18/11/2011

Rainer Werner Fassbinder

Os filmes de Fassbinder eram retratos precisos da Alemanha que existia. A Alemanha tinha feito coisas más, era um país complexo o do pós-guerra, pós-1945, os aliados ajudaram-nos a aprender a democracia. Fassbinder foi o único, nessa altura, a interessar-se pelas chamadas pessoas normais, aquelas que não tinham feito nada - pensemos em filmes como "O Mercador das Quatro Estações" [1972] ou "O Medo Come a Alma" [1974].

A história de Juliane Lorenz é uma história de amor. E não é a história "oficial". Não encaixa em outros testemunhos vivos ou emoldurados em livros (o mito?) sobre um cineasta homossexual chamado Rainer Werner Fassbinder, manipulador de sentimentos, misturando desenfreadamente vida e cinema, transformando as suas relações mais decisivas os homens em catástrofes.

A história com uma mulher não é, de qualquer forma, uma história inédita na vida de Rainer Werner Fassbinder: entre 1970 e 1972 fora casado com Ingrid Caven. Mas Caven, actriz, pertencia ao grupo, vinha do bando do Action Theater, e a confusão de vida, criatividade, política (e sentimentos, e sexo) dos anos de revolução poderiam explicar tudo.

Juliane não. Era uma "outsider".

Tinha 19 anos quando, assistente de montagem, viu entrar na sala de trabalho um mito: taciturno, botas e blusão de couro, "jeans". O filme chamava-se "Roleta Chinesa" (1976).

A partir daí e até ao fim, seria a montadora de Fassbinder e cuidou da parte final da sua vida aquela, também, de autor consagrado.

Foi ela que montou a década final da obra de Fassbinder. Foi ela que partilhou os seus últimos anos. Foi ela que o descobriu morto. Ela é Juliane Lorenz, a responsável pela Fundação Fassbinder, a quem se deve o restauro de “Man on a Wire”, mini-série de ficção científica que o cineasta alemão experimentou no início dos anos 70 e que esta semana chega às salas portuguesas.

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