08/10/2010

BRET EASTON ELLIS

Do autor de Menos que Zero, Lunar Park, As Regras da Atracção, ou Glamorama, saiu um dos romances mais violentos da história da literatura, o Psicopata Americano.O escritor norte-americano anda a promover o seu mais recente romance, Quartos Imperiais (ed. Teorema), que retoma as personagens do seu primeiro livro, Menos que Zero.Como forma de promoção de Imperial Bedrooms, a Picador lançou uma aplicação tão polémica como os livros do escritor. A ideia é conhecer o diabo que mora em nós. Para isso temos à nossa mercê uma candidata a actriz.

Na Feira do Livro de Frankfurt ao ser entrevistado por Christoph Amend comentou "As digressões para promover livros são uma coisa muito estranha". "No início, de alguma maneira, sentimo-nos um homem muito forte. Temos na cabeça as respostas e sabemos quais foram os nossos objectivos. Depois, à medida que o tempo vai passando, sentimos-nos um bebé. Não sei explicar muito bem isto: vamos ficando cada vez mais fracos. A digressão força-nos a ser mais autênticos, a sermos mais reais, e a máscara que tínhamos no início das viagens para apresentarmos o livro e nos apresentarmos a nós mesmos cai e desaparece. As entrevistas mais recentes, comparadas com as que dei em Maio, são completamente diferentes."

O jornalista aproveitou para lhe perguntar se lembrava dos anos 80 e citou o músico e pop star Falco, que disse uma vez que se nos lembramos do que se passou nos anos 80 é porque não os vivemos. "Para mim, os anos 90 foram mais loucos do que os anos 80. Os anos 80 que eu recordo, passei-os no liceu e na faculdade. A década de 90 é aquela de que me lembro melhor, mas percebo o que Falco quer dizer. Nos anos 80, toda a gente andava apaixonada pela cocaína e a desperdiçar dinheiro."

Já abandonou as drogas, falou disso há uns anos. "Sim, deixei de consumir drogas, mais ao menos..., há cerca de cinco anos. Mas nunca fui um drogado do tipo de precisar de entrar em recuperação. Para mim, foi sempre uma coisa social, era divertido, nunca perdi uma relação de amizade ou um trabalho por causa de drogas. Nunca interferiu com a minha saúde. Se tivesse sido mais tempo, talvez interferisse. Quanto mais velhos ficamos, mais aborrecido se torna. Não sei por que é que estou a contar isto. Na semana passada, em Berlim - que dia é hoje? Quarta... -, sábado à noite, em Berlim, foi mesmo... Mas foi a primeira vez desde há muito tempo."


Na maior feira do livro do mundo, conta que a casa onde cresceu estava cheia de livros. Os seus pais sempre leram muito e ele foi leitor desde muito novo. Também por causa do ambiente que se vivia em sua casa, a relação entre os seus pais era difícil. "O meu pai era uma pessoa problemática, não era fácil viver com ele, de modo que desaparecer dentro de um livro era para mim uma coisa que eu gostava muito de fazer. Gostava tanto que comecei a escrever. Um dia li "O Sol Nasce Sempre (Fiesta)", de Hemingway, e tudo mudou. Percebi que queria escrever um romance. Decidi que seria sobre o incrível e interessante Verão dos meus 14 anos. E quando terminei esse romance percebi que tinha sido um Verão incrivelmente desinteressante. Pensei que da próxima vez iria tentar escrever alguma coisa completamente diferente. Por isso o projecto do Menos que Zero [que o lançou para a fama] começou quando eu tinha 16 anos. Sempre gostei de ler, por isso não me parecia algo completamente disparatado querer expressar-me através da escrita. O que me fazia sentir um extraterrestre é que mais ninguém estava a fazê-lo. Sentia-me, a esse nível, muito distante dos meus amigos de 16, 17 anos." Apesar de sair, de ir a festas, de se ter divertido enquanto era adolescente, tinha essa espécie de depressão vinda do sentimento de ser alguém que estava fora do baralho.

Aos 20 anos, em 1985, o seu primeiro romance tinha acabado de ser publicado e toda a gente olhava para ele e dizia que era doido, afundado no sucesso e sempre em festas. Andy Warhol foi a uma das suas festas à qual Madonna esteve para ir mas à última hora não foi. "Ela não foi convidada. [risos] Está a descrever o primeiro ano, quando ainda era divertido. E parecia uma boa ideia. Mas depois deixou de ser. É muito bom ter sucesso numa coisa que nos dá prazer fazer, mas ser muito conhecido não é assim tão bom. Torna-se um problema", afirma. A minha vida não se parece nada com o que se passa nos meus livros de ficção. Se isso acontecesse, eu não poderia ser um escritor. Não conseguiria escrever".

in Publico.

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