24/10/2009

ROBERTO BOLAÑO

Roberto Bolaño é um daqueles autores cuja arte imita a vida. Nascido no Chile em 1953, mudou-se durante a adolescência com a família para o México, onde, ainda muito jovem, participou da nova cena de autores mexicanos. Bolaño voltou ao Chile em 1973, e acabou preso pela ditadura de Pinochet. Solto, outra vez foi ao México. Surge nessa época o movimento Infra-Realista, que pretendia quebrar parâmetros literários e romper com as gerações anteriores. Em 1977, muda-se para a Espanha. Apenas na metade da década de 90 Bolaño consegue começar a publicar. Começa então uma avalanche, e em poucos anos coloca nas ruas romances, novelas, colectâneas de contos e poemas. Boa parte de tudo isso abordando as conseqüências do Golpe Militar de Pinochet, caso da novela/monólogo Nocturno do Chile, e as reviravoltas das cenas literárias mexicana e chilena, caso de Os Detectives Selvagens. O último trabalho, o gigantesco (mais de mil páginas) 2666, resultou inacabado. “2666”, está nas livrarias portuguesas desde 26 de Setembro, editado pela Quetzal. Esta obra do escritor chileno (1953 – 2003), falecido prematuramente aos 50 anos, vítima de doença hepática, é considerada a sua obra-prima – Bolaño reincide em alguns dos temas de livros anteriores (os escritores, o universo da literatura, a crítica literária, a memória da ditadura), associando-os a histórias terríveis, como o assassinato de 280 mulheres numa cidade perto do deserto de Sonora, no México. À agência Lusa, Francisco José Viegas, editor da Quetzal, explicou que “2666” é “um romance grandioso, maior do que o Ulysses [de James Joyce], uma espécie de narrativa de Borges em ponto grande, que junta literatura e violência de uma forma inédita, ininterrupta, ultrapassando o puro fantástico da literatura latino-americana”. Em Portugal estão já traduzidos três livros de Bolaño: “Nocturno Chileno” (Gótica), “Os Detectives Selvagens” (Teorema) e “Estrela Distante” (Teorema). Há dois anos, os EUA descobriram a obra deste autor e assistiu-se a uma verdadeira “Bolañomania”, com o aplauso da crítica e das publicações especializadas (em 2007 o jornal “The New York Times” colocou “Os Detectives Selvagens” na lista dos cinco melhores livros publicados nos EUA). Viegas nota que Bolaño é, de facto, “uma das grandes revelações” da literatura contemporânea, e afirma que se a “Bolañomania” pegar em Portugal os leitores estarão a fazer a distinção entre a literatura e aquilo que é “a sua imitação vagamente comercial”. “Depois de ter lido Bolaño a nossa vida muda um pouco. Não se pode esquecer aquilo que ele deixou escrito, e que é uma tempestade, uma torrente, um delírio, como deve ser a literatura”, acrescenta o editor. “2666” é a primeira de uma série de obras póstumas do autor chileno que a Quetzal editou. Em Fevereiro do próximo ano será publicado, em simultâneo com a edição espanhola, o inédito “O Terceiro Reich”, seguindo-se “A Literatura Nazi na América”, “Amuleto”, “A Pista de Gelo” e “Putas Assassinas”.

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