01/08/2012

R.I.P. GORE VIDAL

O escritor norte-americano Gore Vidal, autor de obras como “Império” e a grotesca comédia sexual  “Myra Breckenridge”, que encheu os seus romances e ensaios com observações agudas sobre política, sexo e cultura nos Estados Unidos, e que travou duras disputas com rivais literários de alto nível, morreu nesta terça-feira, aos 86 anos.

Um sobrinho do escritor, Burr Steers, indicou ao jornal Los Angeles Times que o romancista morreu em consequência de uma pneumonia, em casa, nas colinas de Hollywood.

Gore Vidal é considerado um dos nomes maiores da literatura americana, a par de nomes como Ernest Hemingway e Truman Capote, pelos quais, de resto, não nutria grande simpatia. Os seus inimigos jurados da literatura norte-americana eram, porém, William F. Buckley Jr. e Norman Mailer.

 Gore Vidal nasceu na Academia Militar de West Point em 3 de outubro de 1925, dentro de uma família com excelentes contatos no mundo da política. Era filho de um pioneiro da aviação americana e foi criado em Washington, D.C., onde seu pai trabalhou para o governo Roosevelt e seu avô foi o senador T. P. Gore.



Conhecido pela genialidade da escrita, era igualmente famoso pelo estilo de vida extravagante e pela vida sentimental agitada. O narcisismo e “ego gigantesco” eram igualmente lendários. Em 2008 disse numa entrevista à revista “Esquire” que as pessoas ficavam sempre impressionadas por ele ter conhecido pessoas como Jacqueline Kennedy, quando na realidade o que deviam comentar era o contrário: “Porque não dizer a verdade - que essas pessoas me conheceram a mim”.

Para além de romances, Vidal escreveu igualmente ensaios, peças de teatro e guiões televisivos, nunca deixando para trás o activismo político. Vidal foi sempre uma figura de peso a gravitar em torno do Partido Democrata mas nunca conseguiu ser eleito para nenhum cargo político.

Gore Vidal começou a escrever com 19 anos, quando cumpria serviço militar no Alasca. O primeiro livro foi publicado sob o título “Williwaw” e tem como pano de fundo a II Guerra Mundial. O seu terceiro livro, "A Cidade e o Pilar", causou sensação em 1948, por ter um homossexual assumido como protagonista.

O primeiro romance político, “Washington D.C.”, nasceu em 1967 “por acidente”, sem nenhum propósito particular. Sem ele mesmo se aperceber disso, começaria assim aquilo a que a New York Times Review of Books baptizou, já lá vão bastantes anos, como as “Crónicas Americanas”, dizendo que Vidal era o mestre absoluto do género.

A seguir a “Washington D.C.”, Vidal escreveu “Burr”, “Lincoln”, “1876”, “Império”, “Hollywood” e “A Idade de Ouro”. São estes os títulos dessas “Crónicas”, uma série que não é série. Todos os romances são independentes uns dos outros e, ao mesmo tempo, todos eles se completam (o primeiro e o último decorrem aliás no mesmo período, entre a génese e o pós-II Guerra Mundial, mas com personagens diferentes).



Como argumentista  de cinema, Vidal escreveu os textos de "Calígula" (1979) e "Paris está em chamas?" (1966).

Gore Vidal, certo dia descreveu os Estados Unidos como “a terra dos aborrecidos e a casa dos literais”, viveu grande parte da vida numa villa italiana. Só se voltou a instalar permanentemente nos EUA em 2003 após a morte do companheiro de há mais de 50 anos, Howard Austen.

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