Crowley acompanhou a morte do século XIX e viveu no
período mais violento do século XX, absorvendo muito desse horror
e glamour para construir uma lenda pessoal. Foi um reconhecido
alpinista, e liderou as primeiras expedições às montanhas
Kangchenjunga, no Nepal, e Chogo Ri (ou K2), nos Himalaias, antes de
encarrilar a toda a velocidade no caminho da Magia. Em 1902, depois
de visitar o amigo ocultista Allan Bennett em Ceilão, Crowley começou
a misturar ritos orientais com o tradicional hermetismo ocidental com
o objectivo de criar um novo sistema mágico que fosse ao encontro
das suas inclinações bissexuais. Na verdade, unir o sexo à magia
não era um conceito inédito, e Crowley deveria conhecer, com toda
a certeza, os trabalhos de Paschal Beverly Randolph (que sentia um
pavor patológico pela masturbação, prática fundamental na disciplina
de Crowley) e de Alice Bunker Stockham (que desenvolveu o método
Karezza: doutrina mais cúmplice da profilaxia que da magia, mas
que, mesmo assim, advoga a sacralização do orgasmo). Nas sociedades
iniciáticas criadas ou lideradas por Crowley, como a Argenteum Astrum
(fundada após a sua saída da Hermetic Order of the Golden Dawn) e a
Ordo Templi Orientis, o misticismo que serve de cola social aos neófitos
encontra-se impregnado de ritos de natureza sexual.
David Soares
Sem comentários:
Enviar um comentário