07/11/2010

ULVER


Ulver significa "lobo", no idioma norueguês.

"Após todos esses anos, o lobo ainda é meu animal totem, e carrega fortes valores simbólicos para mim. Certamente, não somos cães. Nos recusamos a ser domesticados... (risos)"
Garm para a revista Kerrang!

Em 1992, com a explosão da Inner Circle of Black Metal, o jovem Kristoffer Garm Rygg, então com 15 anos, inicia a banda que rapidamente assumiria sua posição de destaque entre as pioneiras do estilo. Em 1993, gravam a demo Vargnatt e, Bergtatt (1995), um álbum de intensa originalidade, contrastado-se com o cliché destilado na época por bandas como Burzum, Emperor ou Darkthrone, que ainda lançava Transilvaninan Hunger, hoje considerado um clássico do black metal cru. Bergtatt mostra uma grande influência do Bathory, e mescla com passagens acústicas, como na faixa "Een Stemme Locker", que já apontava a direcção do álbum seguinte...

Kveldsjanger é lançado em 1996, e aqui o Ulver começa a desnortear os seus seguidores. Ontem no concerto ouvi alguns a queixarem-se. banda parte para um álbum completamente acústico, composto de cordas e um coral de vozes. A mudança inesperada dividiu opiniões, e mais tarde esta seria percebida como uma particularidade da banda. Nenhum disco repete o anterior.

No ano seguinte surpreende novamente, Nattens Madrigal, um dos álbuns mais secos e violentos da história do black metal. Diz a lenda que o disco foi gravado dentro de uma floresta norueguesa, o que não é de se duvidar e talvez justifique a baixa qualidade da gravação. Seria então uma espécie de piada sobre a rigidez típica do black-metal? Não existem meios seguros de se obter uma resposta, mas o fato é que, brincadeira ou não, o disco entrou para a história. Cada uma das oito faixas leva um título como "Wolf and fear", "Wolf and devil", "Wolf and passion"...

Grellmund – guitarrista em Vargnatt (cometeu suicídio a 31 Dezembro de 1997)

No ano de 1998, esses três trabalhos são reunidos, em luxuosas versões Picture LP, na caixa The Trilogie, que fecha definitivamente a primeira fase da banda.

Após a prisão de Varg Vikerness (Burzum), o cenário black metal sofre profundas mudanças na Noruega. Neste momento, Garm desfruta de um status de semi-deus dentro da cena, visto o sucesso de suas bandas Ulver e Arcturus, além de passagens importantissimas em bandas como Emperor, Borknagar e Dimmu Borgir. Seu peculiar vocal passa a ser largamente imitado, assimilado como parte do estilo viking/black-metal.

Garm deixa evidente que o black-metal não lhe oferece mais desafios. No mesmo ano do Nattens Madrigal (1997), ele extrapola as barreiras do estilo com sua banda Arcturus, no polêmico La Masquerade Infernale. Trata-se do mais revolucionário álbum lançado por uma banda de black-metal, porém, não mais caberia no rótulo.

Em 1999, é lançado o épico duplo Themes from William Blake's The Marriage of Heaven and Hell, um recital do livro onde Blake evoca o poder da imaginação contra as restrições da condição humana. Musicalmente falando, trata-se de um estranho híbrido de rock industrial, metal, jazz e música ambiente, que afastou de vez uma boa parte dos puristas do estilo black-metal, ao mesmo tempo em que levou a música do Ulver a diversos outros segmentos, trazendo o interesse de renomados produtores, pedidos de remixes e convites para diversos projetos multimídias. O diretor de cinema Harmony Korine (Gummon, Kids) comentou, a respeito deste álbum, que "há uma evolução linear entre um compositor como Wagner e a música de uma banda como o Ulver".

Ainda em 1999, o Arcturus lança Disguised Masters (& the Deception Circus), que nada mais é senão o pecado capital para uma banda do genero: um álbum de remixes. Este tiro de misericórdia nos fãs radicais marca também o fim do Arcturus. A partir dai, Garm decide se dedicar exclusivamente ao Ulver.

No ano seguinte, o lançamento do EP Metamorphosis transmite toda a combustão deste período. Seu encarte traz o curioso recado;

O ULVER obviamente não é uma banda de black metal nem deseja ser estigmatizada como tal. Orgulhamo-nos de nossos instintos anteriores, mas desejamos comparar nossa relação com o gênero citado àquela existente entre a serpente e Eva: apenas um incentivo para futuras travessuras.

"Há tempos somos fascinados pelo problema do silêncio no som. Até onde sei, a comunicação é atrelada à conotação. Assim como determinados lingüistas trabalham de encontro aos sinais comuns do texto como línguagem, nossa intenção é levar o som para lugares nunca ouvidos antes"
Garm para a revista Kerrang!

A ruptura acontece com o quinto álbum, em 2001. Perdition City traz um Ulver moderno e sofisticado, descendo ainda mais fundo na contemplação da beleza e da decadência. Soando quase como uma versão cínica de bandas como The Future Sound of London, o disco cativa com sua estética madura e tremenda capacidade de evocar imagens urbanas, melancólicas, familiares. Não por acaso, o disco leva o subtítulo Music for an interior film.

Eu concordo que nós somos talvez mais pintores que músicos. Existem meios de pintar ou projetar a música ao invés de simplesmente tocá-la. Você tem uma visão, e então você usa o que for necessário para realizar essa visão, dar-lhe vida. Assim, o resultado é uma forma muito visual de música."
Entrevista para a Moondance, 1999

Talvez a única constante durante o trajeto do Ulver, seja a propriedade visual de sua música, sua capacidade de inspirar imagens. Sendo assim, ela parece chegar ao seu destino quando encontra o cinema. Isso ocorre em 2002, com Lyckantropen Themes, banda sonora para um média-metragem Sueco. O DVD do filme, um minimalista suspense sobre lobisomens, inclui uma entrevista de 20 minutos com a banda, que discute todo o material já lançado, além de comentar sobre um futuro álbum, possivelmente intitulado Utopian Enterprises.

Em 2002 ocorre também um inesperado retorno dos Arcturus, com o álbum The Sham Mirrors.
Em 2003, os Ulver compõe para o filme Norueguês Svidd Neger.
Os 10 anos de atividades da banda são então celebrados com o lançamento de 1993-2003: 1st Decade In The Machines.

Segue-se Blood Inside, 2005, e Shadows of the Sun em 2007, ambos na Jester Records , e já em 2010 Psyche.

* Kristoffer Rygg (aka Garm/Kris) - vocals, additional programming
* Jørn H. Sværen - miscellaneous
* Tore Ylwizaker - programming, keyboards
* Daniel O'Sullivan - guitar, bass, keyboards

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