Eduardo Nery foi um "inovador, mesmo em termos internacionais", na
pintura ligada à arte abstracta e tem uma vasta obra a abranger diversas
áreas, do azulejo à fotografia, disse hoje o presidente da Associação
Portuguesa de Arte Outsider.
"O seu trabalho em pintura, mais ligado à
arte abstracta, foi inovador mesmo em termos internacionais e
acompanhou Vasarely [que se salientou na Op art ou arte cinética], um
papel que nunca foi reconhecido", realçou Vítor Albuquerque Freire.
O
artista plástico Eduardo Nery morreu hoje em Lisboa aos 74 anos. O
velório vai decorrer no domingo na Igreja de Santa Isabel, em Lisboa, e o
funeral está marcado para as 12:00 de segunda-feira, no cemitério do
Alto de S. João.
Além do seu trabalho em pintura, azulejo ou
fotografia, o artista multifacetado interessava-se por arte africana e
deu um contributo para a defesa do património construído, assim como de
obras de artistas que não fazem parte do circuito cultural, segundo o
presidente da Associação.
Eduardo Nery fazia parte da direcção
desta associação que promove a arte produzida por autores "sem formação,
desligados dos circuitos culturais, em muitos casos artistas com
perturbação mental ou afastados e não reconhecidos pela sociedade".
Um
dos exemplos do esforço de Eduardo Nery neste sentido, relatado por
Vítor Albuquerque Freire, relaciona-se com a defesa do Museu do Hospital
Miguel Bombarda, que reúne várias obras de doentes da unidade de saúde.
Nascido em 1936, formado em pintura pela Escola de Belas-Artes de
Lisboa, foi um dos artistas mais activos da sua geração, aquela que, na
década de 60, conseguiu pela primeira vez estabelecer um paralelismo com
a arte internacional sua contemporânea. Interessou-se pela Pop,
praticando colagens e fotomontagens inesperadas, e logo a seguir pela
arte Op de Vasarely, de que é considerado o único representante em
Portugal.
Este movimento, que incidiu sobre o trabalho da cor e os
efeitos do movimento na percepção visual, adaptou-se com sucesso aos
muitos trabalhos de Nery em arte pública, tanto através do painel de
azulejos como dos pavimentos de calçada “à portuguesa”, que também
realizou.
Do Centro de Saúde de Angra do Heroísmo, nos Açores, à abstracção dos
painéis que ladeiam a Avenida Calouste Gulbenkian ou o Viaduto da
Infante Santo, em Lisboa, a sua obra plástica é familiar ao quotidiano
de muitos portugueses. Nela avulta o trabalho desenvolvido para a
estação do metropolitano do Campo Grande, onde se apropriou da
tradicional figura de convite do azulejo do século XVIII,
desconstruindo-a em gradações de azul e amarelo.
Nery, que se destacou também na tapeçaria, na gravura, na pintura mural e
no vitral, realizou dezenas de exposições no país e no estrangeiro, da
Alemanha ao Egipto, passando pelo Brasil e os EUA, ficará decerto como
um dos criadores plásticos portugueses mais destacados no âmbito dos
projectos de arte pública.
Também
a fotografia recolheu a sua atenção desde os anos 50 e o presidente da
Associação Portuguesa de Arte Outsider avançou que a Imprensa Nacional
Casa da Moeda está a preparar uma publicação sobre a obra de Eduardo
Nery nesta área.
Autor de várias obras, nomeadamente sobre teoria
das artes e fotografia, o artista tinha "uma paixão pouco conhecida" por
arte africana, sendo "talvez um dos maiores coleccionadores, a par de
José Guimarães".
A 10 de Junho do ano passado, Eduardo Nery foi
condecorado pelo Presidente da República como Grande Oficial da Ordem do
Infante D. Henrique pela sua obra.
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