Se o modernismo musical americano trouxe artistas e projectos comprometidos com uma nova visão da arte e da tecnologia, baseada numa trilogia relacional da arte, humanidades e filosofia, o pós-modernismo e a actual sensibilidade artística explora as suas últimas consequências acentuando o pendor electrónico-tecnológico e operacional da actividade humana em todos os domínios do conhecimento. Neste contexto surge a cantora, compositora e performer afro-americana Pamela Z. A artista, que a revista The Wire consagrou como “ a mais dotada e empreendedora vocalista/compositora/artista áudio dos EU desde o apogeu de Joan La Barbara e Meredith Monk”, trabalha sobretudo com a voz, processamento electrónico e samplagem.
Oriunda de São Francisco, Califórnia, Pamela Z estudou música e canto clássico na Universidade do Colorado. O interesse pela performance e pela música electrónica remonta, contudo, a uma fase anterior da sua vida. Em criança já brincava com instrumentos musicais por ela própria construídos e utilizava os gravadores de cassetes do pai para inventar programas de rádio em que protagonizava todos os actores, gravava todas as vozes e manipulava o som geral.
“ Comecei a tentar fazer performances porque me apercebi que as pequenas peças musicais que fazia eram já em si uma espécie de trabalhos teatrais em miniatura. Apesar de ser relativamente estática ao microfone, tenho tendência para criar determinados gestos que considero parte da própria composição. Em Bone Music, por exemplo, uso um garrafão de água de plástico em movimentos prescritos e ritualizados, desenhando círculos lentos no ar.”
No cruzamento entre o mundo digital e o mundo analógico, a artista pretende assumir-se como um personagem, uma performer do som, pois “ não me interessa ser somente uma música, embora naturalmente as possibilidades sejam infinitas. Quero também usar as artes visuais e o teatro.” Em The Pendulum, 2008, uma apresentação multi-media, essa inter-disciplinaridade é visível:
Uma outra ideia de uma das suas apresentações multimédia, Gaijin, surgiu-lhe no Japão, quando realizava uma residência artística. A palavra Gaijin faz parte do calão Japonês e quer dizer estrangeiro, uma pessoa de outra região ou país. “Uma coisa que aprendi no Japão é que se não fores Japonês, se não pareceres Japonês e se não falares Japonês, serás sempre um Gaijin.”
Reflectindo sobre esta matéria e o tipo de alienação a ela intrínseca, não só no Japão mas em outros lugares e em outras circunstâncias, criou uma performance onde mistura vozes ao vivo e vozes sampladas, textos, e sons diversos num jogo polifónico multicolor. A certa altura ouve-se uma série de perguntas típicas dos questionários dos aeroportos quando se entra em solo americano, uma ideia que, aliàs, remonta a Frank Zappa (Welcome to the United States) e a The Yellow Shark, 1992 . Mas outras influências são fundamentais, como John Cage, Steve Reich, Alvin Lucier, Laurie Anderson, ópera italiana, Punk Rock & New Wave, minimalismo, teatro experimental, dadaísmo e surrealismo europeus, poesia sonora, música folclórica israelita, a linguagem e sons concretos.
O seu primeiro CD intitula-se A Delay is Better, 2004 e reúne algumas das mais significativas peças do seu percurso performático, tais como Bone Music, Pop Titles “You”, In Times of Old, entre outras, que foram tratadas e aumentadas para fazerem parte do registo.
Arte Capital
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