Peter Hook & The Light- (o baixista dos The Light é o seu filho Jack Bates, Nat Wason na guitarra, Paul Kehoe na bateria e Andy Poole nas teclas) ), mostrou que a luz dos Joy Division ainda se acende num concerto visceral em que as emoções foram mais fortes que as cadeiras no CCB.
Os prazeres desconhecidos imortalizados pelos Joy Division foram partilhados por Peter Hook e público num concerto em que as cadeiras não impediram invasão de boca de palco.Se as canções dos Joy Division são maiores que a vida, as de «Unknown Pleasures» são imortais mas o que separava Peter Hook & The Light da vitória antecipada não era a reacção do tempo ao álbum mas antes a legitimidade de subir ao palco sem Bernard Summer e Stephen Morris, isto é a banda sem Ian Curtis.
A questão põe-se ao contrário: os New Order sem Peter Hook fazem sentido? Por agora, era a vez de Peter Hook ser escrutinado mas quando o baixo de «Atmosphere» irrompeu no nevoeiro virtual do CCB, todas as teorias foram parar ao coração. A cortina de incerteza estava descerrada e a, partir daí, era só seguir o mapa do coração.
Foi um concerto em crescendo, visceral, sem grande necessidade de comunicação - apesar de um «you're fucking wild» já no final - porque as canções vivem por si. E numa época em que muito se discute o papel da música e a forma como a escutamos, ontem ela foi defendida enquanto arte perante uma plateia muito generosamente composta por herdeiros das tribos.
O pretexto do concerto foi então «Unknown Pleasures» mas o alinhamento total de 22 canções não se poderia esgotar aí - o alinhamento terminou com «Ceremony», a canção que faz a ponte entre os Joy Division e os New Order (foi primeiro single destes), possivelmente para construir uma primeira ponte com os concertos evocativos de «Movement» e «Power, Corruption & Lies» agendados para Janeiro do próximo ano.
Antes, um encore catártico com «Dead Souls», «Transmission» e «Love Will Tear Us Apart» tinha rebentado com quaisquer vestígios de erudição no CCB. A invasão precoce de primeira fila era seguida de um cenário tipo estádio com coros que se antecipavam ao refrão e uma vontade imensa de centenas de pessoas de subir ao palco.
Não foi possível mas Peter Hook haveria de escrever no Facebook que o concerto de Lisboa tinha sido um dos melhores de sempre, alimentando o desejo de regressar a Lisboa agora com o concerto de «Closer». Depois de ontem, a promessa manifestada ao I é certamente para cumprir.
«Aqui está o alinhamento do concerto de Lisboa, tão grande que nem cabe numa só página! Obrigada a toda a gente que veio ver-nos, foi um dos nossos melhores concertos de sempre. VAMOS VOLTAR!», escreveu.
Tal como o concerto dos New Order em 2005 no Super Bock Super Rock, Peter Hook & The Light trouxeram litros de emoção para distribuir por todos aqueles que nunca puderam ver os Joy Division. Não foi uma noite perfeita mas os possíveis defeitos - a voz de Peter Hook e a sensbilidade da banda - ficaram em Manchester.
Davide Pinheiro
Muitos jovens, ainda não eram nascidos quando os Joy Division terminaram há 32 anos, polvilhavam a plateia e foram dos mais entusiastas.
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