18/04/2009

Pomar e Joana Vasconcelos expõem juntos em Paris com peças inspiradas nos moldes originais de Rafael Bordalo Pinheiro, o Centro Gulbenkian de Paris mostra até 12de Junho a exposição 'À Moda Lá de Casa'. Júlio Pomar viu, pela primeira vez,em S. Paulo,« Contaminação » e ficou impressionado com a peça de Joana Vasconcelos e com as suas soluções plásticas.Quando a Fundação Calouste Gulbenkian o convidou a expor no seu Centro Cultural de Paris e o desafiou a associar-se a um artista português de outra geração, Pomar escolheu Joana. Havendo muito a separá-los, une-os a admiração pelas cerâmicas de Rafael Bordalo Pinheiro (que têm inspirado obras de ambos) e a capital francesa: ela nasceu lá, ele vive entre cá e lá. Assim se explica o título da exposição À Moda Lá de Casa/ À la Mode de Chez Nous, que ontem inauguraram no palacete parisiense da Avenue d'Iéna. Coincidindo com os 120 anos da apresentação de Bordalo Pinheiro (1846-1905) na Exposição Universal de Paris, esta mostra acaba também por ser uma homenagem ao criador do Zé Povinho - objecto, aliás, de vários textos de especialistas no catálogo bilingue. Foi a partir de moldes originais existentes na fábrica das Caldas da Rainha que Júlio Pomar concebeu, em 2005, as cinco peças em cerâmica que agora exibe - e que, por iniciativa da Galeria Ratton, foram então apresentadas no Museu Nacional do Azulejo. Cinco assemblages criadas pelo artista com fragmentos de várias peças, a que alterou as texturas e deu nomes de gente. José é o touro com orelhas de couve e cornos de pinças de caranguejo, Judite, a galinha com penas de peixe. Ezequiel, o gato assanhado com um corno a fazer de rabo. Joana Vasconcelos também se apaixonou pelos animais de Bordalo há quatro anos, e desde então tem trabalhado com a fábrica das Caldas, recuperando peças que há muito deixaram de ser produzidas. Respeitando as formas originais, a artista revestiu-as de crochet, introduzindo variantes de cor e padrão que alteram por completo a percepção final das obras. Há um lobo azul a uivar chamado Blueberry, um caranguejo Vizir, uma rã colorida Viúva Lamego, um sardão negro Sandman ou duas serpentes, a Suelly verde e a Giallina amarelada. 12 bichos, no total, pintados pela ceramista Elsa Rebelo, tal como os de Júlio Pomar. Confrontado com o corpo de Contaminação suspenso na grande escadaria e invadindo outros espaços, o visitante é depois surpreendido pela voz de Amália que sai do grande Coração Independente Vermelho 2, de Joana Vasconcelos, feito de talheres de plástico. Subindo a escada, os sons de animais recriados por Ana de Carvalho atraem a atenção para a sala onde, na penumbra, ressalta o bestiário concebido por Pomar. E é pelas salas contíguas, em cima de mesas ou nas paredes, que se encontram os animais ameaçadores "domados" por Joana. A montagem, diz a comissária, Lúcia Marques, evidencia "os diferentes modos de trabalhar dos dois artistas: o Júlio, de forma mais depurada; a Joana, numa lógica mais expansiva".

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