21/02/2009

RAUL PEREZ

Pintura com sonhos dentro, até 12 de Abril As suas obras incluem arquitecturas estranhas, torres com asas, esfinges e seres fantásticos. Mas nega qualquer ligação a De Chirico, porque "a solidão não é exclusiva dele". Quando lhe perguntamos se se considera surrealista, responde que nem sabia o que isso era quando aprendeu a pintar assim. A partir de dentro. Surrealista? "Só se for pelo processo de trabalho", por pintar o esboço "de jacto", "quando a consciência não está a controlar tudo", e depois ir repetindo, obsessivamente, os gestos mecânicos, quase caligráficos, que dão vida a volumes e sombreados. "Coisas do inconsciente", garante Raúl Perez. Aos 64 anos, fazer a primeira grande exposição institucional no Museu Berardo é algo que o deixa visivelmente desconfortável. "Sou um bicho do mato, estas coisas fazem-me impressão, nunca fui de fazer pintura para ser notado. E paga-se por isso", reconheceu o pintor ao DN, horas antes de ontem inaugurar Raúl Perez-Desenho e Pintura, com trabalhos datados entre os anos 60 e a actualidade. Amigo de Mário Henrique Leiria, Cesariny e Cruzeiro Seixas, com quem expôs em várias colectivas, conta que foi a pintora Teresa Lobo, com quem partilha atelier em Lisboa, que o "empurrou" agora para estas andanças. Ganhou coragem, contactou Jean-François Chougnet e o director do Museu Berardo, ao ver o catálogo da exposição que em 2006 a Fundação Cupertino de Miranda lhe dedicou, aceitou de imediato o desafio. "Trata-se de um artista conhecido mas que nunca é mostrado fora das colectivas surrealistas, e a sua obra tem uma grande coerência e uma técnica excepcional. Nunca fez uma grande exposição individual mas, paradoxalmente, tem muitos coleccionadores e é um dos poucos artistas portugueses a viver da sua arte". "Pinto o que vem lá do fundo. É uma linguagem simbólica, como a dos sonhos, que foge aos constrangimentos da razão. Sou pouco dado a interpretações e os quadros não podem ser descritos com esta linguagem", diz o pintor, que também escreve, incapaz de explicar por que razão, abandonou as cores fortes e começou a pintar a preto e branco. São coisas do domínio da criação. É por isso, por não dissociar a arte da vida, que Raúl Perez foge ao lado comercial da pintura e aos títulos e rótulos que a confinam. "Para sobreviver, vendo. Mas não tenho uma linha de montagem! "Pus sempre em primeiro lugar a minha liberdade criativa. Não tenho religião, partido político ou clube de futebol", assevera, alertando, por outro lado, que "o espírito não cabe dentro de um rótulo, e quando cabe é mau sinal".

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