Morreu o pianista de jazz e pioneiro de 'hard bop'.
Horace Silver, a morte de um mestre do ritmo, de um ícone do jazz, 1928-2014.
O pianista e compositor de jazz Horace Silver, pioneiro do "hard bop" na década de 1950, faleceu na quarta-feira, 19 junho, 2014, aos 85 anos, anunciou a NPR, a Rádio Nacional Pública americana, em sua página on-line, citando o filho do músico.
Nascido em Connecticut (nordeste dos EUA), Horace Ward Martine Tavares Silva era de uma família originária do Cabo Verde e, desde a infância, foi influenciado pela "folk music" das ilhas da costa do Senegal.
Horace Silver começou tocando sax tenor e, em seguida, passou para o piano, acompanhando o saxofonista Stan Getz em sua turnê. Depois, instalou-se em Nova York, onde trabalhou por 25 anos para o selo Blue Note.
Seu primeiro álbum, "Horace Silver and the Jazz Messengers", é considerado a pedra angular do "hard bop", que se inspira no R&B;, no gospel e no blues, em oposição ao "cool jazz", o jazz "dos brancos".
Começou por ser saxofonista no Connecticut natal, mas seria já depois de trocar o saxofone pelo piano e Connecticut por Nova Iorque que Horace Silver começou a destacar-se e a iniciar um percurso que o preservou como um dos fundadores do hard bop e um músico que, pela elegância e simplicidade melódica e pela dinâmica cativante do ritmo, se tornaria uma referência no final da década de 1950 e na seguinte.
Nascido Horace Ward Martin Tavares Silva a 2 de Setembro de 1928, Silver tocou com gigantes como Stan Getz, o primeiro a reconhecer-lhe o talento, Miles Davis ou Lester Young. Fundou os muito influentes Jazz Messengers com Art Blakey, e ajudou a revelar talentos como o saxofonista Joe Henderson, o trompetista Art Farmer ou o baterista Billy Cobham.
Filho de um cabo-verdiano imigrado nos Estados Unidos, John Tavares Silva, operário numa fábrica de borracha e multi-instrumentista (violino, mandolim) que seria influência musical marcante (o clássico Song for my father inspira-se nas tardes passadas a ouvir o pai e o tio tocarem mornas e coladeras), o pianista morreu de causas naturais esta quarta-feira na sua casa em New Rochelle, Nova Iorque, adiantou o seu único filho, Gregory, à NPR. Horace Silver tinha 85 anos.
“Pessoalmente, não acredito em política, ódio ou fúria na minha composição musical. A música deve levar felicidade e alegria às pessoas e fazê-las esquecer os seus problemas”, escreveu no texto de acompanhamento de Serenade to a Soul Sister, álbum editado em 1968.
Na década seguinte, iríamos encontrá-lo a procurar dar voz a essa necessidade, quando gravou uma série de três álbuns conhecida como The United States of Mind, os primeiros em que trabalhou de forma continuada com a voz, incluindo a sua, e que reflectiam um desejo de autodescoberta espiritual através da música.
Os discos, editados entre 1970 e 1972, não foram consensuais, quer junto da crítica, quer junto daqueles que acompanhavam há muito a sua música. Reflectiam o seu desejo de mudança num mundo que, também ele, mudava rapidamente. Porém, Horace Silver é celebrado como um dos grandes nomes do jazz pelo que fizera antes.
Outras mudanças: é um dos nomes fundadores do hard-bop, ramificação do revolucionário bebop que, apropriando-se do rhythm’n’blues ou do gospel, colocava a ênfase no ritmo e numa maior simplicidade harmónica. Foi neste período que criou alguns dos seus temas mais famosos, como Filthy McNasty, The Preacher, Sister Sadie, a latina Señor blues ou a supracitada Song for my father.
Começava a fazer o seu nome enquanto pianista no circuito local quando, aos 22 anos, Stan Getz ouve o seu trio no clube Sundown, em Hartford.
Trabalharia com o saxofonista durante cerca de um ano, antes de se mudar para Nova Iorque, onde não tardaria a tornar-se músico requisitado pela fervilhante comunidade jazz da cidade, trabalhando com Coleman Hawkins ou Lester Young. Em 1953, fundava com o baterista Art Blakey os Jazz Messengers que, com a sua formação de trompete, saxofone tenor, piano, contrabaixo e bateria, viriam a ser o standard para a instrumentação hard-bop, escrevia ontem Peter Keepnews no obituário publicado pelo New York Times. Keepnews destaca o estilo peculiar de Silver: “Improvisando com destreza motivos engenhosos com a sua mão direita enquanto atacava sonoras linhas de baixo com a esquerda, conseguia evocar simultaneamente pianistas de boogie-woogie como Meade Lux e beboppers como Bud Powell.
Porém, ao contrário de muitos pianistas bebop, Silver enfatizava a simplicidade melódica sobre a complexidade harmónica”.
Horace Silver manter-se-ia com os Jazz Messengers durante dois anos e meio, antes de formar o seu quinteto, inicialmente composto pela mesma formação dos Messengers, com excepção de Art Blakey, substituído pelo então muito jovem Louis Hayes.
Seria enquanto líder que gravaria álbuns como 6 Pieces of Silver (1956), Blowin’ the blues away (1959), Song for my father (1965) ou The Cape Verdean Blues (1965), todos eles editados pela Blue Note, a mítica casa discográfica à qual esteve ligado entre 1955 e 1980.
Um dos nomes mais célebres do jazz em palco e em disco durante a década de 1960, com o groove do seu hard-bop a servir como banda-sonora perfeita para o período (influência transversal: os Steely Dan criaram o seu maior sucesso, Rikki, dont’t lose that number, sobre a linha de baixo de Song for my father), Horace Silver manter-se-ia bastante activo em palco e em estúdio nas décadas que se seguiram.
No início dos anos 1980, fundou a Silveto, editora de vida curta, antes de prosseguir carreira com álbuns para a Impulse!, Verve ou Columbia.
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