01/09/2008

A PLANICIE EM CHAMAS- JUAN RULFO

Em «A Planície em Chamas» (contos escritos na década de 40 e início da de 50 do século passado), o que se encontra são pobres-diabos, perdidos num mundo onde falta tudo menos a terra seca e dura e o Sol a queimar como fogo. É esse o cenário escolhido por Rulfo para as suas histórias atravessadas pela solidão, pela violência e pela morte. Ou talvez nem se trate de uma escolha, talvez tenha sido a única opção de Rulfo ao colocar no papel as suas personagens. Por onde poderiam elas andar a não ser por sítios assim?. Escrita seca e áspera como a terra por onde andam as suas personagens: mortos para ser ou mortos já. A paisagem é cruel, inclemente, povoada por habitantes sem remorsos. Para contar as histórias, recorre-se muitas vezes à personagem que narra em monólogo à que se mantém como ouvinte. Um outro que somos nós.Tal como em Pedro Páramo, onde um morto contava a história como se estivesse vivo sobre uma aldeia de fantasmas, de almas penadas, também aqui Rulfo abdica do espaço e do tempo como coordenadas reais e coloca as suas personagens num tempo e geografia indefinidos. Que acabam e começam com cada conto; ou não começam, nem acabam, apenas ficam suspensas à espera do leitor.Histórias de malparidos; de condenados; de foragidos; de seres humanos a quem nem o Sol dá uma ajuda. De gente que morre porque é mais fácil morrer; de vida que apenas é corrida desenfreada para o ataúde.«Sobre os que avançam com a morte ao ombro»Quando um livro de contos começa com uma preciosidade de cinco páginas chamada Deram-nos a Terra, e logo aí justifica a sua existência como obra, quer dizer que a mão que lhe deu forma não brincava à literatura quando o escreveu.Poucos serão os escritores com obra tão breve como Juan Rulfo (este livro de contos mais a novela Pedro Páramo são toda a sua produção literária) capazes de o superar em influência e importância. Rulfo é para a literatura de língua espanhola o que William Faulkner é para a de língua inglesa. Um instante de renovação que marca o futuro.

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