04/08/2012

CAZUZA

Ideologia significa:

1. Conjunto de idéias que tem por base uma teoria política ou econômica.
2. Modo de ver próprio de um individuo ou de uma classe.
 
Para o senso comum, ideologia pode significar duas coisas:

1. Visão política ou partidária.
2. Visão de mundo.

Ora, podemos ver que há uma correspondência entre o que o senso comum entende por ideologia. Nesse contexto podemos dizer que a ideologia (visão política) de fulano tende para a esquerda ou que as ideologias (modos de ver o mundo) de duas pessoas podem ser diferentes. Entretanto, quando tentamos significar o refrão de Cazuza com essas duas definições, algo parece estar fora do lugar.

O termo ‘ideologia” surgiu, segundo Marilena Chauí, com o filósofo Destutt de Tracy em uma teoria que buscava  analisar, com métodos rigorosos, científicos, a faculdade de pensar. Com Napoleão, “ideologia” passou a ter um significado pejorativo visto que ele criticava os ideólogos franceses (pensadores da ideologia) por conferirem um risco ao poder, desconhecendo os problemas concretos e sendo abstractos, nebulosos demais.

Em Marx e Engels, o conceito de ideologia ganha bastante força e continua carregado de um significado negativo. Tal como Napoleão criticara os ideólogos franceses, Marx e Engels criticavam os filósofos alemães pela “maneira de ver abstrata e ideológica”.
 
 Aqui, a ideologia é “identificada com a separação que se faz entre a produção das idéias e as condições sociais e históricas em que são produzidas”.
 
 Em outras palavras, a ideologia seria a produção de idéias, “visão de mundo”, desvinculada da realidade material, concreta. 
 
Um exemplo é quando dizemos que uma coisa “na teoria é muito bonita, mas na prática não funciona”. Ou seja, estamos a dizer que a teoria ficou tão abstracta que só no campo das idéias faz sentido, pois fugiu da realidade. 
 
 Deveria Cazuza ser considerado um símbolo do combate contra a SIDA? Por que não um que levasse uma "vida certinha", sem vícios? portador do vírus HIV, o artista permaneceu na sua vida boémia. Também sabemos que este estilo de vida é considerado como uma desistência por aqueles que se encontram bastante doentes e próximos da morte, uma forma de aproveitar os últimos dias e diminuir a dor. Neste ponto, é possível cair no pensamento de que, ao continuar bebendo, fumando e consumindo drogas, Cazuza estaria "entregando os pontos".Cazuza nunca parou!
 
 Mesmo doente, sem muitas forças, o artista continuou a compor, cantar e fazer shows até seus últimos momentos. Numa época que ninguém sabia do que se tratava a SIDA, motivo pelo qual muitos doentes davam as suas vidas por encerrada, o compositor mostrou a todos que um sero-positivo pode ter uma vida boa e útil. Não fácil, mas repleta de bons momentos.
 
Ao continuar com sua "vida" e produção artística Cazuza tentava mostrar que a doença não alterava em nada a sua vida. Poderia destruir o corpo, mas não a sua alma.
É inegável o crescimento de Cazuza como poeta e músico nos seus últimos anos de vida. O artista passou a circular por vários estilos musicais e as letras mostram-se bem mais trabalhadas do que quando ainda cantava no Barão Vermelho. 
 
 “Meus heróis morreram de overdose. Os meus inimigos estão no poder.”

Com música de Roberto Frejat e letra de Cazuza, Ideologia é a faixa-título do terceiro álbum solo de Cazuza.  Considerada a melhor canção da sua carreira a solo, Ideologia levou o prémio de música do ano, em 1988.
Tudo o que acontecia no Brasil, no mundo e principalmente na vida de Cazuza está em Ideologia. O garoto que queria mudar o mundo agora se vê frágil, diante de um país sem ideologia definida. A crise dos partidos políticos e a queda da ditadura militar aparece já nos primeiros versos da letra.

Toda a ideologia pregada por Cazuza, como sexo, drogas e Rock n’ Roll vai por água abaixo, quando ele percebe que é impossível viver assim As pessoas que Cazuza via como heróis agora foram deixados para trás e o garoto que sonhava em ser herói agora tem de conviver com uma das maiores doenças da década de 80, a SIDA.

 A queda do Muro de Berlim, um ano depois da música, provou que as ideologias realmente estavam mudando.
O que  mais chama atenção na letra da música é o verso “meu prazer agora é risco de vida”. Com esse verso, Cazuza, pela primeira vez, assume que a doença mexeu com a vida dele e que o sexo, que ele sempre declarou ser o maior prazer do mundo, não pode mais fazer parte de sua vida.
 
 
 
 

Sem comentários:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails