Como Oscar Wilde, Schiele foi preso por transgredir as convenções morais e sociais do seu tempo.
O tempo no presídio, de 13 de Abril a 7 de maio, é relativamente curto. Porém, ficar na cadeia – assim como perder alguém querido – é o tipo de experiência que se entende melhor ao senti-la na pele. Esta é que é a verdade, E FELIZMENTE POUCOS O SENTIRAM.
O livro, Im Gefangnis / Na prisão, de edição bilíngue, reúne os diários, desenhos e aguarelas que o pintor austríaco Egon Schiele (1890/1918) fez em 1912, durante os vinte e quatro dias que passou encarcerado, em condições humilhantes, Neulengbach, a 35 quilómetros de Viena, Austria.
Viveu entre os próprios excrementos, respirou sufocantes odores e ficou incomunicável por dias, usando a saliva para desenhar no cimento da cela.Foi acusado de sedução de uma adolescente e de difusão de material pornográfico.
O artista pagou o preço de fazer desenhos e pinturas eróticos, considerados obscenos pelo juiz que tratou do caso – este teria, inclusive, queimado uma das obras no tribunal, usando a chama de uma vela.
As dez imagens da prisão que acompanham o diário não têm qualquer apelo erótico. Revelam a agonia do artista, as suas ideias sobre a moral burguesa e a função do artista na sociedade, alterna momentos de revolta, de humildade e vaidade, reflexão, e o seu estado de alma contra o tratamento recebido na prisão, e contra a grande injustiça da sua prisão.
Schiele achava que iria apodrecer na prisão. E teria mesmo, se o juiz que queimou o seu desenho erótico fosse o demónio que o artista pintou. Schiele, no diário, quer que o leitor o veja como vítima de uma grande injustiça, a de ter apenas produzido arte erótica repudiada num país de hipócritas, que consumia pornografia vendida nas mesas dos cafés vienenses.
Reclama que não foi julgado e que seria bom prender todos os deputados, para que "legisladores imponderados" sentissem na própria pele o que significa estar preso.
“O que será que eu faria agora, caso não tivesse a arte?”, diz o diário no dia 27 de Abril. “Quão terríveis seriam as horas incompreendidas... (...) Amo a vida.
Nem tudo é verdade no seu diário.O seu depoimento é cheio de auto comiseração, omissões e, possivelmente, uma ou duas mentiras, sobre as circunstancias da prisão. Há quem diga que o verdadeiro autor não foi Schiele, mas Arthur Roessler, seu amigo, como documento de defesa. É sabido, também, que o artista sentia de facto atracção por ninfetas esquálidas e miseráveis, que atraía ao seu estúdio. E talvez tenha mesmo se aproveitado da extrema pobreza de algumas.
Egon Schiele nasceu no dia 12 de Junho de 1890 e morreu em 31 de Outubro de 1918, vítima da gripe espanhola, três dias depois de sua mulher, Edith, que estava grávida de seis meses, também da gripe.Foi pupilo de Gustav Klimt, fez parte do movimento expressionista, e os seus temas eram com frequência, ligados a formas humanas e à sexualidade.
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