Black Mountain "Wilderness Heart" 2010,Jagjaguwar.
Os Black Mountain formaram-se no ano de 2004, em Vancouver, no Canadá. Iniciada como um projecto paralelo de Stephen McBean, músico conhecido pelo seu projecto a solo, os Pink Mountaintops (outra referência geológica) cedo se tornaram na sua principal preocupação - e fonte de rendimentos. Em 2005 editaram o primeiro disco, um álbum homónimo que captou a atenção das pessoas certas - mas escapou às rádios. Convidados para tocar com os estratosféricos Coldplay, a discreta banda de quatro gentis cabeludos e uma senhora começou a correr o mundo. Estiveram perto do estrelato internacional, mas sem lhe tocar, à boleia de uma banda que enchia salas de concerto à maneira dos U2.
Estavam os Black Mountain prestes a tornar-se super-estrelas? "Não é que queiramos ser estrelas rock, queremos apenas ter uma vida boa", conta Matt com humildade. "A partir dessa altura isto tornou-se um emprego. Não paga extremamente bem, mas foi isto que escolhemos fazer para o resto da vida e por isso era bom ter algum futuro e poupanças. Daí que era bom que tocássemos para o maior número de pessoas possível".
Regressados a casa depois dessa digressão, muitos membros da banda voltaram para Vancouver, regressando também para os seus empregos das nove às cinco. Mas "In The Future", o segundo disco que apareceu em tudo o que era top dos melhores de 2008, fez com que a banda tivesse de deixar os seus empregos - não há licença sem vencimento que cubra o período que leva uma banda rock a correr o mundo e a gravar alguma da melhor música desta década.
"Tivemos de deixar tudo o que eram compromissos profissionais e dedicar-nos apenas à música. Não foi nada difícil", brinca Camirand. "Sempre que regressamos a Vancouver apenas pensamos em descansar." Agora só em Dezembro é que a banda vai poder voltar a casa e fazer uma cura de silêncio. "Ir ao lago, ir para uma cabana beber vinho, jogar às cartas e estar com os amigos. No essencial: fugir de bares e fugir de música. Deixar que o zumbido nos nossos ouvidos pare durante uns tempos."
Antes eram verdes e castanhos. Com o disco,"Wilderness Heart", os Black Mountain são agora cinzentos e azuis. A descrição é de Matt Camirand, baixista da banda canadiana que lançou um disco de rock às vezes pesado e arrastado, outras vezes leve e portátil - "queríamos um disco mais frio e duro que o anterior", conta, acrescentando temperatura e textura ao primeiro comentário.
A distinção cromática serve para ilustrar as mudanças no som da banda que em tempos foi descrita como uma reincarnação hippie no seio do rock pesado. "Nós não vivemos todos na mesma casa, não vamos à procura de comida nos contentores do lixo e não ficamos em casa a fumar erva e a cantar o dia todo", conta Matt pelo telefone durante uma pausa na promoção do novo disco. "Eu curto esse som e essa onda toda, oiço muita música conotada com esses tempos, mas ao darem- -nos esse rótulo dá-nos a ideia de que estamos a tentar regurgitar o movimento hippie e não quero que isso esteja associado a nós".
Um dos motivos desta confusão é o Black Mountain Army, um colectivo de músicos da mesma cidade que foi tido como uma "cena comunal" de troca de experiências. Falso. "O nome era só uma piada mas a coisa chegou à imprensa e perdemos o controlo".
Os Black Mountain não são hippies barbudos abraçadores de árvores. São apenas barbudos. A sua música é demasiado ruidosa para ser tocada por escuteiros à volta de uma fogueira e muito dificilmente encontramos referências ao binómio "paz e amor" nas letras do grupo. "Somos apenas uma banda rock''n''roll".
A outra técnica para afugentar o nocivo preconceito que carregam desde o primeiro disco foi a capa de "Wilderness Heart": um tubarão a consultar a sua complexa dentição no reflexo de um prédio de escritórios. "Estávamos um dia no estúdio a falar do disco, a dizer como gostávamos que o som fosse mais duro e directo. O Jeremy [Schmidt, teclista] foi para casa e voltou com esta imagem, uma cena fria e agressiva. Achámos logo que era perfeito."
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