O Porto já encontrou o seu festival de música ao ar livre.
O Optimus Primavera
Sound não é o primeiro festival ao ar livre de música do Porto de âmbito
pop-rock. Mas alguém se lembra de algum outro que se
tenha realizado na cidade, que tivesse sobressaído pela sua identidade,
por apresentar ideias de programação sólidas para lá das opções
estéticas de cada um, por ser credível pela sua consistência e
perseverança e por ter um espectro internacional?
Claro que já
houve muitos festivais no Porto e, no entanto, a sensação que se tem é
que o Primavera Sound é o PRIMEIRO. O MELHOR.
Falando com as pessoas - sim,
são suspeitas, porque são aquelas que estavam dentro do recinto -
percebe-se que existe orgulho em receber um festival assim.
Não
surpreende por isso que, num festival conhecido pela música, tenha sido o
espaço a principal atracção da primeira noite, não só para os milhares de
estrangeiros presentes- muitas mulheres, que dão um colorido diferente ao ambiente.
Depois de Barcelona, o Primavera Sound instalou-se na cidade do Porto
carregando um atraente cartaz responsável por uma autêntica invasão de
festivaleiros vindos de outro destino.
Não será exagero dizer que no
primeiro dia, mais de metade do público do Parque da Cidade não falava
português com claro destaque para as facções espanhola e britânica.
Apesar da constante ameaça de chuva, chegaram a cair alguns pingos, o
tempo aguentou-se firme e frio como é característico no norte.
Além da legião de estrangeiros deliciados com o espaço verdejante,
vimos também muitas caras conhecidas como Adolfo Luxúria Canibal, Miguel
Ângelo e a dupla Dead Combo todos a circular no meio de tantas figuras
com quem costumamos cruzar em concertos na capital. Por estes dias, o
Porto é a capital indie com todos os clichés.
Quando entramos no recinto, os primeiros metros são percorridos em
alcatrão mas logo encontramos a zona de restauração onde o destaque vai
para um stand de carnes argentinas; depois as casas de banho, a banca
oficial de venda de roupa do festival, e só então pisamos a relva forte
que nos acolhe por toda a área onde há palcos.
Neste primeiro dia só
abriram dois, praticamente lado a lado e a funcionar em modo alternado
de forma a que não se perca o ritmo entre concertos. A contrastar com a
paisagem verde do parque temos do lado direito dos palcos o bravo mar de
Matosinhos que é sempre um bom escape para olhar.
A primeira noite com um excelente ambiente, cerca de
20 mil pessoas deambulando tranquilamente pelas diferentes zonas, posicionamento magnífico dos dois palcos em funcionamento -
sexta e sábado serão quatro - e uma zona Vip funcional, sem requintes
desnecessários. Não conseguem ver o palco Primavera- vêem pelo ecrã.
E até alguns espaços especiais
mais escondidos, como aquele que está perto do palco ATP, uma espécie de
zona de piquenique onde é servido vinho a copo. Os estrangeiros não o largam. Deve ser boa a pinga.
A zona de comes e bebes é reduzida para o número de pessoas presentes. Ontem
viram-se filas. Mas é um festival atento ao seu tempo e respeita o espectador. E o espectador percebe isso.
E a música na
primeira noite?
O colectivo portuense Stopestra!
abriu o programa oficial, às 17 horas de quinta-feira. Cerca de 100
elementos da banda couberam à justa no palco mas extravasaram energia.
Trouxeram, uma combinação deliciosa de soul, funk, gospel e muito rock à
mistura.
A animação prosseguiu com os interessantes espanhóis Bigot. Oriundos de
Espanha, brindaram a já numerosa plateia com um rock sólido, ao
revisitar diferentes correntes e influências.
Os Suede foram
empáticos, os Mercury Rev os melhores e os The Rapture competentes. E houve até para mim um sabor a desilusão, com o habitualmente
excelente, Bradford Cox, que se apresentou com a identidade Atlas Sound,
num concerto solitário. O
americano lá foi dizendo que o Porto era a sua cidade favorita - mas nunca conseguiu a simbiose com a assistência. Testou a paciência do público, num concerto baseado em canções impregnadas de murmúrios e lamentos.
O francês Yann Tiersen e respectiva banda, tiveram
com uma performance mais empenhada.
Culpa ou não do frio que se apoderou do recinto ao final do dia (a célebre aragem nortenha não perdoa... com o rótulo de "next big thing" e um punhado de fãs fiéis, os americanos The Drums
foram, como habitualmente, funcionais. A sua música composta e
descontraída de diversas referencias dos anos 60 à actualidade. Em
palco são assim também, com o irrequieto estilo do vocalista Jonathan Pierse, sensualmente para satisfação do publico feminino.
Quem ainda mantém a carga erótica quase
intacta é o cantor Brett Anderson, que nos anos 90 levava à histeria
qualquer palco onde os seus Suede pusessem os pés. Hoje mantém a elegância - sem que ele e o grupo tenham perdido a impetuosidade
romântica. Mesmo para quem nunca lhes reconheceu relevância, não foi
difícil constatar que continuam uma banda que é capaz de se colocar em
causa, apresentando canções como "So young", "Still life", "We are the
pigs", "Everything will flow" ou "The wild ones". Brett desceu ao público e o rock de alguns temas exaltou a assistência.
Dos Mercury Rev,
autores de alguns dos melhores álbuns de psicadelismo pop da década
passada, mostraram grande empenho, com um espectáculo cénico e musical
barroco, conseguindo contagiar o publico que cantavam em coro alguns dos temas. O vocalista entrou em palco com uma garrafa - de vinho do porto?? cheia saindo com ela vazia- deu a ultima golada antes de sair de palco- parecia que estava sempre a fazer o quatro.
Para final de noite -
começaram às 2h da madrugada - estavam guardados os americanos The
Rapture que, para muitos, eram a banda mais aguardada. Foram medianos.
A musica de início dos anos 2000, assente na energia do rock e na
fisicalidade da música de dança ( não podia faltar "House of jealous lovers")mas essa continua a ser a sua
identidade. Os
agudos do vocalista e guitarrista Luke Jenner fizeram-se ouvir, tal como
as linhas de baixo que parecem suportar tudo o resto, mas
faltou na maior parte do tempo ao espectáculo um outro alento, um
suplemento de alma, que era precisamente aquilo que os companheiros de
editora, os já extintos LCD Soundsystem, tinham de sobra.
Hoje,
já com os quatro palcos a funcionar em simultâneo, haverá muito mais por
onde escolher (Rufus Wainwright, Wilco, Flaming Lips, Shellac,The Walkmen,
Beach House ou M83), o mesmo acontecendo amanhã com Kings Of
Convenience, Spiritualized, Lee Ranaldo ou The XX.
Dos brindes que oferecem- capas de chuva, pulseiras- tipo portas chaves, um saco que aberto fica assim-na foto- dá muito jeito para "alapar" o cú na relva.
Para já, depois do
primeiro dia, a notícia é que o Porto tem um grande festival de música a
decorrer no seu centro. Uma grande novidade.
Podem copiar este link (ou ver no JN, os concertos primeiro dia) http://www.jn.pt/multimedia/video.aspx?content_id=2597335
A internet é hoje em dia o reflexo daquilo que somos para o bem e para o mal. Eu criei este blogue com o objectivo de falar sobre a cultura pop - musica, cinema, livros, fotografia, dança... porque gosto de partilhar a minha paixão, o meu conhecimento a todos. O meu amor pela música é intenso, bem como a minha curiosidade pelo novo. Como não sou um expert em nada, sei um pouco de tudo, e um pouco de nada, o gosto ultrapassa as minhas dificuldades. Todos morremos sem saber para que nascemos.
08/06/2012
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