"Eu não gosto de ninguém, e tenho medo das pessoas", é assim que Bret Easton Ellis termina o seu último livro, Imperial Bedrooms. E, no início, diz: "Fizeram um filme sobre nós". Recuperando, de forma brilhante, as personagens de Menos que Zero, o livro que o tornou um dos escritores mais marcantes da sua geração. Por isso este é um dos mais esperados livros da literatura americana contemporânea e uma aposta fortíssima da editora.
Bret Easton Ellis tornou-se famoso pelo seu hiper-realismo cru, que expôs a nu a edificada vida universitária dos jovens americanos. Agora as personagens crescem, tornam-se importantes, mas não melhoram. A sua deformação psicológica torna-as dementes. A crueza das personagens de Easton Ellis vai muito além de um retrato de uma sociedade perversa em crise de valores, como nós gostamos de ver a América. São seres infra-humanos, reveladoras de uma apatia assustadora, a ausência total de sentimentos, que nem sequer condiz com os padrões psicóticos das sociedades desenraizadas. O que Easton Ellis violentamente sugere é que há um potencial serial killer em cada um de nós, não de forma tão evidente como em Psicopata Americano, mas de modo mais subtil e menos estereotipado.
Também por isso é brilhante a promoção que a editora fez on-line . Promoveu uma míni-aplicação em que nos coloca no papel de um produtor que está a fazer um casting para o papel feminino no filme. Temos o poder e vale tudo. Podemos embebedar, drogar, despir, fazer dançar e até ter relações sexuais com a candidata. Ela sujeita-se às mais vis humilhações em nome de um sonho de fama. Mas, na verdade, nós é que somos encostados à parede, encurralados pelos nossos demónios. No final, aparece um quadro com a percentagem de diabo que nos corresponde. Mas a perversão, a venda da alma, começa antes, quando decidimos ir a jogo.
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