07/12/2012

NO GIRA DISCOS DO MARCAS CARDEAIS

 Se não é o disco mais influente de sempre, não deve andar lá longe. The Velvet Underground & Nico, o “álbum da banana”, acaba de ser alvo de reedição especial. Um acontecimento. 

 Era um lugar dedicado à arte, às experiências, à subversão, pelo que a Factory era o lugar perfeito para os Velvet Underground, escrevia John Cale, co-fundador do grupo, na sua autobiografia (What's Welsh For Zen?) lançada no ano passado.

O disco saiu em Março de 1967, em pleno "Verão do amor", e era uma anomalia desse tempo. Os Velvet não eram hippies, nem queriam nada com eles. As letras não tinham nada de All you need is love, preferindo abordar paranóias, heroína, sadomasoquismo, desejo, morte, o lado B dos anos 1960.

Também não havia longos e virtuosos solos de guitarra à Hendrix, apenas solos curtos e acordes básicos. E o visual era fora de época: todos de negro, óculos escuros, atitude distante. Claramente os hippies não gostavam deles. Quando tocaram em São Francisco, ao lado dos Jefferson Airplane e Frank Zappa, foram vaiados. Eram a banda certa, na cidade certa, na época errada.

A retórica da paz & amor, da meditação e do sexo livre, passava-lhes ao lado. Eles viviam e cantavam o submundo de Nova Iorque. Só podiam resultar em qualquer coisa de diferente. Tão distintos que nenhuma multinacional se veio a interessar. Em 1996 receberam uma nota da Columbia dizendo que ninguém no seu perfeito juízo se viria a importar com aquilo.

Tudo começou quando o galês John Cale conheceu Lou Reed em 1964, quando foi estudar música clássica para Nova Iorque. Cale já trabalhara com compositores das vanguardas como Cornelius Cardew e La Monte Young, mas também se interessava por rock e Reed era essa porta de entrada. Mais tarde haveriam de juntar-se-lhes o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Moe Tucker, que mal sabia tocar. Em Dezembro de 1965 um grupo de boémios, liderado por Warhol, acabou por assistir a um concerto do grupo no Café Bizarre. Encantado pela prestação demoníaca dos quatro, Warhol felicitou-os, propôs que actuassem na Factory e sugeriu que integrassem a loira alemã Nico para cantar algumas canções.

A reputação de Warhol deu-lhes maior visibilidade, acabando a tocar na Factory. Enquanto Warhol apresentava slides e filmes e alguns bailarinos criavam performances com chicotes e cruzes, os Velvet tocavam uma música repleta de ruído e reverberação.

Apesar de creditado como produtor, Warhol pouco agiu sobre a música, cotando-se como o homem que lhes atribuiu o sentido de liberdade, a caução artística, a visibilidade mediática e uma capa icónica - uma das mais célebres de sempre. Ainda recentemente um juiz nova-iorquino indeferiu o processo levado a cabo por Lou Reed e John Cale contra a Fundação Warhol pela utilização da imagem da banana criada por Warhol.

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