A internet é hoje em dia o reflexo daquilo que somos para o bem e para o mal. Eu criei este blogue com o objectivo de falar sobre a cultura pop - musica, cinema, livros, fotografia, dança... porque gosto de partilhar a minha paixão, o meu conhecimento a todos. O meu amor pela música é intenso, bem como a minha curiosidade pelo novo. Como não sou um expert em nada, sei um pouco de tudo, e um pouco de nada, o gosto ultrapassa as minhas dificuldades. Todos morremos sem saber para que nascemos.
21/02/2009
Vida, amor e morte segundo Cesariny
Sou um homem/um poeta/uma máquina de passar vidro colorido/um copo uma pedra/uma pedra configurada/um avião que sobe levando-te nos seus braços/(...)»
De avião filma a câmara, em picado, o homem poeta à janela de casa, a abrir e (quase) a fechar Autografia, filme homónimo do poema acima começado a citar. Lapidar poema de Mário Cesariny de Vasconcelos (de Pena Capital, última edição revista e aumentada em 2003, Assírio & Alvim), ouvido no início e no fim do filme de Miguel Gonçalves Mendes sobre o poeta-pintor, Melhor Documentário Português no DocLisboa, com estreia na capital e no Porto, exibição prolongada da semana prevista para mais quatro, embora em horário único, o documentário nacional mais visto, mesmo sem ter tido trailer nem nada a anunciá-lo.
A rodagem do filme, sem apoios, prolongou-se, com dificuldades, por mais de dois anos. O que a montagem eliminou das entrevistas aparece em Verso de Autografia, ilustrado por fotografias de rodagem de Susana Paiva em grafismo de Paulo Reis. Edição dos autores, que a Assírio distribui, foi pensada como complemento do documentário. Nenhuma das conversas publicadas se ouvia (só excertos), mas a estrutura segue os mesmos temas (morte, amor, vida, Portugal/saudade), amiúde tratados na primeira pessoa do singular.
Quanto à morte, o poeta-pintor surrealista «gostava de ter daquelas mortes boas... a gente deita-se para dormir e nunca mais acorda (...).» Do amor, diz «(...) nunca acredei muito na chamada alma gémea... Nesse aspecto eu era talvez um pouco à grega, alguém jovem, talvez, alguém mais inocente, alguém que tivesse a pureza do mar, a pureza e a tempestade, às vezes.» O capítulo da vida vem das raízes (em Espanha e na Córsega francesa) às memórias de família, amizades e inimizades, Lisboa desaparecida, experiência (homos)sexual, perseguição policial, Paris, Londres.
Ao desinteresse pelo Saudosismo «como escola, como filosofia», contrapõem-se «saudades de voar». Um retrato multifacetado.
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