Se
não é o disco mais influente de sempre, não deve andar lá longe. The
Velvet Underground & Nico, o “álbum da banana”, acaba de ser alvo de
reedição especial. Um acontecimento.
Era um
lugar dedicado à arte, às experiências, à subversão, pelo que a Factory
era o lugar perfeito para os Velvet Underground, escrevia John Cale,
co-fundador do grupo, na sua autobiografia (What's Welsh For Zen?) lançada no ano passado.
O disco
saiu em Março de 1967, em pleno "Verão do amor", e era uma anomalia
desse tempo. Os Velvet não eram hippies, nem queriam nada com eles. As
letras não tinham nada de All you need is love, preferindo abordar paranóias, heroína, sadomasoquismo, desejo, morte, o lado B dos anos 1960.
Também
não havia longos e virtuosos solos de guitarra à Hendrix, apenas solos
curtos e acordes básicos. E o visual era fora de época: todos de negro,
óculos escuros, atitude distante. Claramente os hippies não gostavam
deles. Quando tocaram em São Francisco, ao lado dos Jefferson Airplane e
Frank Zappa, foram vaiados. Eram a banda certa, na cidade certa, na
época errada.
A retórica da paz & amor, da meditação e do
sexo livre, passava-lhes ao lado. Eles viviam e cantavam o submundo de
Nova Iorque. Só podiam resultar em qualquer coisa de diferente. Tão
distintos que nenhuma multinacional se veio a interessar. Em 1996
receberam uma nota da Columbia dizendo que ninguém no seu perfeito juízo
se viria a importar com aquilo.
Tudo começou quando o galês
John Cale conheceu Lou Reed em 1964, quando foi estudar música clássica
para Nova Iorque. Cale já trabalhara com compositores das vanguardas
como Cornelius Cardew e La Monte Young, mas também se interessava por
rock e Reed era essa porta de entrada. Mais tarde haveriam de
juntar-se-lhes o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Moe Tucker,
que mal sabia tocar. Em Dezembro de 1965 um grupo de boémios, liderado
por Warhol, acabou por assistir a um concerto do grupo no Café Bizarre.
Encantado pela prestação demoníaca dos quatro, Warhol felicitou-os,
propôs que actuassem na Factory e sugeriu que integrassem a loira alemã
Nico para cantar algumas canções.
A reputação de Warhol deu-lhes maior visibilidade, acabando a tocar na Factory. Enquanto Warhol apresentava slides e filmes e alguns bailarinos criavam performances com chicotes e cruzes, os Velvet tocavam uma música repleta de ruído e reverberação.
Apesar
de creditado como produtor, Warhol pouco agiu sobre a música,
cotando-se como o homem que lhes atribuiu o sentido de liberdade, a
caução artística, a visibilidade mediática e uma capa icónica - uma das
mais célebres de sempre. Ainda recentemente um juiz nova-iorquino
indeferiu o processo levado a cabo por Lou Reed e John Cale contra a
Fundação Warhol pela utilização da imagem da banana criada por Warhol.
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