As fotografias de Frida Kahlo que nunca tínhamos visto. No livro, as fotos reúnem-se para contar, de outros ângulos, a história da mais famosa artista mexicana.
Ela foi precoce, libertária, conviveu com nomes que marcaram sua época e os conquistou – homens e mulheres –, com os quais dividiu sua vida e os quais recordou nos seus quadros. Além disso ditou moda, fez estandarte de suas dores e morreu antes dos cinquenta. Frida Kahlo tinha tudo para se tornar o mito que é até hoje – e ainda por cima tinha consciência de que o estava construindo.
Frida Kahlo morreu em 1954, com 47 anos. O seu imenso arquivo fotográfico, que fundira com o do marido, Diego Rivera, ficou nas mãos deste. Quando Rivera morreu, três anos depois, milhares de fotografias foram confiadas à guarda da amiga Lola Olmedo. Mas Rivera fez-lhe um pedido: que só fossem tornadas públicas depois de passarem 15 anos sobre a sua morte.
Só não esperava que sua amiga e testamentária, fosse ser tão zelosa guardiã dos seus segredos. Por mais de cinquenta anos, documentos familiares, artísticos, dedicatórias pessoais, lembranças do casal, e algumas feitas pela própria Kahlo" – entre os quais cerca de 6 mil fotografias – estiveram trancados na famosa Casa Azul, hoje Museu Frida Kahlo, em Coyoacán, na capital mexicana.
O fotógrafo e historiador Pablo Ortiz Monasterio escolheu 400 imagens, muitas das quais inéditas, e apresenta-as no livro "Frida Kahlo, sus fotos" (editado pela editora RM e pelo Museu Frida Kahlo, situado na Casa Azul do bairro de Coyoacán, onde a artista viveu; e no Brasil pela Cosac Naify).
As fotografias do arquivo pessoal de Frida foram organizadas em sete temas principais: “Origens”, “Papai”, “A Casa Azul”, “O corpo dilacerado”, “Amores”, “A fotografia” e “Luta política” ensejam dar conta dos aspectos que mais marcaram a biografia de Frida.
O capítulo sobre “O corpo dilacerado” (que foi o grande tema da sua pintura) e “Amores” são, ao mesmo tempo, as sessões mais e menos íntimas do livro. Começa com uma radiografia do tronco feita três meses antes da sua morte, na qual se vê a coluna desfeita depois do acidente que sofrera em 1925 a bordo de um autocarro.
“Origens”, por exemplo, ficamos sabendo que não se deve à convivência com o nacionalista Diego Rivera o gosto de Frida pelos trajes típicos que, junto com as hirtas sobrancelhas, fizeram a sua imagem tão ou mais famosa do que seus quadros. O gosto pelas vestes de tehuana, típicas de Oaxaca, foi herdado de sua mãe, Matilde Calderón.
Já debruçando-nos sobre as informações de “Papai”, aprendemos que, além de o fotógrafo Guillermo Kahlo ter proporcionado à filha o gosto pelo seu ofício, ele também lhe legou o apreço por se autor-retratar – o que para ele era uma obsessão de bastidores se tornaria um traço marcante da obra de Frida.
Há fotografias de nomes famosos como Man Ray, Brassaï ou Manuel Álvarez Bravo, e imagens de várias personalidades com as quais Frida conviveu, artistas como Edward Weston, Tina Modotti, Nickolas Muray, Pierre Verger, Marcel Duchamp ou a actriz Paulette Goddard, o surrealista francês André Breton ou o político russo León Trotski. E há também inúmeras fotografias da autoria do pai de Frida, Guillermo Kahlo, descendente de judeus húngaros e ele próprio fotógrafo. Terá sido por influência dele, um entusiasta do auto-retrato, que, depois do acidente que lhe deformou o corpo, Frida começou a pintar-se. "O tema é polémico", explica Monasterio citado pelo "El País", "porque, quando os estudiosos começaram a rever a obra dela, era habitual dizer que Diego lhe sugerira o que pintar e como. Agora, o grupo de auto-retratos do pai propõe outra perspectiva."

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