01/07/2009

Morreu a coreógrafa Pina Bausch

A coreógrafa, que nasceu Philippine Bausch, revolucionou a linguagem da dança moderna, morreu aos 68 anos, nesta terça-feira no hospital, uma morte repentina e rápida. O site da companhia do Tanztheater de Wuppertal informa que a criadora terá sabido há cinco dias que sofria de cancro. Filha do proprietário de um restaurante e hospedaria na pequena cidade alemã de Solingen, onde nasceu em 1940, Philippine Bausch, que o mundo a conhece como Pina Bausch, começou a ter aulas de ballet ainda em criança. Mas não é certo que, para o que veio a ser o seu percurso artístico, esses anos em que aprendeu a dançar em pontas tenham sido mais relevantes do que as muitas horas diárias que passava, segundo depois contará, a observar os fregueses da pensão paterna. “O que faço não é uma arte nem uma ciência, é a vida”, disse um dia a bailarina e coreógrafa, quando o seu trabalho já era admirado em todo o mundo e ela própria tinha recebido todos os prémios e distinções possíveis, incluindo a Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago de Espada, que o Governo português lhe atribuiu em 1994. Era considerada a grande dama da dança contemporânea alemã, com um estilo expressionista único - no início da sua carreira, provocou polémica, antes de ser reconhecida mundialmente - começo da carreira era recebida com ovos podres na provinciana Wuppertal. Pina Bausch chocou o público, a crítica, e até os próprios intérpretes – “muitos abandonaram-na”, lembra o coreógrafo português Paulo Ribeiro –, com peças onde os bailarinos podiam correr pelo palco, falar, gritar, ou repetir até à exaustão o mesmo movimento. Os espectadores deixavam a sala e a crítica vociferava que aquilo não era dança.Para Paulo Ribeiro, um dos aspectos mais admiráveis da coreógrafa é a sua “determinação”, que a levou a nunca desistir da sua linguagem, mesmo quando esta foi quase unanimemente rejeitada. Pina Bausch era conhecida por criar novos estilos de dança e por contar histórias nas suas coreografias, que muitas vezes eram inspiradas nos próprios bailarinos, e criou novas formas e estilos no teatro-dança nos anos 70, que dez anos depois chegou a ter a mesma importância que o teatro falado, na Alemanha. Pina influenciou toda a dança da segunda metade do século XX. Pioneira no teatro-dança, criava coreografias que misturavam gestos quotidianos, como correr e sentar, com passos de dança - movimentos triviais como andar e sentar foram assimilados por Pina, ao lado de saltos e rodopios. "O que me interessa não é como as pessoas se movem, mas sim o que as move", disse certa vez a coreografa e bailarina. Directora artística do Teatro de Dança Wuppertal, Bausch ganhou fama internacional pelas suas performances e coreografias de vanguarda misturando dança, som e narrativas fragmentadas. "No penúltimo domingo, ela estava aqui, no palco do Teatro de Ópera de Wuppertal, com sua companhia", disse o seu site na Internet a companhia de dança e teatro, que Bausch liderava desde 1973. Diferentemente de quase todos os outros, libertou-se das estruturas tradicionais da dança, modernizou o balé clássico e cunhou o seu estilo próprio e idiossincrático", disse o vice-chanceler alemão Frank-Walter Steinmeier em comunicado. Pina Bausch coreografou e encenou as suas próprias obras, como "Café Mueller" e "Viktor", e actuou em filmes de ícones do cinema como Federico Fellini e Pedro Almodóvar. A coreógrafa vinha-se preparando para trabalhar com Wim Wenders num filme descrito como o primeiro filme de dança em 3D, intitulado "Pina". Pina Bausch iniciou seus estudos de dança aos 14 anos de idade na Escola Folkwang, em Essen, onde estudou com vários mestres, incluindo o coreógrafo expressionista alemão Kurt Jooss. Em 1960 ela foi a Nova York estudar na Juilliard School, mais tarde tornando-se membro da companhia de balé do Metropolitan Opera. Em 1962 ela retornou à Alemanha, onde se tornou solista do recém-formado Folkwang Ballett. Em 1973 ela se tornou diretora artística e coreógrafo da companhia de dança e teatro Wuppertal, que acabava de ser fundada. "Pina Bausch ampliou continuamente os limites do que chamamos de dança", comentou John Neumeier, diretor da companhia de balé de Hamburgo. "Simplesmente não consigo imaginar um sucessor para ela." A coreógrafa era presença constante nos palcos portugueses, tendo estado pela última vez em Lisboa em Maio de 2008, com "Um Festival Pina Bausch", no Centro Cultural de Belém e no Teatro São Luiz, onde voltou a dançar a histórica peça "Café Müller" (de 1978). Acompanhada por um fenómeno de paixão pelo público português, que encheu as salas durante uma semana, Pina Bausch subiu ao palco para interpretar uma surreal dança por entre as cadeiras desse café de sonho perturbador, num dramático corpo esquelético. Eram gestos de beleza de uma figura frágil e sensível, que continuava a imaginar o mundo com os olhos deslumbrados de uma criança. Pina Bausch nasceu em 1940, em Solingen, na Alemanha. Iniciou os estudos de dança em 1955, na escola Folkwang, de Essen, seguindo depois para Nova Iorque. O seu nome ficará para sempre ligado à dança-teatro, numa identidade que se começou a desenhar desde 1962, com o regresso à Alemanha e a integração da companhia de Kurt Jooss, a Folkwang-Ballet, o fundador desse encontro entre a dança e o teatro."Não sei como traduzir a dança em palavras. Mesmo não fazendo uma dança clássica, o aparato do balé é fundamental para mim." Desde 1973 que Bausch dirigia o Tanztheater Wuppertal, para o qual coreografava. Do seu extenso repertório, fica para a história uma ligação afectiva com Portugal, que se materializou na muito discutida e aclamada peça "Masurca Fogo", criada em residência artística em Lisboa em 1998. Na última vez que esteve em Lisboa, em Maio de 2008, altura em que o Centro Cultural de Belém e o Teatro São Luiz lhe dedicaram um festival, a bailarina e coreógrafa Pina Bausch ofereceu ao público o seu famoso "Café Müller" - onde dançou o belíssimo lamento da ópera de "Dido e Eneas" de Henry Purcell Engenhosa na sua maneira de conceber elementos cênicos para a dança, Bausch é um dos maiores nomes da dança contemporânea, ao lado de Martha Graham e Maurice Béjart. "O mundo da dança está de luto hoje após a perda de uma de suas representantes mais brilhantes", disse o ministro da Cultura francês, Frederic Mitterrand.

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