08/02/2010

VALTER HUGO MÃE

Os Governo, são o projecto do escritor Valter Hugo Mãe com Miguel Pedro e António Rafael, dos Mão Morta. O disco, "propaganda sentimental", saiu no final de 2009, "Estamos fartos de governos que falham, e que nos iludem." A propaganda é sentimental, porque a outra já não serve: "A única coisa que é verdade é o que vem dos afectos. Este é um governo para profundas declarações de amor, para a gestão dos corações" diz Valter.

Os portugueses podem votar: ao fazer o "download" gratuito do álbum no site da editora, "cada pessoa está a votar em nós e motiva-nos a prosseguir". Concertos só lá para Setembro. Os Mão Morta estão a gravar um novo álbum e a celebrar 25 anos de carreira, uma efeméride que não lhes permite governar.


Para os que gostam, e os que não conhecem o escritor de Vila do Conde, Valter H. Mãe, autor de "Pornografia erudita" (em Matosinhos na quinta edição da "Festa da Poesia" 2009, disse "os romances são a minha tentativa de entender o outro, ao passo que os meus poemas mais recentes acabaram por transformar-se em narrativas sobre mim e cada vez mais intrusivas, ainda por cima" vai apresentar o novo romance «A máquina de fazer espanhóis» a entrada é livre.

Valter Hugo Mãe regressa com um novo romance, "a máquina de fazer espanhóis", numa nova editora, a Objectiva (com a chancela Alfaguara), deixando para trás Maria do Rosário Pedreira, que o revelou em 2004, e Ana Pereirinha, com quem publicou os seus três romances e ao lado de quem venceu um prémio José Saramago em 2007.

"a máquina de fazer espanhóis" é dedicado ao pai de valter hugo mãe, "que não viveu a terceira idade". Numa nota final, o autor explica que o seu pai "sempre disse que morreria de um cancro antes da terceira idade": "eu achava que o meu pai era maluco". Este livro é um "e se" dessa velhice, e da velhice de valter também, explica. "Parece que estou a culpar o meu pai deste livro, não é? Este livro manifestamente fez-me sofrer um bocadinho. Mas depois de estas coisas [serem] transformadas em literatura, a minha vida fica mais ligeira. Há um lado terapêutico" Está à procura de uma salvação. Ao dedicar o livro ao pai, culpo-a "de todos estes pensamentos."

Vivemos num tempo em que ser jovem está na moda. "Admiramos profundamente as pessoas que não aparentam a sua idade", nota valter. Por exemplo: "Gostamos muito da Madonna porque aos 50 anos parece ter 35." E, no entanto, abre-se cada vez mais "um fosso entre as pessoas que poderíamos considerar no activo e as pessoas que, pelo peso da idade, se vão entregando a um conforto" - os velhos. Estamos irremediavelmente "mais distantes uns dos outros, como se fôssemos populações de diferentes planetas, de diferentes sociedades".

Isto assusta-o: a geração que hoje tem 30 ou 40 anos "vai ser muito especial quando chegar a velha, porque muito rarefeita". Somos filhos únicos, ou temos apenas um irmão, "vamos chegar mais sozinhos à terceira idade, vamos ser radicalmente menos, entregues, cada vez mais, à nossa própria sorte". Se não houver uma cultura que perceba os "mecanismos sociais de protecção da terceira idade, arriscamo-nos a chegar a velhos e termos uma velhice muito menos confortável, e até substancialmente aterradora", argumenta.



Texto no Jornal Noticias- Há três anos, Valter Hugo Mãe publicou um livro de poesia a que chamou "Pornografia erudita". Nesse mesmo ano venceu o Prémio Literário José Saramago com "O remorso de Baltazar Serapião", distinção que seria altamente improvável antes do 25 de Abril. Não porque a obra, essa, fosse susceptível de censura, mas porque a obra, a outra, teria invalidado o futuro do poeta e escritor.

O título, só por si, seria obviamente riscado; o conteúdo, sobre a virgindade de Amélia, alvo de corda na garganta e, cereja no topo do bolo, a fotografia do autor na capa, um nu frontal, motivo suficiente para que tivesse de fugir. Nada disto aconteceu em 2007. valter hugo mãe sabe portanto de cor o sabor da liberdade, escreveu, ainda menino de liceu, que "nunca desperdiçaria uma coisa tão cara" e faz jus à jura. Apesar disso, não tem a certeza de ser livre. "Quem lutou pela queda do antigo regime sonhou, talvez candidamente, que hoje viveríamos num país de pessoas livres. Se tenho dúvidas - eu, cidadão cuja consciência já se afirma em tempo de democracia -, é porque alguma coisa teima em falhar".

"Hoje também há muitas formas de redução da liberdade. São outras, mas existem", concorda. "Mas é impossível, por muito que se conte como foi, alguém poder entender a humilhação de um escritor perante a censura. É uma experiência muito dolorosa. Nunca mais voltamos a ser os mesmos", diz ele, que também a viveu no Diário de Lisboa e n'O Século. "É de tal forma cruel que aprendi a auto censurar-me. Palavrões, por exemplo, nunca os consegui empregar. Mesmo nos temas eróticos, que também eram tabu, naturalmente. Lobo Antunes, de outro tempo, emprega-os sem dificuldade". Mesmo depois do 25 de Abril "senti dificuldade em adaptar-me a uma nova escrita."

Talvez. Mas as falhas, essas que já não são a preto e branco, poderão ser comparáveis às que sentiu Urbano Tavares Rodrigues, cuja obra tantas vezes foi "cortada, truncada, apreendida" a ponto de o autor de "Uma pedrada no charco" ter julgado que nunca mais saberia escrever de outra forma que não a "codificada"?

Urbano, 86 anos, esteve preso mais vezes do que as que sabe já dizer. "Fui cruelmente tratado, fechado numa cela durante seis meses sem poder respirar luz ou sol. Isto influencia aquilo em que nos tornamos. Há coisas que não teria escrito se não tivesse sido, como fui, posto de lado". É por isso que a subvalorização da liberdade o "desaponta". Mas é também por isso que hugo mãe acredita, ou "gostaria de acreditar" na literatura enquanto ferramenta capaz de impedir que "erros fulcrais do passado não voltem a ser cometidos".


dia 10, 21h30, quarta-feira, em Lisboa, no museu nacional de arte antiga (rua das janelas verdes),
com apresentação de António Lobo Antunes.

dia 11, 21h30, quinta-feira, no porto, na biblioteca Almeida Garrett (no palácio de cristal), com apresentação da ex ministra da Cultura Isabel pires de lima.

será vendida uma tiragem especial, de capa dura, numerada e com um pequeno desenho meu, limitada a 300 exemplares (150 para venda em Lisboa e 150 para venda no porto).

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