A Casa de Chá da Boa Nova é uma conhecida casa de chá e restaurante,
instalada no edifício que foi uma das primeiras obras (1958-1963) do arquitecto
Álvaro Siza Vieira.
É um dos locais procurados pelos amantes da arquitectura, pelos apreciadores de uma boa
refeição e, sobretudo, pelos que gostam de contemplar o mar.
Construída sobre as rochas, a apenas dois metros da água, com o mar em
fundo, o espaço começou por funcionar, originalmente, apenas como casa de cháO arquitecto Siza Vieira lamentou hoje que a Casa de Chá da Boa Nova, Matosinhos, esteja «absolutamente abandonada» e disse já ter entregado o projecto para a sua recuperação, embora a Câmara afirme faltarem elementos para abrir concurso.
«Embora eu tenha ouvido que tomaram as providências de segurança, não vejo nenhuma. Acho que está absolutamente abandonada e se é claro que as obras para recuperar o que ali se fez significam dinheiro, cada dia que passa é mais dinheiro que se vai ter de gastar», afirmou o arquitecto portuense à agência Lusa, a propósito do edifício da sua autoria e classificado como Monumento Nacional.«O que eu sei é que está a ser quotidianamente saqueado», acrescentou.
O vereador Fernando Rocha, à frente da autarquia de Matosinhos durante as férias do presidente Guilherme Pinto, garante que aquela que foi uma das primeiras obras do premiado arquitecto «não está ao abandono» e que, neste momento, existe «um polícia municipal permanentemente, dia e noite», a vigiar aquele edifício que foi objecto de vandalismo e assalto, nomeadamente para o roubo de estruturas de cobre.
Siza Vieira, afirma que entregou «o projecto há muito tempo, bem como um cálculo com a estimativa do custo da obra».
«Por isso, está pronto para ser aberto o concurso, mas não sei quando começa», afirmou.
A recuperação a efectuar, explicou, o vereador «é uma recuperação material, até porque as últimas obras foram feitas há 20 anos e, por um lado, há coisas que já não funcionam ou funcionam mal, como sejam as infra-estruturas em geral».
«Por outro lado, há novos regulamentos» e esses devem ser adequados ao edifício.
Fernando Rocha recordou que o edifício tem 54 anos e que vai ser preciso refazer «cozinha, casas de banho, rede de frio, rede de exaustão».
«Tudo o que está por detrás e que nós não vemos é que vai consumir o dinheiro», disse.
O arquitecto que receberá este ano o Leão de Ouro de carreira na Bienal Internacional de Arquitectura de Veneza, em Itália, entregou também um projecto de recuperação do exterior, que afirma que «foi tão maltratado como o edifício», lembrando que aquilo era «uma colina verde, mas foi transformada em parque de estacionamento».
Fernando Rocha explicou à Lusa que serão gastos cerca de 300 mil euros na recuperação do espaço envolvente e que a obra «entrou na candidatura das obras da marginal, com financiamento do Quadro de Referência Estratégico Nacional e que já está em execução».
«Não é só para o salão de chá, mas também a envolvente da capela que lhe fica próxima».
O vereador da Câmara de Matosinhos explicou ainda que «houve um assalto e um incidente de vandalismo» no edifício.
O objectivo da autarquia – que tem sido criticada pela oposição relativamente ao estado do salão de chá - continua a ser valorizar aquele espaço, tendo assumido, em Março, estar em negociações com o chefe Rui Paula, dono dos restaurantes DOP e DOC.
Na ocasião, o presidente Guilherme Pinto disse que tinha o objectivo de se aliar a um parceiro que faça Matosinhos «conquistar uma estrela Michelin, que distingue os melhores restaurantes».
O arquitecto Siza Vieira, que tem uma estima especial por aquela obra, mas estima também «por outras que correram bem», esperava que a Casa de Chá da Boa Nova, «sendo uma obra classificada, fosse bem tratada».
«Mas, hoje, nem mesmo as classificadas escapam aos maus tratos e a este hábito que há de nunca fazer manutenção, começando pela obra pública».
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