Os Cantos de Maldoror, é a obra-prima literária de Isidore Ducasse, sob o pseudónimo de Conde Lautréamont, publicada em 1870. Os Cantos de Maldoror são narrados pelo Conde de Lautréamont. Não por Isidore Ducasse. Que é ele. Ele travestido.
Como Arthur Rimbaud, Artaud ou Bréton, o Conde é um dos signos da aventura literária – um inventor, na insuperável classificação de Ezra Pound. Mais do que outros personagens criadores da literatura contemporânea, Lautréamont (ou Ducasse? ou Maldoror?) dilui em termos absolutos a sua existência no plano da literatura.
De Isidore Ducasse sabe-se que a sua curta vida é passada na primeira metade do século dezanove, e dela só podemos ter certeza pela existência de uma certidão de nascimento que nasceu em Montevideu, 1846. Sabe-se que a sua meninice foi passada no Uruguai, onde o pai era chanceler do consulado francês. Que estudou em França: primeiro como aluno interno no liceu de Tarbes, e que depois, em 1867, se muda para Paris, com o intento de ingressar na École Polytechnique – momento em que lhe perde o rasto.
Morreu em 1870, aos 24 anos, em Paris. Quase todo o resto da sua biografia é uma lacuna, ou melhor, um grande ponto de interrogação.
As suas obras completas – os seis "Cantos de Maldoror" e as duas sequências mais breves, chamadas "Poesias" – cabem num volume de tamanho médio. Trata-se de textos em prosa, escritos pouco tempo depois de, primeiro, Aloysius Bertrand e, em seguida, Baudelaire terem consagrado a idéia do "poema em prosa". Os "Cantos" são, de longe, sua criação mais célebre, enquanto as poucas páginas das "Poesias" formam, na medida em que parecem contradizer o espírito de "Maldoror", uma espécie de apêndice incómodo que tem dado lugar às mais desencontradas interpretações: seriam uma manifestação de arrependimento? deveriam ser lidas numa chave paródica? etc.
Acabados de publicar em 1869, não seriam colocados à disposição do público tão cedo, por receio do editor. Foram mais tarde recuperados do esquecimento pelos surrealistas; estes proporcionaram ao autor a celebridade de que hoje goza como clássico absoluto, tendo influenciado muitos dos grandes escritores da actualidade.
São páginas de horror corrosivo, que agarram o leitor, não o largam até à última página, e depois perduram na memória para sempre.
A banda rock Portuguesa, Mão Morta apresentaram uma performance musical e teatral, baseado nos cantos de Maldoror, em 2008. Os Mão Morta, com a ajuda de alguns cúmplices, estruturaram um espectáculo singular em que a música brinca com o teatro, o vídeo e a declamação.
Um espectáculo em que se sucedem as vozes do herói Maldoror ou do narrador Lautréamont, algumas imagens das muitas que povoam o livro, e em que se sucedem canções.
Isidore Ducasse
Conde de Lautréamont
cantos de maldoror
trad. pedro tamen
fenda, 1988
O poeta Manuel de Freitas, traduziu as Poesias I e II, em 2009. Compreende igualmente um pertinente prefácio de Silvina Rodrigues Lopes.
1 comentário:
Equivoca-se e revela completo desconhecimento quem afirma que a biografia de Isidore Ducasse, o Conde de Lautréamont, é uma lacuna. Não é verdade!
Nos colóquios internacionais é consenso entre os investigadores que sabemos muito mais acerca da vida individual de Ducasse do que sobre a vida de muitos autores contemporâneos ou da literatura universal.
Ruy Câmara
www.ruycamara.com.br
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