A internet é hoje em dia o reflexo daquilo que somos para o bem e para o mal. Eu criei este blogue com o objectivo de falar sobre a cultura pop - musica, cinema, livros, fotografia, dança... porque gosto de partilhar a minha paixão, o meu conhecimento a todos. O meu amor pela música é intenso, bem como a minha curiosidade pelo novo. Como não sou um expert em nada, sei um pouco de tudo, e um pouco de nada, o gosto ultrapassa as minhas dificuldades. Todos morremos sem saber para que nascemos.
25/07/2013
PRIMAL SCREAM
Alguns dos melhores discos ou músicas funcionam como tradução sonora do espírito de uma época. São documentos que dizem tanto sobre um período quanto as melhores fotografias e textos.
What’s Going On, de Marvin Gaye, revela a crise existencial americana da mudança dos anos 70. Construção, de Chico Buarque, é o Brasil sufocado e/ou alienado pela ditadura militar. Revolver, dos Beatles, é puro “Swinging London”. The Chronic, do Dr. Dre, caracteriza o gueto americano da era gangsta em diante.
Screamadelica, que completa 22 anos em 2013, é um disco do espirito da época , a música transmite delírio, ambição, euforia, catarse química, introspecção drogada, alucinação, escapismo e inconsequência. Sensações comuns a boa parte da juventude inglesa na dos 90.
Em 1991, o extasiado movimento da acid house, deflagrado quatro anos antes, estava longe de perder o gás. Pelo contrário. Só fazia expandir.
Todo mundo se mandou para a pista: fashionistas, universitários, hooligans, jetsetters, popstars dos anos 80, operários, gangsters, velhos hippies. Os Primal Scream era então mais uma banda indie com fixação nos anos 60. Tinha feito barulho no mundo NME com um single chamado “Velocity Girl”.
Numa rave, conheceram o DJ Andrew Weatherall, e pediram para remisturar a sua música, “I’m Losing More Than I’ll Ever Have”.
Weatherall apagou tudo e começou do zero. Não devolveu um remix, mas uma versão completamente diferente: breakbeat eletrônico, vocais gospel, arranjo quase todo instrumental, samples do filme Anjos Selvagens, de Peter Fonda.
“We want to be free/To do what we want to do” (“queremos ser livres/para fazer o que queremos fazer”), o sample de Fonda que abre “Loaded”, virou profissão de fé da banda. Screamadelica foi a conclusão lógica.
Blues-soul a la Exile On A Main Street (Jimmy Miller, produtor do clássico dos Stones, faz parte de Screamadelica), dub subaquático, jazz transcendental a la Sun Ra, trips PinkFloydianas, ambient de Brian Eno, pitadas de house, beats de hip hop, coros gospel, discurso de Jesse Jackson, frases dos Kraftwerk: o álbum tem tudo isso e mais.
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