy o interrompeu:
- Esperem! Vocês não querem saber por que eu escrevo? – perguntou, antes de fechar a noite declamando o poema “In my craft or sullen art”, de Dylan Thomas:
In my craft or sullen art
Exercised in the still night
When only the moon rages
And the lovers lie abed
With all their griefs in their arms,
I labour by singing light
Not for ambition or bread
Or the strut and trade of charms
On the ivory stages
But for the common wages
Of their most secret heart.
Not for the proud man apart
From the raging moon I write
On these spindrift pages
Nor for the towering dead
With their nightingales and psalms
But for the lovers, their arms
Round the griefs of the ages,
Who pay no praise or wages
Nor heed my craft or art.
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