22/06/2009

Daan van Golden

Daan van Golden tem trabalhado como um artista há mais de quarenta anos, um período de grandes mudanças no mundo da arte moderna.Novas gerações de artistas apreciam particularmente a maneira extraordinária em que ele apresenta as suas pinturas, fotografias e outras obras de instalações e publicações, que passam então a ser obras de arte em si. Com a utilização de produtos comerciais como toalhas de mesa, papel de parede e tecidos decorativos e, mais tarde, motivos extraídos da história da arte, as pinturas recobrem um vasto leque de estratégias artísticas – desde a arte pop e o foto-realismo à arte estrutural e conceptual, ao minimalismo e à abstracção. Van Golden frequentemente vê imagens dentro de imagens; em Pollock (1991), por exemplo,ele aumenta um detalhe de uma pintura abstrata de Jackson Pollock para sugerir uma figura animal. Na Culturgest, em Lisboa,foi inaugurada uma exposição antológica de Daan van Golden "Vermelho ou Azul", artista holandês que tem vindo a ser redescoberto nos últimos anos. A imobilidade da silhueta, seja a da rainha de Inglaterra - um painel de azulejos atravessado por um grafitti onde se lê "sex pistols" -, seja a de Mozart, representado à maneira do século XVIII, seja ainda a de uma escultura de Giacometti, muito provavelmente a de uma das mulheres de Veneza, esculpidas em 1956, confere ao trabalho do artista holandês uma impalpável perenidade: como se o tempo se comprimisse através de uma série de dobras e dessa forma fosse possível aproximar épocas afastadas entre si. Existe também uma outra dimensão, com origem no oriente: ela é visível nas pinturas realizadas no Japão na década de 1960, na série de instantâneos "Youth is an Art" -contêm muitas referências autobiográficas, cerca de 100 fotografias da sua filha Diana, desde o nascimento até aos 18 anos - ou na têmpera "Buda" (1971-1973). A pintura é encarada por Daan van Golden como uma actividade meditativa. Essa atitude tem origem durante uma estada do pintor no Japão, entre 1963 e 1965, quando se confronta com o conceito de "ma"- que pode ser traduzido por "intervalo", tal como nota Luke Smythe em texto incluído no catálogo da exposição, comissariada por Anne Pontégnie e que já passou pelo Camden Arts Centre, em Londres, e pelo Mamco, em Genebra - a mostra da Culturgest inclui obras ausentes das apresentações anteriores, como, por exemplo, "Golden Years", um dos trabalhos seminais do autor. Em "Golden Years" - nome de uma canção de David Bowie -, um trabalho realizado durante 18 anos no qual van Golden seleccionou uma fotografia (por vezes duas) de um jornal por cada ano da sua vida até ao seu septuagésimo aniversário, é possível encontrar-se ainda outras referências: a obra inicia-se com uma imagem de uma demonstração de ginástica rítmica e inclui instantâneos relacionados com o desporto (boxe, futebol), a música (Elvis Presley, Big Jay McNeely, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Bob Dylan, Rolling Stones, Johnny Cash, Kurt Cobain) a arte (Robert Doisneau , Manzoni, Claes Oldenburg, Karel Appel, Bas Jan Ader, Warhol, Larry Clark e Robert Frank, Robert Mapplethorpe, Keith Haring, Helmut Newton, Martin Parr) a guerra (Pearl Harbour, a Batalha de Estalingrado, a deportação dos judeus durante a II Guerra Mundial, os cadáveres empilhados no campo de concentração de Buchenwald, a queda do muro em Berlim, 11 de Setembro), o cinema (Marilyn Monroe, Brigitte Bardot, Fellini) e o mercado da arte (o leilão dos girassóis de Van Gogh, na Christies, em Londres). "Golden Years", obra adquirida pelo FRAC Nord - Pas de Calais, em 2007, merece uma atenção particular não só pela sua estrutura de arquivo, que a aproxima do "Atlas", de Gerhard Richter, mas também devido à sua dimensão conceptual, vizinha das "Date Paintings", de On Kawara.

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