O escritor Antonio Tabucchi nascido em Itália natural de Vecchiano, província de Pisa,em 1943, morreu neste domingo aos 68 anos em Lisboa.
Tabucchi tinha uma longa ligação com Portugal e era considerado um dos nomes maiores da literatura europeia.
“Antonio Tabucchi não era apenas o amigo íntimo de Lisboa e de Portugal, o amigo íntimo da nossa literatura, o grande divulgador de Fernando Pessoa - era o mais português de todos os italianos, um autor muito querido dos leitores portugueses”, sublinhou Francisco José Viegas, o secretário de Estado da Cultura,
Portugal atravessa os livros de Tabucchi “como um relâmpago que iluminou muitas das nossas sombras e mistérios”, “Escreveu sobre Portugal, interrogava com uma notável sabedoria e inteligência os nossos silêncios e tragédias, e foi um extraordinário embaixador da literatura e da cultura portuguesas”, disse.
Autor de livros como “Afirma Pereira” (1994),um romance político sobre um jornalista português em finais da década de 1930 que vivia alheado da ditadura salazarista,que contracena com Mário Viegas e João Grosso, entre outros, valeu-lhe dois prémios italianos – Via Reggio e Campiello – e o prémio internacional Jean Monet.
Obra premiada e que foi adaptada ao cinema com Marcello Mastroianni no papel principal, e "Notturno Indiano" (1984), era também professor de Língua e Literatura Portuguesas na Universidade de Siena.
Um último livro de Tabucchi, "O Tempo Envelhece Depressa", será editado no próximo mês pela Dom Quixote.
Nascido em Pisa, em 1943, cresceu numa pequena povoação próxima daquela cidade. Filho de um comerciante de cavalos, estudou línguas e filosofia, antes de decidir viajar pela Europa. Em Paris, na Sorbonne, descobriu, traduzida para francês, uma colectânea de poemas de Fernando Pessoa (que incluía a "Tabacaria"), por cuja obra se apaixonou, decidindo estudar português para melhor compreender o poeta.
Tabuchi conhecia Portugal desde os 22 anos e considerava-o o seu "país de adopção".
É autor de ensaios sobre o trabalho de Pessoa e, com a companheira, Maria José de Lencastre, traduziu e dirigiu a edição italiana dos textos do autor.
“Veio a Portugal no princípio dos anos 60, conheceu vários portugueses, entre os quais Alexandre O’Neill, de quem ficou muito amigo. A partir daí nunca mais perdeu de vista Portugal.
Casou-se com uma portuguesa.
Nas eleições europeias de 2004, o escritor participou na lista do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu, na sétima posição, explicando que o importante era participar, que a sua candidatura visava defender a cultura e que estaria disponível também para integrar as listas de outro partido de esquerda, desde que tivesse sido convidado para tal e que se identificasse com as opções políticas.
Aliás, a nacionalidade portuguesa foi-lhe concedida em 2004, uma mera formalidade para quem costumava dizer que sonhava frequentemente em português.
Entre as suas obras figuram também “Pequenos equívocos sem importância”, “Une baule pieno di gente”, “Os últimos três dias de Fernando Pessoa”, “A cabeça perdida de Damasceno Monteiro” e “Está a fazer-se cada vez mais tarde”.
Em 210 também cancelou a ida ao Brasil, por conta de problemas lombares.Em 2001, o motivo foi político: Tabucchi alegou, como razão da desistência, a decisão da Justiça brasileira de não extraditar o ex-ativista Cesare Battisti, acusado de participar de quatro assassinatos durante a luta armada que marcou a Itália nos anos de 1970.
Quando chegou a hora de escrever, ditou-o em voz alta. Durante dois meses, no Alentejo. A versão portuguesa de “Tristano Morre” tem sessão de lançamento marcada para 2 de Maio, no Teatro Nacional D. Maria, em Lisboa. Um pequeno excerto da entrevista a Antonio Tabucchi originalmente publicada no suplemento "Mil Folhas" de 22 de Abril de 2006.
A crítica francesa ficou entusiasmadíssima. A revista “Lire” considera-o mesmo o seu melhor livro. Está de acordo?
É sempre difícil auto julgarmo-nos. Posso dizer que é o livro que me custou mais a escrever e no qual eu investi mais. Colou-se-me muito na pele... Lembro-me de a certa altura estar a dizer frases como se eu fosse Tristano. Passou um certo tempo até eu sair finalmente dessa personagem.
Deu algum contributo para aquela palavra “Blateleblá” que usa para designar o fenómeno da televisão de hoje? A palavra existe?
Não. A palavra foi traduzida de várias maneiras, nas diferentes línguas em que saiu o livro. Em italiano é “pippo-pippi”. Nome ridículo, faz pensar imediatamente na televisão, ou melhor, no que seria a ontologia da televisão, o espírito profundo desta presença que ocupa o mundo contemporâneo. Os gregos encontraram uma tradução divertidíssima: “Katzipipares”. Antigamente, na Grécia, as pessoas que faziam a peregrinação até Jerusalém tinham direito de pôr no apelido o prefixo “katzi”. Katzi Crishostomiris queria dizer alguém que se chamava Crishostomiris mas que tinha feito a peregrinação. Esta fórmula tornou-se ridícula e representa uma velha maneira — piedosa — de ser dos gregos. “Pipares” era um programa estúpido da televisão grega. Os franceses — “dingo- dingue” — pegaram em “dingo”, o grandalhão do Micky Mouse, de Walt Disney, e “dingue”, estúpido.
E os portugueses? Como chegaram a “blateleblá”?
É “blá-blá” com “televisão” no meio… É bem achado.
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